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Prefeito contratou própria empresa para obra de casas populares em São Mateus, diz MPF

Prefeito contratou própria empresa para obra de casas populares em São Mateus, diz MPF

Ministério Público Federal denunciou 13 pessoas por organização criminosa, entre elas Daniel da Açaí (sem partido), suspeito de usar laranjas para ocultar patrimônio

Publicado em 4 de março de 2022 às 20:13

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Casas inauguradas no conjunto habitacional do bairro Vitória, em São Mateus. (Divulgação/Prefeitura de São Mateus)
Prefeito contratou própria empresa para obra de casas populares em São Mateus, diz MPF

O prefeito de São Mateus, Daniel da Açaí (sem partido), teria contratado a própria empresa para realizar diversas obras na cidade, entre elas a construção de mais de 100 casas populares no bairro Vitória, segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF). Ele também é apontado pelo órgão líder de uma organização criminosa que fraudava contratos com o município

Segundo o MPF, a Construshow Eventos Eirelli, que está registrada no nome de Rogério de Castro, pertence, na verdade, ao prefeito. Rogério seria usado como laranja para ocultar o "patrimônio clandestino" de Daniel da Açaí e permitir que a empresa participasse de diversas licitações com a administração pública municipal. 

Por vedação legal, uma empresa não poderia participar de licitações em que o prefeito é, ao mesmo tempo, o contratante e o contratado.

Conforme relatório, o mesmo teria sido feito em relação a pelo menos outras quatro empresas, das quais foi ocultado o nome de Daniel e mantido sob administração de laranjas.

"Muito embora fosse o principal responsável pelas empresas, manteve todas em nome de terceiros e com elas realizou intensa atividade empresarial, o que lhe proporcionou significativo aumento patrimonial sem que seu nome estivesse formalmente envolvido em nenhuma das transações", diz o procurador regional da República Carlos Aguiar, na denúncia apresentada.

No caso da Construshow, o MPF aponta que os contratos realizados com a Prefeitura de São Mateus ultrapassam R$ 10 milhões e só vieram a se concretizar depois que Daniel assumiu a cadeira de chefe do Executivo municipal.

DANIEL DA AÇAÍ E A CONSTRUSHOW

Constituída em 2014, a Construshow teve como sócios, inicialmente, Wagner Rock Viana e Rogério de Castro, hoje o único cotista da empresa. Ambos foram denunciados pelo MPF por participar da organização criminosa Iiderada por Daniel da Açaí.

Segundo o relatório, eles "agiam por conta e ordem do prefeito" e eram usados como laranjas para encobrir negociações criminosas com o Poder Público. 

De acordo com o Portal da Transparência do município, entre 2018 e 2021, o valor total recebido pela Construshow em contratos foi de R$ 3.193.563,89, sendo que somente da prefeitura de São Mateus o valor foi de R$ 3.054.476,28, "o que representa 95,64% do total recebido pela empresa", pontua o MPF.

“Os dados permitem afirmar que a empresa Construshow, desde sua criação, foi custeada quase que exclusivamente com receitas oriundas de contratações com a Prefeitura de São Mateus”, diz a denúncia.

CASAS POPULARES

Muitos dos contratos firmados entre a Prefeitura de São Mateus e a Construshow utilizaram repasses federais, como é o caso da conclusão de 13 unidades habitacionais e a construção de 101 novas casas no bairro Vitória citada na denúncia.

A obra teve como fonte de recurso convênio com a União oriundo do PAC Bairro Vitória, com contrato no valor de mais de R$ 13 milhões, assinado em agosto de 2020. 

Cerimônia d entrega de casas no bairro Vitória. (Divulgação/Prefeitura de São Mateus)

Em abril de 2021, as nove primeiras casas foram entregues. Na ocasião foi realizado uma cerimônia. Em junho, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) a São Mateus para inauguração de um outro conjunto habitacional, oriundo do antigo programa Minha Casa, Minha Vida, Daniel da Açaí citou a obra do bairro Vitória.

A situação é mencionada no relatório do MPF que viu, no anúncio do prefeito, uma tentativa de faturar politicamente em cima da obra, fruto de licitação fraudade, aproveitando a presença de Bolsonaro na cidade.

"Revelando toda a sua ambição e o absoluto descompromisso com a população local, que lhe confiou em voto popular dois mandatos seguidos para gerir e zelar pelo interesse público, Daniel Santana Barbosa não perdia oportunidades para o enriquecimento ilícito para se utilizar de empresa de fachada e, com ela, viabilizar novos contratos com o município de São Mateus", frisa o procurador Carlos Aguiar. 

O OUTRO LADO

Por meio de nota, a defesa de Daniel da Açaí, representada pelo advogado Altamiro Thadeu Sobreiro, informou que "segue confiante na Justiça e apresentará todos os esclarecimentos".

"Acreditamos que sequer haverá recebimento da denúncia, vez que há farta documentação demonstrando origem do dinheiro, bem como comprovará que as empresas ligadas a Daniel nunca receberam recursos públicos".

A reportagem aguarda a manifestação de Rogério de Castro, citado no texto. 

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