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Prefeitos da Grande Vitória têm atuação tímida na promoção da quarentena

Prefeitos da Grande Vitória têm atuação tímida na promoção da quarentena

Fugindo da rejeição por conta das medidas restritivas, prefeitos de Vitória e Cariacica evitam falar publicamente sobre o tema. Na Serra e em Vila Velha, posicionamento é outro

Publicado em 18 de março de 2021 às 20:35- Atualizado há 4 anos

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Da esquerda para a direita, os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos); de Cariacica, Euclério Sampaio (DEM); da Serra, Sergio Vidigal (PDT); e de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos)
Da esquerda para a direita, os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos); de Cariacica, Euclério Sampaio (DEM); da Serra, Sergio Vidigal (PDT); e de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). (Reprodução/Instagram)
Rafael Silva
Repórter de Política / [email protected]

Principais lideranças em seus municípios e ainda com apoio significativo após as últimas eleições, os prefeitos das principais cidades da Grande Vitória têm relutado em dar as caras para defender as medidas restritivas da quarentena no Estado. A medida, embora se mostre necessária devido à lotação dos leitos de UTI (90,26% ocupados até 18 de março), é impopular e enfrenta protestos principalmente por parte de grupos bolsonaristas e comerciantes.

As quatro principais cidades da região metropolitana são as que mais possuem casos confirmados e mortes por Covid-19 no Estado. Os prefeitos de Vitória e Cariacica – Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Euclério Sampaio (DEM) – não demostraram publicamente apoio às medidas, apesar de também não contrariá-las. Já na Serra e em Vila Velha – de Sergio Vidigal (PDT) e Arnaldinho Borgo (Podemos) – houve maior engajamento dos chefes do Executivo. As duas cidades, coincidentemente, são as que possuem maior número de casos confirmados e mortes por Covid-19.

A principal ausência no "front" da quarentena é a do prefeito da Capital. De acordo com o colunista Vitor Vogas, Lorenzo Pazolini  não compareceu a uma reunião realizada na última quarta-feira (17) entre prefeitos capixabas e o governador do Estado, em que foram destacadas as medidas que seriam tomadas e feito um pedido de apoio aos chefes municipais.

Foi a terceira vez seguida, em menos de uma semana, que Pazolini não compareceu ao encontro emergencial organizado pelo governador Renato Casagrande (PSB). No Palácio Anchieta, a distância que o prefeito tem mantido neste período tem sido vista como um "ato de covardia", por alguns integrantes. A avaliação é de que o prefeito tem deixado o governador "se queimar sozinho" ao não apoiar, publicamente, as medidas restritivas.

Nas redes sociais de Pazolini, não há nenhuma menção ao decreto. Nem contra, nem a favor. A reportagem procurou a assessoria do prefeito. Em nota, a prefeitura disse que vai seguir o decreto estadual e que vai fiscalizar a adoção dos protocolos. O município também garantiu que vai agir para engajar a população em adotar uma postura "em prol do bem coletivo". O prefeito, no entanto, não respondeu porque não participou das reuniões.

O cientista político e médico sanitarista (especialidade voltada para a saúde pública) Fernando Pignaton acredita que as medidas restritivas são necessárias e que, para ter efeito, precisarão ficar por mais tempo, além dos 14 dias previstos no decreto. Para ele, a politização da gestão da pandemia foi inaugurada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e conquistou seus apoiadores. Com isso, ele reconhece que a pressão sobre os prefeitos é grande.

Na avaliação de Pignaton, essa omissão é uma forma de fugir da rejeição que as medidas geram. Sem essa polarização, elas já seriam, pela própria natureza, medidas impopulares. Só que o presidente atuou de uma maneira cruel desde o início, reforça o cientista político, potencializando essa impopularidade. Isso ‘desceu’ para todas as esferas.

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Esse posicionamento dos prefeitos que não estão apoiando as medidas, ao meu ver, é mais por um cálculo político do que uma razão técnica

Fernando Pignaton
Cientista político e médico sanitarista
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Já para o cientista político e historiador João Gualberto Vasconcellos, é democrático que os prefeitos possam discordar, mesmo que de “maneira silenciosa”, das restrições, ainda que sejam obrigados a segui-las.

"A postura de Bolsonaro ajudou a potencializar essa discussão e jogar ainda mais pressão sobre os gestores que precisam tomar algumas decisões. Cada um, naturalmente, vai ter um olhar sobre as medidas. Para alguns haverá impacto maior, para outros, nem tanto", pondera.

