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Prefeitos reeleitos no ES já preparam candidatos para sucessão

Prefeitos reeleitos no ES já preparam candidatos para sucessão

Em 17 cidades, o chefe do Executivo municipal não pode se candidatar novamente; articulações em torno dos possíveis sucessores já começaram no Estado

Publicado em 8 de fevereiro de 2020 às 09:34

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Vitória é uma das poucas cidades em que o prefeito já definiu o candidato que deve apoiar nas eleições deste ano. (Fábio Vicentini/Arquivo)

Nas últimas eleições municipais, os capixabas reelegeram 17 prefeitos que, portanto, não podem disputar novamente o comando das cidades onde atuam neste ano. Apesar de terem que deixar as chefias dos Executivos municipais, eles não pretendem perder influência nos municípios. A oito meses do pleito, as discussões para definir os nomes que vão sucedê-los estão a todo vapor. A maioria das definições, no entanto, está longe de ocorrer.

Na Região Metropolitana de Vitória, os prefeitos de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania); Serra, Audifax Barcelos (Rede); Cariacica, Juninho (Cidadania); e Viana, Gilson Daniel (Podemos) já estão no segundo mandato. No interior do Estado, outros treze estão na mesma situação e buscam alguém para dar continuidade ao que foi realizado nos dois mandatos.

Já em Itapemirim e Presidente Kennedy, estão no comando das cidades prefeitos interinos que podem concorrer ao cargo. Os titulares, reeleitos em 2016, foram afastados pela Justiça. Em Irupi, o prefeito eleito naquele ano foi cassado e está inelegível. 

REGIÃO METROPOLITANA

Vitória é a única cidade em que o prefeito, Luciano Rezende, já definiu o nome que terá o apoio dele: o atual deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania), que comandou a "supersecretaria" de Gestão, Planejamento e Comunicação da Prefeitura da Capital.  "Existem partidos aliados que dialogam conosco. Vamos trabalhar para construir o consenso e deixar a Capital em boas mãos", afirmou o prefeito.

Já na vizinha Serra, o prefeito Audifax Barcelos (Rede) disse estudar três ou quatro nomes, mas preferiu não revelar quais são eles. "Nosso foco, por enquanto, está na gestão. Para dar sequência ao que deu certo, o meu sucessor precisa ter sensibilidade social, princípios fortes e perfil gestor. A definição, no entanto, deve acontecer só em março", explicou.

Prefeito Audifax não confirma apoio a ninguém, apesar de já apontarem possíveis nomes à sucessão na Serra. (Guilherme Ferrari/Arquivo)

Porta-voz do partido de Audifax, a Rede, no Espírito Santo, André Toscano revelou quais nomes estão sendo estudados pelo partido. "Uma possibilidade é o deputado estadual Lorenzo Pazolini (sem partido), que já fez um trabalho muito bacana na Serra e que recebeu mais de 11 mil votos dos munícipes nas últimas eleições", comentou.

O parlamentar confirmou que está em diálogo com o partido e com o prefeito Audifax, mas também não descartou a possibilidade de disputar a prefeitura de Vitória. "Temos esses dois caminhos. Estou conversando com partidos e visto a receptividade de ambas as populações. Devo definir isso ainda no final de fevereiro", contou Pazolini.

A Rede avalia também outros três nomes para a Serra: Jolhimar Massariol, que está na Coordenadoria Municipal de Governo; Igor Elson, à frente da Secretaria de Serviços; e Elcimara Rangel, da Secretaria de Assistência Social. "São perfis técnicos, mas com um trato político com a população e potencial para tocar o projeto de gestão", detalhou.

Questionado sobre um possível apoio de Audifax ao deputado estadual Bruno Lamas (PSB), que está à frente da Secretaria estadual do Trabalho, afirmou: "Os partidos fizeram uma aliança, e o PSB tem a vice-prefeita da Serra, que é mãe de Lamas. Em 2018, nós o convidamos para ser nosso candidato a deputado federal, mas ele não quis. Agora, não temos como deixar de lançar um nome a prefeito".

A Gazeta tentou contato com Bruno Lamas, mas não obteve sucesso até a conclusão desta reportagem.

Em Cariacica, a disputa pela sucessão também está em aberto. Especialistas apontam como potenciais candidatos com o carimbo do prefeito o ex-deputado estadual Sandro Locutor (PROS), que foi subsecretário da Casa Civil no início deste governo de Renato Casagrande (PSB); e o atual vice-prefeito Nilton Basílio (PSDB).

