Em nível nacional e estadual, os resultados do primeiro turno das eleições de 2022 se distanciaram dos cenários apontados nas pesquisas eleitorais sobre os votos da direita conservadora, em especial dos bolsonaristas. Enquanto os votos da ala de esquerda permaneceram constantes, variando dentro da margem de erro das pesquisas, as intenções de votos para o presidente Bolsonaro e para os candidatos apoiadores dele destoaram do resultado das urnas.
Uma das explicações para essa discrepância, na visão de analistas, é a resistência de eleitores de direita às pesquisas. Os próprios candidatos da direita tendem a estimular que os eleitores não respondam ao questionário. Além disso, ficam ocultos, nas pesquisas, os “eleitores envergonhados”, que não querem admitir o voto em determinado candidato, por terem medo de julgamento ou por outra razão.
No caso das pesquisas nacionais, principalmente, o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Marcelo Vieira observou que existe, ainda, outro componente. O eleitor relutante, que acaba optando pelo chamado voto útil.
“A expectativa que se tem é que o percentual de ganho obtido por Bolsonaro é exatamente a porcentagem de votos da terceira via que estavam previstos de acontecer no segundo turno. É parte dos eleitores que iria votar na terceira via no primeiro turno e decidiu recuar e fazer o voto útil no Bolsonaro. Mas o mesmo não aconteceu com Lula. Tanto que não variou muito o resultado do Lula, em relação ao que estava previsto nas pesquisas. E é possível que isso tenha se replicado nos Estados.”
Isto é, o eleitor poderia ter optado por outro candidato, mas, ao perceber, nas pesquisas, que havia pouca chance de uma vitória, acabava decidindo, em alguns casos, de última hora, votar no candidato que tinha mais chance de derrotar o que rejeita mais fortemente.
“O eleitor que está na dúvida, que pensa em votar em uma terceira via no primeiro turno, mas vê que o Lula pode ganhar no primeiro turno, pode acabar mudando de opinião para ganhar no segundo turno porque não quer Lula de jeito nenhum.”
Em outro nível, Vieira observa ainda que a desconfiança em relação às pesquisas, fomentadas até mesmo pelos candidatos, também afeta os resultados.
“Há algumas diferenças de métrica entre as pesquisas, mas todas elas erraram para menos o desempenho dos resultados bolsonaristas. Talvez estivessem captando mal o desempenho dos eleitores envergonhados bolsonaristas, que decidiram, de última hora, votar nele e nos candidatos que o apoiam. O eleitorado de esquerda teve um comportamento mais esperado. Agora resta saber o que virá de novas metodologias para captar por que o eleitor que está em dúvida não revela, de forma alguma, em quem votaria, se não houvesse nenhuma outra opção.”
A cientista política e professora da Ufes Marta Zorzal defende, ainda, que as pesquisas sejam mais amplas, buscando entender o contexto em que as eleições acontecem e os diferentes eleitores.
“As pesquisas vão ter que repensar suas estratégias. O fato de o governo ter a máquina pública na mão, ajuda. Mas é preciso dar atenção às pautas que o Brasil discute atualmente, pautas de costume, religiosas. O eleitorado evangélico é muito grande e é uma área em que a esquerda tem pouca penetração. Religião e política são questões que precisam ser mais bem estudadas.”
A pesquisadora pondera que essa conexão costuma ser ainda mais forte no interior, e que as amostras coletadas precisam ser mais abrangentes.
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