A série de matérias sobre os cenários pré-eleitorais nas principais cidades do Espírito Santo publicada por A Gazeta na última semana mostrou que sobram interessados em concorrer às prefeituras em 2020. A variedade de opções a um ano das eleições é explicada, de um lado, pela necessidade de políticos propagandearem-se como relevantes e, de outro, por consequência das novas regras eleitorais. A avaliação é de dirigentes partidários e de pré-candidatos ouvidos pela reportagem.
Com o fim das coligações para a disputa por cadeiras nas câmaras municipais, políticos estão preocupados com permanecer ou retornar aos mandatos. Por isso, alguns apostam que a estratégia de lançar candidatos a prefeito pouco competitivos apenas para "empurrar" candidatos a vereador poderá ser bastante popular no ano que vem.
Pré-candidatos a vereador e a prefeito explicam que quando um partido lança alguém para concorrer à prefeitura acaba por ajudar seus candidatos a vereador, e vice-versa. Quando a agremiação sabe não dispor de candidatura competitiva (e elas sabem) pode usar uma parte da estrutura do candidato a prefeito para ajudar os que buscam cadeiras de vereadores.
"Quando eu tenho um candidato a prefeito vem um dinheiro maior. Aí pode usar para os vereadores, vinculando a campanha do prefeito com a dos vereadores. Eu acho que, em 2020, os vereadores vão querer candidato a prefeito porque isso implica a chegada de mais recursos", analisou um experiente político de Vitória, sob anonimato.
O interesse dos vereadores não é apenas no dinheiro público para a campanha. Ter um candidato a prefeito pode, literalmente, render votos aos que concorrem para vereador. É que disputas por cargos executivos tradicionalmente são as que verdadeiramente envolvem os eleitores. Os candidatos aparecem na TV, participam de debates. Assim, têm mais espaço para defender bandeiras, marcar posição.
E, marcando mais posição, criam a chance de transferir os eleitores que conquistam para os candidatos a vereador. Isso se dá, admitem os políticos, tanto por votos em candidatos proporcionais específicos quanto por meio do voto de legenda - que é quando o eleitor opta por votar em um partido, sem digitar um número de um candidato na urna.
"A candidatura a prefeito traz vantagens porque ela dá um 'up' no voto de legenda tanto porque a pessoa vai querer eleger alguém da chapa ou porque vai ter mais voto de legenda. Isso é forte nos partidos de esquerda", confirmou um dirigente partidário que lançará candidato a prefeito na Capital.
Essas estratégias sempre fizeram parte dos cálculos dos caciques políticos. Mas agora, com o fim das coligações, há quem veja essas táticas como urgentes. Como as siglas não poderão se juntar, todo o desempenho caberá ao conjunto da chapa própria de cada um. "Eu tenho que ajudar os candidatos do meu partido, não faz mais sentido eu apoiar alguém em vez de ter um candidato a prefeito", comentou um dirigente de partido.
Em 2016, PPS, SDD, MDB, PT e PSOL lançaram candidatos à Prefeitura de Vitória. Esses cinco partidos estão entre os sete que mais receberam votos de legenda na Capital. Os números oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são os seguintes: SDD, 2.459; PPS, 1.789; PMDB, 869; PT, 697; PSDB, 424; PDT, 423; PSOL, 286. Os dois primeiros partidos tinham os candidatos que foram para o segundo turno, Luciano Rezende (PPS) e Amaro Neto (ex-SDD, hoje no PRB).
O pleito de 2016 foi o primeiro realizado nos municípios com a proibição do financiamento eleitoral. Em Vitória, o dinheiro repassado por partidos foi a principal fonte de financiamento. De toda a receita obtida pelos cinco candidatos, 78% foi repasse partidário.
Esse recurso público existiu em montante significativo mesmo nas candidaturas que se mostraram menos competitivas, como por exemplo as de Lelo Coimbra (84,4%), Perly Cipriano (32,2%) e André Moreira (84,4%).
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