O período de lançamento de pré-candidaturas à Prefeitura de Cariacica começa a dar o tom do que será a campanha eleitoral no município nas Eleições 2024. O clima entre os partidos que compõem a Federação Brasil da Esperança — PT, PV e PCdoB — já havia esquentado, quando duas opções surgiram para ser o nome do grupo partidário na disputa, apesar da obrigatoriedade de candidatura única. No movimento mais recente do tabuleiro político, o presidente municipal do PV, o ex-vereador César Lucas (Cesinha), declarou apoio à reeleição de Euclério Sampaio (MDB), um adversário da própria federação.
E o apoio não foi velado. Na última segunda-feira (17), quando lançou sua pré-candidatura a vereador de Cariacica, Cesinha recebeu Euclério Sampaio no palco e afirmou que vai atuar pela reeleição do prefeito, de quem foi líder de governo na Câmara Municipal, antes de perder o mandato por determinação da Justiça Eleitoral. Mas a federação já tem duas alternativas: a professora Célia Tavares (PT), cujo nome foi confirmado pelo partido no sábado (15), e o ex-vereador Heliomar Novais, lançado pré-candidato pelo PV ainda em maio.
A federação partidária consiste na união de duas ou mais legendas para atuarem como se fossem um só. Nessa composição, as siglas funcionam como um único partido no Congresso. A aliança do PT, PV e PCdoB foi constituída em 2022 e só poderá ser desfeita em 2026, pois o acordo é válido por quatro anos. Assim, para a disputa à prefeitura, os partidos têm que entrar em consenso porque só podem ter um candidato.
Em entrevista para A Gazeta nesta quarta (19), Cesinha disse que, até as convenções, quando são definidos aqueles que vão realmente concorrer às eleições, vai trabalhar para que a federação, assim como ele, se alinhe ao projeto de Euclério. As convenções serão realizadas de 20 de julho a 5 de agosto, período em que são feitas as deliberações sobre as candidaturas, que devem ser registradas até 15 de agosto junto à Justiça Eleitoral.
Isso porque, pelas regras vigentes, se a federação tem candidato próprio, o grupo não pode abraçar candidatura de outro partido. Mas, para o presidente do PV, Célia Tavares não tem o apoio necessário para seguir como o nome a representar a federação. Quanto a Heliomar, que é do seu partido, Cesinha já iniciou conversas para que ele abra mão da disputa.
Cesinha alega que a professora não tem aprovação integral nem mesmo do próprio partido, ao se apegar a uma fala do presidente do diretório municipal do PT, Luiz Gaurink, de que uma ala de petistas estaria apoiando a reeleição de Euclério Sampaio. O dirigente, entretanto, recuou nessas declarações e, em entrevista para a colunista Letícia Gonçalves, ressaltou que todas as correntes do partido vão caminhar com Célia na campanha eleitoral.
Para Cesinha, entretanto, a solução para o impasse não deve ser da cúpula, mas da base. "A decisão de uma candidatura da federação não está tomada. Está decidido pelo PT, e não pela federação. Temos ainda o PV e o PCdoB. Vamos trabalhar a retirada do Heliomar. Vamos ouvir o povo."
Questionado sobre a real possibilidade de a federação ter um nome para disputar a Prefeitura de Cariacica e como planeja se posicionar, Cesinha preferiu não fazer conjecturas, mas admitiu que nem mesmo a sua pré-candidatura é definitiva, uma vez que sua permanência na aliança partidária pode obrigá-lo a se afastar do prefeito.
Diante das manifestações do dirigente municipal, o presidente estadual do PV, Fabrício Machado, não entrou no debate. Ele observou que o partido tem boa relação com Euclério Sampaio e também não tem qualquer divergência com Célia Tavares e respeita as candidaturas do PT.
"Estou permitindo que o município faça o seu debate interno para pacificar um nome único, mas não é uma decisão municipal. A gente vai seguir a direção nacional", frisou Machado, acrescentando que, em algum momento, Cesinha vai ter que tomar uma decisão sobre o caminho que vai seguir porque não pode se opor à federação.
Célia Tavares ressaltou que o grupo vai ter um representante para disputar a prefeitura. "Dentro da federação, cada um dos três partidos pode lançar nomes. E a federação terá candidaturas porque é uma decisão nacional. Não existe isso de retirar o nome, não. Se o PV vai retirar o Heliomar, o meu não vai sair", reforçou.
O imbróglio da federação em Cariacica pode ter consequências para Cesinha, se descumprir o que prevê as regras da aliança. O advogado Marcelo Nunes, especialista em Direito Eleitoral, pontuou que é preciso analisar como cada partido regula a questão dos apoios para não ser caracterizada a infidelidade partidária.
"Não se pode fazer material de campanha casado, nem propaganda eleitoral conjunta. Mas é preciso discutir internamente, caso alguém queira fazer um apoio informal a candidato de outro partido. Se não houver objeção, não haveria problema", explicou Marcelo Nunes, complementando que, no caso de Cariacica, não se pode ainda exigir fidelidade porque não há uma definição de candidatura da federação.
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