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Por que partidos adversários se unem nas eleições? Veja casos no ES

Por que partidos adversários se unem nas eleições? Veja casos no ES

Legendas de vieses políticos divergentes tendem a formar alianças visando a objetivos comuns, o que é mais habitual em pleitos municipais

Publicado em 9 de agosto de 2024 às 04:00

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Acordo partidos políticos
Interesses locais podem unir partidos com ideologias divergentes. (Freepik)

Partidos que historicamente se posicionam em lados opostos do debate ideológico colocaram suas divergências de lado, pelo menos até que seja finalizado o processo eleitoral deste ano, para se unirem em torno de um projeto único: eleger seus candidatos, especialmente os que disputam cargos de prefeitos em cidades do Espírito Santo.

Nas Eleições 2024, o Estado conta com diversos exemplos de alianças partidárias entre legendas de ideológicas opostas visando ao apoio a candidaturas majoritárias.  No rol de casos, o que mais se destaca, até agora, é o do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), candidato à reeleição.

Conhecido no mercado político por sua facilidade de transitar e dialogar com diversas frentes partidárias, o chefe do Executivo cariaciquense conseguiu reunir em seu palanque um total de 15 legendas. A ampla coalização em prol de Euclério tem siglas consideradas de direita, centro-direita, centro e esquerda.

O candidato do MDB, definido como um partido de centro, deverá ter em sua coligação: PSB, PDT, Podemos, Republicanos, Agir, Novo, União, PMB, PSDB, Cidadania, PRD, PP, PSD, PDT e Solidariedade.

Quem também conseguiu juntar um leque variado de partidos até então considerados adversários no campo ideológico, foi o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo. Disputando a permanência no comando da cidade por mais quatro anos pelo Podemos, o mandatário tem PSB, MDB, Republicanos, Novo, PRD, DC, Agir, PMB, PDT, União Brasil e PSD chancelando seu nome no pleito.

Adversários históricos na mesma chapa e palanque

Por muitos anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin protagonizaram duelos em território nacional em busca da Presidência da República. À época Alckmin pertencia ao PSDB, legenda que por um longo período foi responsável por abrigar praticamente toda a direita brasileira, enquanto, por outro lado, Lula fazia parte do PT, partido que se consolidava como principal referência da esquerda no país.

Em 2022, o mercado político se surpreendeu com a união desses dois nomes para disputar as eleições gerais. Após 33 anos no ninho tucano, Alckmin saiu do PSDB e se filiou ao PSB para ser vice na chapa petista.

No pleito deste ano, uma cidade capixaba coloca PT e PSDB no mesmo palanque. A candidatura de Fabrício Machado (PV) a prefeito de Viana foi lançada pela federação formada, desde 2022, por PT, PV e PCdoB, tendo como vice o tucano Marcelo Marchesi, indicado por PSDB e Cidadania, que também estão federados.

Pragmatismo político e jogos de interesses

As alianças consideradas improváveis entre partidos adversários, além do pragmatismo político, podem envolver, ainda, interesses por apoio financeiro e até a busca por crescimento na carreira política.

Conforme Felipe Savelli, pesquisador do Laboratório de História das Interações Político-Institucionais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o acesso ao Fundo Eleitoral, neste ano avaliado em R$ 4,9 bilhões e destinado ao financiamento das campanhas partidárias, é um dos principais motivadores dos acordos entre legendas de vieses ideológicos divergentes.

Ele explica que terá uma fatia maior da verba distribuída entre as siglas pela Justiça Eleitoral a candidatura que conseguir o maior número de legendas em sua base de apoio. O mesmo vale para o tempo de propaganda eleitoral na TV: quanto mais partidos aglutinados em seu arco de aliança, maior será o tempo de exposição do candidato na propaganda televisionada.

"O Fundo Eleitoral e o tempo de televisão são determinantes para essas alianças, principalmente quando um grande partido não tem candidato a majoritária. Com isso, logo os outros partidos buscam fechar aliança com ele", pontua Savelli.

No que se refere às vantagens pessoais buscadas com esse tipo de aliança partidária, o pesquisador da Ufes assevera que "isso ocorre quando o personagem político em questão tem capacidade de alocar um número considerável de apoio, em termos de votos", e faz uso disso para pedir favores em troca de seu capital eleitoral.

Fluidez permite alianças

Marcos Woortmann, cientista político e coordenador de Políticas Ambientais do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), por sua vez, aponta que a união envolvendo siglas de lados opostos do campo político reflete "uma fluidez muito notória entre agrupamentos partidários diferentes". 

Esse cenário de flexibilidade abre espaço para costuras e articulações políticas pautadas nos interesses, políticos e pessoais dos envolvidos nesses arranjos, de acordo com Woortmann.

"Agora nas eleições municipais, vamos ver diversos exemplos nos quais essa maleabilidade vai seguir sendo costurada conforme as conveniências e possibilidades de eleição, para muito além de percepções de coerência ideológica", conclui.

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