As manifestações de 7 de setembro foram marcadas pela exibição de cartazes, faixas e outros símbolos de apoio ao governo. Em meio às ondas verde e amarela que tomaram conta da Grande Vitória, destacou-se ainda uma bandeira, das mesmas cores, mas não exatamente igual ao estandarte adotado atualmente. Trata-se da bandeira do Brasil Império, que deixou de ser utilizada oficialmente ao final de 1889.
Em 19 de novembro daquele ano, o então chefe do governo provisório, Marechal Deodoro da Fonseca, adotou a bandeira atual — embora com menos estrelas que hoje —, que se tornaria o mais importante símbolo da recém-criada República.
A flâmula anterior foi utilizada entre 1822 e 1889. Entretanto, mais de 130 anos depois da proclamação da República, a bandeira do Império voltou a ser observada em manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Desenhada pelo francês Jean-Baptiste Debret, a bandeira do Brasil imperial, de formato retangular e com fundo verde, tinha no centro um losango amarelo; dentro dele, o brasão nacional.
O retângulo representa o masculino, e o verde indica a casa real dos Bragança, referindo-se a Dom Pedro I, o primeiro imperador do Brasil. O losango remete o feminino e o amarelo à casa de Habsurgo, da imperatriz Dona Leopoldina.
A esfera armilar e a cruz de Cristo são símbolos de Portugal. O Brasil, por sua vez, aparece nos ramos de café e de tabaco, importantes produtos de exportação, cultivados e beneficiados principalmente por mão de obra escrava. Acima destes, é exibida uma coroa de diamantes em alusão à coroa imperial.
Em um artigo publicado na plataforma Medium, os historiadores Adriano Comissoli e Hugo Araújo, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pontuam que a valorização desses símbolos do passado é idealizada e mobiliza grupos que atribuíram ao império de Dom Pedro II (de 1840 a 1889) um tempo áureo.
“Precisa de muito esforço para enxergar no Brasil escravista e agrário do século XIX uma nação justa e livre da corrupção", escreveram, acrescentando ainda: “Essa busca por símbolos antigos é a tentativa de construir uma legitimidade. A bandeira imperial, por exemplo, tenta associar-se à independência e ao surgimento do Brasil como nação. Parecem esquecer que a bandeira traz símbolos ligados quase que exclusivamente ao imperador.”
Além desta vertente, o historiador e cientista político João Gualberto observa que embora o presidencialismo tenha sido adotado, há mais de um século, como regime de governo, nunca houve uma desistência por completo da ideia de uma monarquia.
“No final da vida, Dom Pedro falava também no parlamentarismo, ou monarquia parlamentar, em que o monarca seria uma espécie de presidente perpétuo, mas com um apoio de um primeiro ministro e de um parlamento, como ocorre na Inglaterra.”
Ele observa que a subida de Bolsonaro ao poder trouxe de volta anseios semelhantes, sendo que muitos de seus apoiadores são defensores da ideia de uma monarquia brasileira, dentre eles o antigo “guru do governo”, Olavo de Carvalho.
Gualberto observa ainda que o próprio “pretendente a príncipe”, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, descendente de Dom Pedro I e II, é deputado federal pelo PSL, mesmo partido que elegeu Bolsonaro em 2018.
“Como movimento, é um movimento regressionista. Prega-se pelo retorno ao passado, pela volta do movimento militar, da bandeira imperial, entre outros elementos. É um movimento apoiado principalmente por pessoas mais velhas, inclusive heróis do passado, embora também haja muitos jovens se apropriando atualmente.”
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