Nem bem haviam sido empossados, no dia 1º de janeiro, os prefeitos das quatro principais cidades da Grande Vitória foram para as ruas “mostrar serviço”. Na primeira semana à frente do Executivo, eles apareceram, mais de uma vez, ao lado de garis e guardas municipais.
Na Capital, o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) fez, por dois dias seguidos, patrulhamentos com a Guarda Municipal. Em Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos) vestiu um colete à prova de balas e acompanhou blitze na cidade. Enquanto Euclério Sampaio (DEM) fiscalizou a varrição das equipes de limpeza em Cariacica, assim como fez Sergio Vidigal (PDT), na Serra. Tudo isso amplamente divulgado nas redes sociais de cada um deles.
Mas por mais que queiram aparecer marcando presença, manter essa rotina fora do gabinete pode ser difícil, além de contraproducente. Afinal, o trabalho dos prefeitos vai muito além e nem é atribuição específica deles fiscalizar, in loco, essas atividades.
Na visão do cientista político Paulo Baía, esse comportamento dos novos prefeitos é simbólico e até comum para novatos, que assumem a prefeitura pela primeira vez. O objetivo é passar uma imagem de proximidade com a população.
Baía pontua que, por mais que não haja nada de errado na atitude dos prefeitos, isso não deve se sustentar durante todo o mandato e não pode ser priorizado durante a gestão. O papel dos prefeitos é outro. É em ambientes mais discretos que eles podem contribuir para a melhoria do serviço de limpeza pública ou da segurança. Mas aí não tem foto.
“A longo prazo, isso não se sustenta, não tem como manter durante os quatro anos. E espera-se, até mesmo, que eles não se detenham a executar esse tipo de tarefa. Não é acompanhando um gari varrer a rua que o prefeito garante que a cidade seja limpa. A responsabilidade dele é administrativa, é de tomar decisões que vão impactar a limpeza pública.”
Os quatro prefeitos citados na reportagem disseram que vão conciliar os trabalhos no gabinete com atividades externas sempre que possível e que acreditam ser importante estar com a população.
Logo após ser empossado prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, comandou, junto com o secretário de segurança Ícaro Ruginski, patrulhamentos da Guarda Municipal pelas ruas da Capital.
No dia seguinte, ele voltou a acompanhar o trabalho da Guarda, participando de abordagens na cidade. Os resultados do trabalho foram anunciados por meio de uma coletiva de imprensa. Duas pessoas foram presas.
Pazolini é delegado. Em entrevista ao Papo de Colunista, de A Gazeta, ao ser questionado pelo colunista Vitor Vogas se iria subir os morros da Capital, ele disse que teria muito trabalho como prefeito, e que não conseguiria acompanhar todas as atividades da área de segurança, mas não descartou ser visto atuando na rua.
Já em Vila Velha, Arnaldinho, na noite do dia 1º de janeiro, junto com o vice, Victor Linhalis (Solidariedade), acompanhou o trabalho de patrulhamento da Guarda Municipal. Ele chegou a usar um colete à prova de balas para participar das ações, assim como fez Pazolini.
No dia seguinte, o prefeito fiscalizou a limpeza dos bueiros de Vila Velha e o funcionamento das estações de bombeamento. Esses dois momentos foram registrados em vídeo, disponíveis nas redes sociais do prefeito.
Arnaldinho ainda acompanhou o conserto de duchas na orla das praias da cidade.
Já Euclério Sampaio foi, no dia seguinte à posse, até a BR 262 para verificar o trabalho de varrição, capina e pintura realizado pela Prefeitura de Cariacica. O prefeito publicou fotos nas redes sociais e afirmou que “já iniciava o mandato com trabalho por toda a cidade”.
Vidigal, por sua vez, também acompanhou o trabalho de limpeza urbana, realizado na manhã desta terça-feira (05) na Praça da Luz. Ele publicou fotos ao lado dos garis no local. Um dia após a posse, Vidigal visitou a sede da Guarda Municipal. O momento também foi registrado.
Para o cientista político João Gualberto Vasconcellos, sair do gabinete é uma forma de ouvir a população. Ele pontua, contudo, que há também uma ação de marketing político.
“É evidente que há uma ação de visibilidade, de marketing político, nessas ações, tem até um tom teatral”, afirma. “Mas por mais teatral que pareça, é um aceno importante para a população”.
O especialista em marketing político Darlan Campos concorda com João Gualberto. Para ele, as ações dos prefeitos fazem parte de uma ação de construção de imagem. “A imagem de um político é construída a partir das aparições públicas”, declarou.
Ele avalia que, neste momento, os prefeitos passam por uma transição da imagem do político da campanha para a imagem do político em gestão, e que querem mostrar para população que estão presentes e atuantes.
“Eles não têm muitas ferramentas nesse período inicial para se aproximar da população. Essas ações estão muito mais ligadas ao que eles têm condição de fazer agora."
Já o cientista político Fernando Pignaton vê as atitudes dos prefeitos com um caráter populista, o que, na opinião dele, não cabe no momento atual.
“Eles continuam seguindo um modelo que funcionou nas eleições, quando eram candidatos. Mas agora eles são gestores. O momento de pandemia, de contas apertadas, exige do prefeito concentração de trabalho, principalmente na montagem de uma equipe técnica. Ir para a rua, na minha opinião, é perder energia. O foco tem que ser na gestão e não em cumprir uma agenda populista”, criticou.
Atitude semelhante à dos prefeitos da Grande Vitória foi adotada pelo então prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) em 2017. Mas Doria foi além. No primeiro dia de mandato como prefeito da cidade, ele se vestiu de gari. Chegou a varrer o trecho de uma rua.
A atitude do prefeito, hoje governador, foi considerada populista e alguns o apelidaram de “prefake”. Doria disse que se vestiria de gari pelo menos uma vez por semana durante o mandato, o que não aconteceu.
Outro político que também teve atitudes de “colocar a mão na massa” foi o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT). Em 2013, ele mergulhou numa adutora tentando consertar, com as próprias mãos, um vazamento de água na cidade de Itapipoca.
Procurados pela reportagem, os prefeitos da Grande Vitória afirmaram que a gestão não vai ficar de lado, mas que não pretendem ser "prefeitos de gabinete". Eles destacaram que pretendem estar nas ruas, conciliando as agendas.
O prefeito Lorenzo Pazolini informou, via assessoria, que vai atuar nas ruas, presencialmente, sempre que possível durante o mandato, principalmente em questões relacionadas à segurança, área com a qual ele tem afinidade.
Pazolini disse que vai conciliar a presença nas ruas de Vitória com as outras atribuições do Executivo e que não pretende ser um prefeito que fica apenas no gabinete. Ele frisou que acha importante o contato com a população. "Ouvir a população é fundamental", destacou.
Já Arnaldinho Borgo disse que é do perfil dele estar na rua e que "vai conciliar a agenda com atividades internas e externas". Ele afirmou que vai acompanhar os serviços, conversar com as pessoas e com os servidores de Vila Velha.
Euclério Sampaio, por sua vez, disse que acompanhar os serviços prestados pelas equipes vai ser uma rotina no mandato.
“Vou acompanhar de perto o andamento deste e de outros trabalhos da prefeitura. O prefeito precisa estar nas ruas, presente na comunidade, ouvindo a população, sejam elogios, críticas ou demandas. Estamos cuidando da cidade e limpar os canais, varrer as ruas, acompanhar as equipes é uma prioridade do nosso governo. Temos que cuidar de Cariacica como se fosse nossa casa”.
Sergio Vidigal foi procurado, mas, até a publicação deste texto, não respondeu à reportagem.
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