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Fazem parte do processo democrático essas diferenças de posturas. Esse silêncio é uma forma de expressar esse descontamento. Os prefeitos, por estarem mais próximos da população, acabam sofrendo uma crítica local muito maior

João Gualberto Vasconcelos
Cientista político e historiador
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ALIADO DISTANTE

Outro que não participou da última reunião com Casagrande foi o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio. Alegando problemas de pressão arterial, ele foi substituído pelo secretário municipal de Saúde.

Cariacica é uma das cidades onde a doença tem maior letalidade, com 2,8% de quem se infectou não resistindo ao vírus. Ainda que seja aliado próximo do governador Renato Casagrande, Euclério preferiu não usar suas redes para defender a medida. Nos comentários de sua página, que mostram um pouco da pressão que o prefeito sofre no município, muitos o cobram por uma postura que enfrente as restrições impostas pelo Estado.

Nas eleições, enfrentando o PT de Célia Tavares, com quem disputou o cargo no segundo turno, Euclério se aproximou de grupos bolsonaristas, principalmente policiais, pastores evangélicos e conservadores da cidade. As principais manifestações contrárias às medidas restritivas vêm justamente desse núcleo, que ajudou a sustentar a vitória do prefeito.

Procurado, Euclério nega que tenha se omitido. Por nota, ele afirma que tem mantido diálogo com os comerciantes e empresários de Cariacica. O prefeito disse que a ação da prefeitura "será dura e enérgica" contra festas e bailes clandestinos.

"Sabemos que o fechamento dos comércios, determinada pelo governo do Estado, é uma medida extrema, mas necessária para preservar vidas e também a economia. A economia somente retornará à sua normalidade quando o vírus for controlado e a maioria da população estiver imunizada. A atual gestão não aceita pressão e entende que, o diálogo, indispensável nos dias atuais, é, e sempre será, o melhor caminho para a solução dos problemas", pontua.

CIDADES COM MAIS ÓBITOS, SERRA E VILA VELHA ECOAM PEDIDO DO ESTADO

As cidades de Vila Velha e Serra, que lideram o ranking de casos confirmados e mortes por Covid-19 no Espírito Santo, foram coincidentemente, as únicas da Grande Vitória em que os prefeitos se manifestaram publicamente reforçando o pedido para que a população respeitasse as medidas restritivas.

Em Vila Velha, já são 44.828 casos confirmados da doença e 886 óbitos desde o início da pandemia. O prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) pediu para que as pessoas evitassem aglomerações e disse que o melhor remédio é a prevenção. Ele fez questão de publicar uma foto, em que participa da reunião entre Estado e prefeitos, em suas redes sociais. A imagem destaca o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, um dos mais criticados por bolsonaristas e comerciantes contrários à quarentena.

"Tomaremos todas as medidas necessárias para a preservação das vidas em nossa cidade durante a quarentena determinada pelo Estado", afirmou no post. Arnaldinho foi criticado nos comentários. Mais cedo, nesta quinta-feira (18), em protesto de lojistas da Glória, o prefeito também foi alvo das reclamações.

Secretários e fiscais da prefeitura percorreram as praias, orientando frequentadores a ficar em casa e explicando as medidas da quarentena.

Paralelamente, Arnaldinho atendeu a um pleito de grupos bolsonaristas, adotando o protocolo para o uso de cloroquina e ivermectina nas unidades municipais. Mesmo que os medicamentos não tenham comprovação científica de eficácia em casos de Covid-19.

Na Serra, o prefeito Sergio Vidigal (PDT), que é médico psiquiatra, mostra ser o mais empenhado em defender a quarentena. Ele publicou na sua página mensagens reconhecendo a importância das restrições neste momento da pandemia, pediu a união dos moradores e anunciou um Disk Aglomeração (99951-2321), pelo qual poderão ser feitas denúncias de aglomerações e estabelecimentos que não estejam respeitando as medidas.

"Nosso trabalho é orientar, não vamos adotar uma linha policialesca (para que os moradores respeitem as restrições), não queremos ir para o enfrentamento. Queremos orientar, vamos promover as barreiras sanitárias e, paralelamente, vamos buscar mais profissionais da saúde para atuar no município", disse Vidigal, em entrevista à Rádio CBN Vitória.

O QUE FEZ CADA PREFEITO APÓS AS MEDIDAS RESTRITIVAS

Lorenzo Pazolini - Vitória

Euclério Sampaio - Cariacica

Arnaldinho Borgo - Vila Velha

Sergio Vidigal - Serra

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