Na última quarta-feira (9), um dia depois do Dia Internacional da Mulher, o vereador bolsonarista Gilvan da Federal (Patriota) mandou a colega parlamentar Camila Valadão (Psol) "calar a boca" e "ficar quietinha" durante uma sessão na Câmara de Vitória.
O episódio não é o primeiro. Em dezembro do ano passado, Gilvan ofendeu professores da rede pública e novamente mandou a vereadora psolista calar a boca. Ainda em 2021, dessa vez no dia 8 de março, ele disse que a roupa da colega não era apropriada.
A escala de falas agressivas foi criticada por políticos capixabas e de outros estados. O deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil - ES) manifestou solidariedade à vereadora e classificou o comportamento do legislador municipal como “nojento”.
A vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes (PSB), disse que o que aconteceu é “mais um episódio inaceitável”.
Para a vereadora da Capital Karla Coser (PT), quando uma mulher é silenciada, todas as outras são impactadas pelo mesmo ato.
A Comissão da Mulher Advogada (OAB-ES) também fez uma manifestação contra o ato praticado pelo vereador de Vitória em um evento realizado nesta sexta-feira (11). Em coro, as integrantes da comissão, a vice-governadora Jacqueline, Karla e Camila entoaram "cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu". O vídeo foi publicado nas redes sociais.
Também em sua página na rede social, o PSB Vitória disse que Gilvan agiu, novamente, de “forma machista”.
O fato também chamou a atenção da deputada federal Fernanda Melchionna (Psol-RS). Em um gesto de apoio à colega de partido, a parlamentar sulista incentivou que Camila continue falando.
A discussão aconteceu na sessão ordinária da última quarta-feira (9), data posterior ao Dia Internacional da Mulher. Na ocasião, Gilvan discursava sobre uma decisão do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) acerca de um posicionamento dele em sessão.
Em seguida, ele rasga uma nota de repúdio, que, segundo o vereador, foi redigida pelo Conselho Municipal de Educação de Vitória (Comev), e lança os pedaços no chão da Casa de Leis. Após isso, ele diz aos servidores que vai recolher os resíduos.
Alegando que havia sido interrompido por Camila, o vereador bolsonarista então manda ela se calar.
O presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), fez uma intervenção e pediu que Gilvan preze pela “política dos bons costumes”. O parlamentar bolsonarista rechaçou a ideia.
À reportagem, a vereadora Camila Valadão explicou que a mesa que ela usa é a primeira da fila, de frente para Gilvan.
Em seguida, Camila interrompe o vereador dizendo "você não vai me mandar calar a boca", usando o microfone. “E foi quando ele começou a gritar ainda mais e o presidente da Câmara decide intervir”, relembra a parlamentar.
Por nota, o vereador Davi Esmael, disse que discorda da conduta do colega. No documento, o presidente alega que fez a intervenção para “cobrar maior cuidado na relação com os demais, com intuito de garantir o direito à fala de todos, o debate respeitoso de ideias e a fluidez dos trabalhos da Câmara de Vitória”, finaliza.
Procurado pela reportagem, o vereador Gilvan da Federal afirmou, por meio de nota, que os fatos ocorridos "não passaram de um embate normal entre parlamentares em que, a vereadora do Psol incorreu em uma infração ao regimento interno da Casa de Leis quando interrompeu o vereador".
Na nota, Gilvan ainda afirma que Camila e Karla Coser, "para criar narrativas inexistentes, interrompem o vereador de forma desrespeitosa e antirregimental para, tentar, posteriormente, levar à mídia de forma distorcida situações que verdadeiramente não se sustentam".
"Ademais, há de se lembrar que o vereador é inviolável por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato como assim destacou o presidente da Casa", diz ainda um trecho da nota.
A vereadora Camila Valadão (PSOL) diz que vai denunciar o vereador na Corregedoria da Casa.
“Vamos protocolar mais uma denúncia, mas é mais uma de outras 10 que estão lá e só uma até hoje foi acolhida. Ali dentro da Câmara, a gente não vai ter uma resposta. Acho absurdo as instituições capixabas permitirem que essa violência aconteça dentro de uma Casa Legislativa, é a Câmara da Capital”, ressalta.
Camila reclama que "as mulheres enfrentam a violência política há muito tempo nesses espaços e isso não é um caso isolado". "Quando eu sou interrompida na tribuna, o que acontece com frequência, eu não mando meu colega calar a boca. Ele não faz isso com os vereadores homens", analisa.
O corregedor da Câmara, vereador Anderson Goggi (PTB), disse que até a noite desta quinta-feira (10) não havia recebido nenhuma denúncia ou pedido de investigação da conduta do colega parlamentar.
Segundo ele, quando isso acontece, a Corregedoria pauta e distribui a denúncia para que seja definido quem será responsável pela relatoria, que decide se o pedido será deferido ou não.
Gilvan da Federal também afirmou que iria entrar com representação junto à Corregedoria contra os acontecimentos, por entender que foi interrompido pela vereadora de "forma desrespeitosa e antirregimental".
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