A Polícia Federal (PF) identificou indícios de que recursos provenientes de desvios na Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) foram usados para despesas pessoais da senadora Rose de Freitas (MDB), como a quitação de boletos de imóveis e fatura de cartão de crédito. A investigação, que culminou na Operação Corsários, em maio, está sob sigilo. As informações sobre o inquérito foram obtidas pelo jornal O Globo.
A parlamentar capixaba nega ter praticado qualquer irregularidade e afirma que as suas contas foram pagas de forma lícita e regular.
Em 12 de maio, a PF deflagrou a operação para investigar a atuação de uma organização criminosa com atuação na estatal administradora do Porto de Vitória, formada por pessoas que atuavam em cargos-chave da empresa, permitindo interferência nas licitações, superfaturamento e desvio de dinheiro público.
Na ocasião, dois mandados de prisão temporária e dez mandados de busca e apreensão foram cumpridos em residências e empresas no Espírito Santo, nos municípios de Vitória, Cariacica e Serra, e também em Brasília. Entre eles, endereços da senadora.
Edward Dickson de Freitas, irmão da senadora Rose de Freitas, e Ricardo Saiter Mota, primo e assessor parlamentar dela, foram presos. Edward era coordenador de serviços gerais e Ricardo era coordenador de marketing na Codesa. Os dois foram exonerados em 2019, quando houve mudança no comando da companhia. Eles já foram soltos.
As transações financeiras suspeitas foram descobertas pela PF após a quebra do sigilo bancário de Edward e Ricardo. De acordo com O Globo, a partir dos dados do inquérito sigiloso, os investigadores encontraram indícios de que empresas com contratos com a Codesa seriam pressionadas a pagar propina para os dois ex-funcionários da estatal, que usariam os recursos arrecadados para quitar despesas da senadora.
Após analisar e-mails e movimentações financeiras dos suspeitos, a PF descobriu que o gabinete de Rose encaminhou para Edward e Ricardo boletos referentes a pelo menos três imóveis. O mais caro deles foi uma conta de R$ 300 mil, relativo a uma parcela da compra de um imóvel no Rio de Janeiro.
Os dois familiares da senadora, de acordo com a investigação, também teria recebido outro boleto de R$ 38 mil, relacionado a um imóvel em Vila Velha. Ricardo também pagou um boleto de aluguel de R$ 7.667,05 de um imóvel na Barra da Tijuca, no Rio, onde moraria a filha de Rose.
Os investigadores localizaram ainda e-mails nos quais a parlamentar encaminhou outras despesas pessoais para Ricardo, como um boleto de um cartão de crédito e uma fatura de agência de turismo.
Ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) disse haver "possibilidade concreta da existência de uma organização criminosa" que, por diversos anos, "permaneceu instalada no interior de empresa pública".
Procurada pelo jornal O Globo, a defesa de Rose de Freitas negou irregularidades e disse que as despesas da senadora foram pagas com recursos lícitos e regulares, sem ter ocorrido qualquer conduta irregular por parte da parlamentar.
"Em respeito ao sigilo determinado pelo Ministro Nunes Marques no âmbito da citada investigação, entretanto, a defesa não fará comentários específicos sobre os trechos dos documentos vazados, supostamente contidos naquele inquérito", afirmaram os advogados Thiago Fleury e Marcelo Bessa, responsáveis pela defesa da senadora, por nota.
Edward foi procurado por meio do telefone celular dele, mas não retornou ao jornal. O Globo também pediu esclarecimentos a Ricardo Saiter por meio da assessoria do gabinete da senadora, que informou não poder intermediar o contato.
A investigação teve início a partir de uma denúncia de exigência de vantagens ilícitas por servidores da Codesa em um contrato de locação de veículos. Os crimes teriam acontecido entre os anos de 2015 e 2018, com direcionamento de certames e desvio de recursos públicos dos contratos firmados com as prestadoras de serviços.
De acordo com a PF, a Codesa estima que somente em dois dos contratos auditados a organização criminosa pode ter desviado cerca de R$ 9 milhões. Os valores são fruto de uma auditoria realizada pela atual gestão.
Para receber os recursos desviados, ainda conforme a PF, o grupo investigado utilizava um escritório de advocacia, responsável por simular a prestação de serviços advocatícios para lastrear a movimentação dos valores. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos, em maio, nesse escritório, que não teve o nome divulgado.
A lavagem do dinheiro ilegal também ocorria por meio da compra de imóveis de luxo e do pagamento de despesas pessoais dos envolvidos, segundo a polícia.
As nomeações feitas pela parlamentar ocorreram durante a gestão de 2015-2018, devido à influência política que a senadora tinha na estatal, indicando nomes para ocupar cargos comissionados.
No dia da operação, a senadora Rose de Freitas negou ter cometido qualquer ato ilícito durante os oito mandatos que exerceu no Parlamento. Ela disse ter sido surpreendida pela ação da Polícia Federal no apartamento em Brasília e pela prisão do irmão e do assessor parlamentar.
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