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Possível 'cartada' na Assembleia do ES, voto secreto é ilegal, diz procuradoria

Possível 'cartada' na Assembleia do ES, voto secreto é ilegal, diz procuradoria

Deputados que apoiam Vandinho Leite na disputa com Marcelo Santos pela presidência da Casa cogitavam possibilidade de voto secreto na escolha da Mesa Diretora

Publicado em 27 de janeiro de 2023 às 21:38

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Os deputados estaduais Vandinho Leite e Marcelo Santos
Os deputados Vandinho Leite (PSDB) e Marcelo Santos (Podemos) querem concorrer a presidente da Ales. (Lucas S. Costa e Ana Salles/Ales)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

A realização de votação secreta para definir quem vai comandar a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) contraria a legislação vigente, de acordo com parecer emitido pela Procuradoria da Casa. A manifestação frustrou as expectativas do grupo liderado pelo deputado estadual Vandinho Leite (PSDB), que pretendia usar o voto secreto como “cartada final” para tentar vencer a disputa contra a chapa apoiada pelo governo do Estado e encabeçada pelo deputado Marcelo Santos (Podemos).

Os deputados que apoiam Vandinho na disputa, em especial os reeleitos Hudson Leal (Republicanos) e Theodorico Ferraço (PP), passaram a citar em entrevistas a possibilidade de voto secreto na escolha da Mesa Diretora da Casa, marcada para a próxima quarta-feira (1º), apesar de a previsão de voto aberto e nominal estar na Constituição Estadual e no Regimento Interno da Ales para a eleição da Mesa.

A possibilidade de votação secreta começou a ser disseminada pelo grupo de Vandinho ao longo desta semana, segundo informações de bastidores, visando mostrar força e provocar insegurança no bloco governista liderado por Marcelo Santos. Isso porque, sem precisar dizer em alto e bom som em quem votariam, alguns parlamentares da base governista estariam dispostos a votar no deputado do PSDB, em vez do candidato apoiado pelo governador Renato Casagrande (PSB).

Entretanto, o parecer da Procuradoria da Assembleia, em consulta apresentada pelo deputado Marcelo Santos, afirma que a referência utilizada pelo grupo de Vandinho não se aplica à eleição da Mesa. 

Possível 'cartada' na Assembleia do ES, voto secreto é ilegal, diz procuradoria

Os parlamentares se baseavam em decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou inconstitucionais dispositivos da Constituição do Estado do Espírito Santo e do Regimento Interno da Ales que previam votação aberta para a escolha de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES).

Nesse caso, a votação na Assembleia para escolher conselheiro do TCE-ES deverá ser secreta, pois o Supremo enfatizou que o processo deve seguir o modelo previsto na Constituição Federal para a composição do Tribunal de Contas da União (TCU). A Carta Magna traz textualmente, em seu artigo 52, inciso III, b, que compete ao Senado a aprovação, por voto secreto, dos ministros do TCU indicados pelo presidente da República.

Seguindo esse entendimento do STF como parâmetro, os deputados apoiadores do candidato do PSDB passaram a especular a possibilidade de levar a votação da Mesa Diretora para discussão na Suprema Corte, já que a eleição das mesas das duas Casas do Congresso Nacional — Senado e Câmara dos Deputados — ocorre com votação secreta e cédulas em papel.

No entanto, diferentemente da escolha de ministro do TCU — que é secreta por previsão constitucional —, a eleição para o comando do Senado e da Câmara Federal se dá por votação secreta com base nos regimentos internos das duas Casas. A Constituição Federal não tem nenhum dispositivo que trata especificamente sobre o formato da votação para a eleição das mesas.

Já a eleição para o comando da Assembleia Legislativa do Espírito Santo tem previsão de voto aberto e nominal desde 2003, quando foram aprovadas emendas à Constituição Estadual e ao Regimento Interno da Ales, depois de um período político conturbado no Legislativo estadual. As regras estão previstas no artigo 58, § 8º, da Constituição do Estado e no artigo 9º do regimento interno.

Resposta

De acordo com o parecer jurídico na consulta, “encontra-se pacificado no STF o entendimento segundo o qual matérias de natureza tipicamente regimental, mormente aquelas que não têm previsão expressa na Lei Maior, como no presente caso, não estão sujeitas a sindicabilidade do Poder Judiciário”.

O procurador-geral da Ales, José Arimathea Campos Gomes, conclui que não há qualquer lacuna, dubiedade ou ambiguidade de sentido nos dispositivos legais que preveem votação nominal e aberta para a eleição da Mesa Diretora da Ales.

Ele acrescenta que, ao contrário disso, os dispositivos "são de clareza solar e asseguram, de modo irrefutável, a obrigatoriedade de que o voto para a eleição da Mesa Diretora não se faça em sigilo pelo escrutínio secreto e, sim sob o signo da transparência, assegurando-se a toda sociedade ampla fiscalização social tão salutar a prática republicana nas democracias".

A disputa

Conforme a legislação, é o deputado mais idoso quem comanda a sessão de eleição da Mesa Diretora da Ales. Por isso, o deputado Theodorico Ferraço, de 85 anos, é quem vai presidir a sessão no próximo dia 1º, às 15 horas. Aliado de Vandinho, ele declarou guerra ao governo depois que Casagrande revelou apoio a Marcelo Santos na disputa pela presidência da Casa.

Antes de tomar conhecimento da manifestação da Procuradoria da Ales, a reportagem de A Gazeta conversou com o deputado eleito Callegari (PL). Ele confirmou que o grupo se mantém firme para a disputa. "Estamos inabaláveis para concorrer. Está ocorrendo uma interferência indevida do governador no processo. Nada temos contra Marcelo Santos, mas a atitude do governador não foi democrática", assinalou.

Ele confirmou que estava sendo estudada a possibilidade de levar a discussão sobre a votação secreta ao Supremo, mas assegurou que esse não era o plano A ou B do grupo, que tem mais de 10 parlamentares de siglas como PL, Republicanos, PTB, PP e PSDB.

"O que o bloco quer basicamente é duas coisas: independência institucional para a Assembleia e isonomia para todas as correntes políticas na composição de comissões e da Mesa Diretora, de acordo com o tamanho de cada partido. Queremos isonomia no tratamento, seja esquerda ou direita, da base do governo ou de oposição, ter o mesmo espaço na Assembleia e defender as prerrogativas dos deputados que estão ameaçadas", acrescentou Callegari.

Os deputados Hudson Leal (Republicanos) e Danilo Bahiense (PL) também atenderam às ligações da reportagem de A Gazeta, mas o primeiro disse que somente Vandinho estava se manifestando pelo bloco, enquanto o segundo informou que estava em uma agenda e não podia falar no momento. O deputado do PSDB foi procurado ao longo de toda a semana, mas não atendeu às ligações e nem deu retorno às mensagens enviadas.

O grupo de Vandinho tenta resistir e se manter na disputa, enquanto o bloco liderado por Marcelo Santos busca garantir a quantidade mínima de votos para encerrar a disputa em único turno — 18 votos. Enquanto isso, o governo ainda procura assegurar que a eleição ocorra com chapa única de consenso, conforme defendeu Casagrande na última quarta-feira (25). Os votos dos novatos na Casa Camila Valadão (Psol) e Sérgio Meneguelli (Republicanos), que se recupera de uma cirurgia, podem ser decisivos na disputa.

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