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Pontos de vista: os impactos do discurso de Bolsonaro na ONU

Pontos de vista: os impactos do discurso de Bolsonaro na ONU

Críticas ao "socialismo", ao "globalismo", à "ideologia" e a líderes mundiais fizeram parte das declarações. A Gazeta ouviu dois especialistas com diferentes pontos de vista sobre o assunto

Publicado em 24 de setembro de 2019 às 21:33

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Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. . (Alan Santos/PR)

O discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na ONU, nesta terça-feira (24) não destoou do que ele diz desde a campanha eleitoral: críticas ao socialismo, que ele vê à espreita no Brasil em pleno século XXI, ataques à "ideologia", isentando-se de possuir uma, e alfinetas em líderes internacionais, como o da França, Emmanuel Macron, ainda que não tenha mencionado o nome dele.

A Amazônia, que ardeu em chamas, chamando a atenção internacional, também fez parte da explanação do presidente, assim como a questão indigenista. E aí? Pegou bem? Pegou mal? Claro que eleitores de Bolsonaro podem ter uma visão mais positiva do que quem não é. Mas o discurso foi feito na ONU, para chefes de Estado, e com repercussão na imprensa internacional.

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Por isso, A Gazeta ouviu dois especialistas em Relações Internacionais. Um deles avalia que as palavras de Bolsonaro ressoaram como vindas de um tempo já ultrapassado, a Guerra Fria, e dialogam, basicamente, como o eleitorado convicto dele, que não é bem o público que compareceu à Assembleia Geral da ONU.

O outro, por sua vez, não considerou o discurso agressivo, termo presente em várias das análises feitas no país e fora dele. E minimizou possíveis efeitos práticos na economia. Confira:

"A IMPRESSÃO É QUE ELE VIVE NA GUERRA FRIA"

O discurso foi a síntese da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro e voltado ao seu eleitorado, ou ao que sobrou de seu eleitorado convicto. É um discurso que, apesar de ter tido intenção de resgatar a confiança internacional, faz o contrário.

A impressão é que ele vive ainda na Guerra Fria, falou de socialismo cinco vezes, e de ideologia, como sinônimo para socialismo, quatro vezes. Atacou a imprensa internacional por cinco vezes e usou o termo colonialismo, em especial voltado à França, por três vezes. Está mais preocupado em procurar um inimigo que justifique suas ações do que em buscar inserção internacional.

Não me lembro de outro presidente brasileiro que fizesse críticas tão ferrenhas e fosse à ofensiva contra outros países como foi hoje (ontem).

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O impacto prático é que ele está minguando o soft power brasileiro, esse poder suave que é usado quando o Estado não tem poder militar. Usa carisma, colaboração internacional. Ele mostra que não está a fim de cooperar, apesar de ter falado isso no fim do discurso. Diz querer fazer parcerias. Com quem? Sobre o que? Quando? Não fala.

O discurso de soberania em relação à Amazônia cola para o eleitorado dele. Se a Amazônia é o pulmão do mundo ou não é uma discussão inócua. Houve queimada muito maior que no ano anterior, ele sabe que isso ocorreu porque ele flexibilizou a fiscalização e a legislação e está tentando se esquivar disso.

Aproveitou-se de um discurso infeliz do Macron de a Amazônia é um bem mundial. Agora, isso de estrangeiros que querem a Amazônia é uma paranoia. Vinte anos atrás era paranoia da esquerda no Brasil, ironicamente. 

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Mas se alguma empresa ou algum país quiser boicotar produtos brasileiros o motivo não vai ser esse discurso. Tem uma série de ações do governo que podem provocar isso. O discurso é só a cereja do bolo. 

Daniel DuarteCoordenador do curso de Relações Internacionais da UVV

"FOI UM DISCURSO FIRME, MAS NÃO TEVE NADA DE AGRESSIVO"

É um discurso que tem eixos fundamentais. Um bem claro é mostrar que tem uma visão, assim como o Trump, que veio logo depois dele, parece que em dobradinha, de defesa da soberania. Os dois reafirmam visões soberanistas, de que não vão aceitar interferências externas, do que eles chamam de globalismo, instituições supranacionais tentando interferir na agenda de vários países com burocratas não eleitos.

Outro eixo claro a foi crítica feroz ao passado socialista de países na América Latina, criticou o governo do PT, bateu muito nos governos passados, que criaram cenário de crise econômica e corrupção. Se colocou como alguém que está lutando para colocar o país nos trilhos.

Outro ponto de destaque foi a crítica à Venezuela, chamando de regime ditatorial. E por fim a crítica que ele fez ao sensacionalismo feito à questão da Amazônia. Refutou notícias falaciosas, como a bobagem sobre o pulmão do mundo. E uma critica indireta ao Macron, colocando o dedo na ferida, embora não falando o nome dele.

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Em geral, teve firmeza, mas não pegou tão pesado, não teve nada de agressivo. Foi firme, objetivo, mandou mensagem clara de que faz um governo de recuperação nacional e com visão antiglobalista. Em termos de investidores, o discurso não tem peso tão forte. A Assembleia Geral da ONU é basicamente consultiva, não decide nada.

Nas mídias que são contra o presidente ele pode falar qualquer coisa que vão criar manchete negativa. É cedo para dizer, mas na minha opinião o impacto do discurso (no comércio internacional) é irrelevante. Nem um país, vendo vantagem competitiva para negócios, vai considerar o que ele falou no discurso.

Ele marcou posição, que não é novidade, de um presidente soberanista, que não vai se curvar à agenda globalista, se alinha ao modelo do presidente americano, é isso.

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Helvécio de Jesus Júnior - professor de relações internacionais da UVV

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