A prefeita de Presidente Kennedy, Amanda Quinta (PSDB), foi presa nesta quarta-feira (8) durante a Operação Rubi, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MPES) com apoio da Polícia Militar.
Amanda não estava entre os alvos dos mandados de prisão temporária expedidos no âmbito da Rubi, mas agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ao cumprirem mandado de busca e apreensão na casa da prefeita, depararam-se com a realização de uma reunião e uma quantidade razoável de dinheiro. Amanda foi presa em flagrante.
Um dos promotores do Gaeco contou à reportagem que um dos investigados realizou, ontem, um saque no valor de R$ 30 mil. Esse dinheiro foi localizado dentro de uma mochila. Além dessa pessoa - um empresário -, a prefeita e agentes públicos, que não eram alvo da investigação, participavam da reunião.
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No local, também foi aprendido mais dinheiro, mas o valor não foi divulgado. Há indícios de que o montante seria usado para pagamento de vantagens indevidas. Na casa de Amanda, também foram apreendidas duas armas sem registro, que pertencem ao noivo dela. Os dois foram levados para delegacia de Itapemirim por volta das 21h30. A prisão de Amanda já foi convertida em preventiva pela Justiça. A prefeita afastada também se desfiliou do PSDB, após ser alvo de uma investigação do partido, que analisava sua expulsão.
Um policial da reserva, que atuava como segurança particular da prefeita, também foi conduzido à delegacia pois estava com o registro da arma vencido.
Procurada, a assessoria de comunicação da prefeitura de Presidente Kennedy informou que acompanhava a operação e iria se manifestar posteriormente. Atualmente, a prefeitura de Presidente Kennedy é comandada pelo vice-prefeito Dorlei Fontão (PSD).
CONTRATOS
A Operação Rubi vai muito além de Presidente Kennedy. De acordo com MPES, o objetivo é desarticular e colher provas relativas à atuação de uma organização criminosa constituída para lesar os cofres públicos também nos municípios de Marataízes, Jaguaré e Piúma por possível direcionamento licitatório em favor de pessoas jurídicas contratadas, pagamento de vantagem indevida a agentes públicos e superfaturamento de contratos administrativos de prestação de serviço público. Segundo o Ministério Público, os contratos investigados somam mais de R$ 150 milhões.
Foram expedidos cinco mandados de prisão temporária, cinco mandados de afastamento funcional de agentes públicos e 11 mandados de proibição de acesso às dependências de órgãos públicos. O objetivo também era cumprir 25 mandados de busca e apreensão pelos agentes do Gaeco, sendo nove em Presidente Kennedy, cinco em Marataízes, dois em Jaguaré, um em Piúma, um em Cachoeiro de Itapemirim, um em Linhares, um em Jerônimo Monteiro, dois na Grande Vitória e dois no Rio de Janeiro, emitidos pelo juízo da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo.
Residência de investigados, dependências de órgãos públicos e de empresas suspeitas de integrar o esquema foram alvos das ações.
As investigações, que duraram aproximadamente um ano, colheram fortes indícios do envolvimento de agentes políticos e servidores municipais no recebimento de propina de empresários dos ramos de limpeza pública e transporte coletivo como contraprestação a benefícios financeiros em licitações e contratos e possível enriquecimento indevido dos envolvidos.
Os crimes investigados são: organização criminosa; fraude em licitações; lavagem de dinheiro; corrupção ativa e passiva; e falsidade documental.
O OUTRO LADO
A Prefeitura de Piúma informou que reúne documentos referentes à empresa que presta serviço de limpeza. Aguardamos o desenrolar da investigação para maiores informações, diz a nota. A Prefeitura de Jaguaré afirma ter recebido com surpresa a informação da operação. Não houve nenhuma manifestação formal do MP ou cumprimento de mandado no município. A Prefeitura de Marataízes disse primar pela legalidade e lisura de todos os seus atos administrativos, e não medirá esforços para colaborar com as investigações.
A Prefeitura de Jaguaré informou que a empresa investigada cujo nome é Limpeza Urbana participou de uma licitação no município, foi desclassificada por problemas na documentação, mas através de liminar judicial teve sua contratação deferida e presta serviços desde dezembro de 2018. A equipe da GAECO esteve no Setor de Licitação da Prefeitura onde foi informada que todo o processo licitatório ocorreu no SAAE, para onde se dirigiu e apreendeu documentos do processo de licitação, contrato e também dos pagamentos efetuados. A empresa é originária de Presidente Kennedy, e após a licitação, conforme exigência de contrato estabeleceu uma filial em Jaguaré. Até o momento a empresa não foi impedida de prestar os serviços.
HISTÓRICO
Entre as cidades que foram alvo da Operação Rubi está Presidente Kennedy, município conhecido não só pelo grande volume de arrecadação fruto, principalmente, de royalties do petróleo como também por escândalos políticos que marcaram os últimos anos, incluindo prisões por desvio de dinheiro público e conflitos familiares.
Lee Oswald
Em abril de 2012, o então prefeito de Presidente Kennedy, Reginaldo dos Santos Quinta, e outros seis secretários foram presos durante a operação da Polícia Federal batizada de "Lee Oswald. Quinta era apontado como o líder de uma quadrilha de fraudes em licitações e suspeito desviar R$ 50 milhões do município.
Popularidade
Na época, A GAZETA mostrou como o grupo de Quinta conquistou popularidade, mesmo em meio à falta de recursos para a população: com distribuição de cestas básicas, ônibus de graça e festas e shows.
Indicação e rompimento
Impedido de disputar a reeleição, Quinta apoiou a sobrinha Amanda Quinta (PSDB), que era secretária de Cultura. Ela se elegeu, mas nas eleições de 2016 a união deu lugar à disputa familiar. Ambos candidatos à prefeitura, Reginaldo e Amanda romperam. O tio chegou a pedir desculpas por ter indicado a sobrinha. Mas ela saiu vencedora.
(Com colaboração de Rita Benezath e Maíra Mendonça)
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