Prefeito de Cariacica, Juninho (Cidadania) não descarta a possibilidade de não apoiar ninguém. (Fernando Madeira)

Questionado a respeito dos dois nomes, o prefeito Juninho (Cidadania) deu maior destaque ao atual substituto direto. "O meu vice é uma excelente pessoa, qualificada, inclusive. Como são nomes que estão na base, dialogo constantemente por causa de questões administrativas, mas ambos têm independência de mandato", disse.

Já pessoas ligadas ao partido do prefeito citam também a possibilidade da pré-candidatura do vereador Joel da Costa (Cidadania), atual segundo-presidente da Câmara de Cariacica. Segundo elas,  a palavra de Juninho, no entanto, será decisiva para que o nome do parlamentar ou de outro político seja apoiado pela sigla nas próximas eleições.

Por fim, a reportagem tentou contato durante uma semana com o prefeito Gilson Daniel (Podemos), de Viana. É ele que também está à frente do partido no Espírito Santo. Porém, desde a terça-feira (14), não obteve qualquer retorno.

Especialistas apontam o vereador Fábio Luiz Dias (PT), atual presidente da Câmara da cidade, como um possível sucessor. No entanto, o vereador Joilson Broedel, do mesmo partido do prefeito, garante que o Podemos lançará um candidato, ainda indefinido, à prefeitura, e que este deve ter o apoio de Gilson Daniel.

REGIÃO NORTE

Indo em direção ao Norte, há duas prefeituras que o PMN comanda desde 2013: Ibiraçu e Jaguaré. No caso da primeira, o partido afirmou que existem quatro ou cinco pessoas da gestão do atual prefeito que estão interessadas na disputa – que ainda está indefinida. O atual vice-prefeito José Luiz Torres Teixeira Júnior (PSDB), porém, se coloca como pré-candidato e espera o apoio do prefeito Duda, que está de férias e não quis falar a respeito.

Disputa pela prefeitura de Ibiraçu ainda está aberta . (Prefeitura de Ibiraçu/Divulgação)

Já em relação ao município de Jaguaré, o PMN revelou que na última reunião partidária ficou decidido que o atual vice-prefeito Ruberci Casagrande será o candidato do partido – ele, porém, está rachado com Rogério Feitani, atual prefeito, que se limitou apenas a dizer que "ainda não é o momento para falar de eleições".

Para fechar o panorama da Região Norte, o Osvaldo Fernandes (PDT) também não pode mais se candidatar a prefeito de Mucuruci e indicou que o início do processo sucessório deve ocorrer somente a partir de maio. O partido indicou que ainda vai estudar nomes para tentar continuar no comando da cidade.

REGIÃO NOROESTE

Do litoral rumo ao interior, chegamos à Região Noroeste do Estado, onde as articulações estão abertas. Prefeito de Nova Venécia, Lubiana Barrigueira (PSB) afirmou que há cerca de cinco nomes sendo estudados. "Tem gente de dentro e de fora da nossa gestão. Vamos indicar um nome, mas a definição deve sair só daqui a dois ou três meses", disse, sem revelar as possibilidades.

O PSB, partido ao qual pertence, confirmou a informação e deu mais detalhes. "Tem comerciantes, fazendeiros, autônomo, empresário e servidor público. Todos têm condições de ser prefeito e estão disponíveis. Eles também têm muita responsabilidade, carisma e investem no município", garantiu Edson Marquiori, presidente municipal da sigla.

Cinco pessoas estão na briga para serem apoiados pelo prefeito de Nova Venécia. (Divulgação/Prefeitura de Nova Venécia)

Também está indefinida a sucessão no município de Baixo Guandu. Por ora, o PCdoB está mais preocupado em formar a chapa para vereadores, de acordo com o secretário estadual do partido, Anderson Falcão. Ele também afirmou que o atual prefeito Neto Barros como principal articulador do cenário político local.

Questionado sobre essas conversas, no entanto, o chefe do Executivo não revelou nenhum nome. "Há pelo menos dez pessoas com intenção já revelada e que governam o município com a gente, mas ainda vamos fazer pesquisas e o nome certamente só vai ser anunciado depois da convenção partidária em agosto", adiantou Neto.

Prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB) deve ser o principal articulador para as próximas eleições. (Reprodução | TV Gazeta)

Ainda no Noroeste, chama atenção o cenário em Itaguaçu, onde o atual prefeito e o partido ao qual ele pertence podem lançar candidatos diferentes. O prefeito Darly Dettman (MDB) garantiu que o candidato dele será o vice João Luiz Beccalli (PSDB).

"Ele esteve comigo desde o primeiro dia de gestão e demonstra capacidade de gerir o município. Sinto-me no dever de apoiá-lo, caso queira disputar, e o meu partido está ciente disso", afirmou.

Do outro lado, porém, o presidente estadual da Juventude do MDB, Lucas Sales disse que o pré-candidato da sigla é o vereador Mario João Baldotto, atual secretário da Câmara.

