Em um dos contratos investigados pela Operação Minucius – que prendeu na manhã desta terça-feira (28) o prefeito de São Mateus, Daniel da Açaí (sem partido) – a Polícia Federal apontou que o chefe do Executivo municipal teria recebido entre 10% e 20% de propina na construção das passarelas no balneário de Guriri. A obra recebeu recursos do Ministério do Turismo.
A empresa contratada para a construção dos 385 metros de passarelas de madeira foi a Multiface Serviços e Produções Ltda, do empresário Caio Faria Donatelli, que recebeu R$ 493,4 mil pela empreitada. Caio Donatelli também foi preso pela Polícia Federal nesta terça-feira.
De acordo com a investigação da PF e do Ministério Público Federal (MPF), os valores orçados eram, aparentemente, superiores aos que são praticados no mercado. A Polícia Federal também chamou a atenção para o valor elevado de pagamentos feitos pela Prefeitura de São Mateus à Multiface, que correspondem, atualmente, a R$ 26,6 milhões.
A investigação da PF apontou que houve movimentação atípica de dinheiro em espécie na empresa. Entre março de 2019 e novembro de 2020, a Multiface recebeu R$ 360,8 mil em depósitos em espécie, sendo que R$ 310,8 mil foram depositados pelo próprio administrador, Caio Donatelli.
A Multiface também é investigada pela Câmara de Vereadores de São Mateus, em uma CPI que apura o suposto envolvimento da empresa em fraudes no município.
Ainda segundo a investigação da Polícia Federal, Caio Donatelli também teria agido para fazer com que o pai, o vereador de Linhares Juarez Donatelli (PV), fosse eleito presidente da Câmara municipal em 2020. Caio foi flagrado, de acordo com a PF, articulando a compra de votos de outros vereadores. Juarez acabou não sendo escolhido para a Mesa Diretora.
O empresário conseguiu eleger, através da articulação com outras lideranças empresariais e partidárias, o vereador de São Mateus Kácio Mendes (PSDB), que foi escolhido pelos demais parlamentares como vice-presidente da Câmara. Kácio foi funcionário da Multiface. Em uma ligação telefônica interceptada pela PF, Kácio confirma a Caio que poderá interferir nas nomeações disponíveis na Câmara de São Mateus.
A Gazeta entrou em contato com o pai de Caio, o vereador de Linhares Juarez Donatelli (PV). Ele disse que o filho foi prestar depoimento na Polícia Federal, mas que não recebeu voz de prisão. A decisão do TRF2, no entanto, determina prisão temporária, de cinco dias, de Caio Faria Donatelli.
Sobre a citação dele na investigação, o parlamentar disse que não vai se manifestar.
O advogado de Caio, Jayme Henrique, informou que o empresário está na Polícia Federal aguardando a audiência de custódia e deve se pronunciar após o resultado judicial.
O vereador de São Mateus Kácio Mendes (PSDB) confirmou que conhece Caio e que atuou por quatro meses em sua empresa, mas nega que o empresário tenha feito articulações em seu nome.
A Prefeitura de São Mateus disse que vai se manifestar quando tiver acesso aos autos do processo.
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