Já o município vizinho de Itarana tem à frente a gestão Ademar Schneider, eleito pelo PRP, mas que está conversando com outros partidos para futura filiação, já que a sigla foi incorporada ao Patriota no ano passado. A Gazeta também tentou contato com o próprio prefeito e com o partido a respeito das eleições, sem sucesso.

REGIÕES SUL, SERRANA E CAPARAÓ

Em Brejetuba, o presidente estadual do PV, Fabrício Hérick Machado, garantiu que o partido lançará um nome, mas não deu mais detalhes. A reportagem tentou falar com o prefeito João Lourenço (PV), que foi apontado como articulador da sucessão, mas não conseguiu contato.

A situação também está indefinida em Guaçuí e Iconha, onde o PDT tem a expectativa continuar no comando das cidades. Os nomes, porém, só serão estudados, divulgados e definidos após as convenções municipais. A Gazeta fez contato com os prefeitos João Paganini (Iconha) e Vera Costa (Guaçuí), mas não obteve retorno.

Em Itapemirim e em Presidente Kennedy, quem está no comando são os prefeitos interinos Thiago Peçanha (PSDB) e Dorlei Fontão (PSD), respectivamente, que têm o direito de ir às urnas em outubro.

Luciano Paiva, reeleito em 2016, está afastado da Prefeitura de Itapemirim desde 2017, por suposto envolvimento em esquema de contratos e licitações irregulares. Thiago Peçanha não quis comentar a possível candidatura neste ano.

Dorlei Fontão afirmou que pretende disputar a Prefeitura de Presidente Kennedy. Ele assumiu o Executivo municipal depois de Amanda Quinta (eleita pelo PSDB e, hoje, sem partido) ser afastada do cargo pela Operação Rubi, que investiga esquema de fraude em licitações e pagamento de propina.

"Estamos trabalhando com muita dificuldade pelos fatos que aconteceram na cidade, mas pretendo me lançar [candidato]. Porém, o partido ainda não se pronunciou e não há nada definido", disse Dorlei.

Em Irupi, o prefeito releito Carlos Henrique Emerick (PSDB) e o vice Leandro Purcino (PSDB), respectivamente, foram cassados pela Justiça Eleitoral por compra de votos. Em nova eleição no ano passado, Edmilson Meireles (MDB) assumiu o Executivo municipal  e se coloca como pré-candidato ao cargo que ocupa, no próximo pleito.

ANÁLISE: O PROCESSO SUCESSÓRIO

Para avaliar esse mecanismo de sucessão pelo qual os municípios passam a cada quatro anos no Espírito Santo e no Brasil, A Gazeta conversou com dois cientistas políticos, que explicaram a causa desse processo e também o objetivo dele.

Na visão de João Gualberto Vasconcellos são três as motivações. "A primeira é garantir a sobrevivência do grupo político ao qual o prefeito pertence e a segunda é dar sequência às políticas implantadas, já que o adversário, quando vitorioso, costuma parar projetos implantados pela gestão passada – o que é um verdadeiro inferno na política brasileira", comentou.

Quando o prefeito escolhe antes um só candidato para apoiar, as chances de sucesso são maiores, de acordo com o cientista político. Prefeito de Vitória, Luciano Rezende já definiu apoio a Gandini. (Diego Alves)

A terceira motivação também aparece interligada, justamente, ao risco da permanência de um mesmo grupo político no poder. "Quando o inimigo ganha, ele pode querer encontrar ou criar defeitos e tende a fazer uma crítica permanente. Ou seja, nesse processo de sucessão, os prefeitos também tentam se proteger."

O eleitor, então, precisa ficar atento e avaliar caso a caso. "A transferência de votos não é automática e o sucessor precisa ter a cara do prefeito, tem que ser simbolicamente a continuidade dele. Se o prefeito fez um bom mandato, ele deve ter mais a mostrar do que esconder, mas isso varia. É um risco que se corre", alertou.

Já para Fernando Pignaton, esse processo de sucessão se deve à estrutura frágil dos partidos no Brasil. "É o que eu chamo de empreendedorismo político, pelo qual as pessoas usam a política para fazer carreiras pessoais, já que muitas vezes os partidos têm uma estrutura menor que a de um deputado, por exemplo, que possui diversos assessores."

Na visão dele, portanto, o fenômeno é basicamente negativo. "Esse tipo de politização personalista e individual desvirtua o debate político nas cidades e distorce a representação política. As estratégias e a continuidade ficam prejudicadas por causa dessa inversão de valores a favores que podem ser feitos no futuro pelos envolvidos na sucessão", concluiu.

CONFIRA OS PLANOS DOS PREFEITOS REELEITOS EM 2016

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