O ex-coordenador de Serviços Gerais da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) Edward Dickson de Freitas, irmão da senadora Rose de Freitas (MDB), e o ex-coordenador de Tecnologia da Informação da empresa pública e primo da parlamentar Ricardo Saiter Mota foram soltos nesta segunda-feira (17). Os dois estavam presos desde a última quarta-feira (12), em decorrência da Operação Corsários, da Política Federal (PF), que apura indícios de corrupção na estatal que administra o Porto de Vitória.
Edward e Ricardo estavam no Centro de Detenção Provisória (CDP) 2, em Viana, de acordo com a Secretaria de Estado de Justiça (Sejus). Eles foram alvos de mandado de prisão temporária, que tem prazo de duração de cinco dias e pode ser prorrogado por mais cinco. Pelo período, o pedido de detenção não foi estendido, já que eles foram liberados após o quinto dia de prisão. A operação está sob sigilo.
De acordo com a PF, os ex-coordenadores da Codesa são apontados como membros de uma organização criminosa que atuou na estatal, que interferia em licitações, superfaturava contratos e desviava recursos públicos.
Rose de Freitas foi alvo de mandados de busca e apreensão na quarta-feira. A PF esteve no apartamento funcional da senadora, em Brasília, e em uma residência dela, em Vitória, onde apreendeu documentos e computadores. De acordo com a investigação, a emedebista tinha controle político das nomeações de cargos-chave na estatal do setor portuário.
A investigação, conforme a PF, contou com a colaboração da atual gestão da Codesa, que, em auditoria realizada, estima que a organização criminosa pode ter desviado cerca de R$ 9 milhões somente em dois contratos. A operação teve início a partir de uma denúncia de exigência de vantagens ilícitas por servidores da Codesa em um contrato de locação de veículos. Os crimes ocorreram entre os anos de 2015 e 2018, de acordo com a polícia.
Para receber os recursos desviados, o grupo investigado utilizava um escritório de advocacia, responsável por simular a prestação de serviços advocatícios para lastrear a movimentação dos valores. As investigações revelaram ainda que a lavagem do dinheiro ilegal também ocorria por meio da compra de imóveis de luxo e do pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.
Edward de Freitas e Ricardo Saiter foram exonerados em 2019, quando a Codesa trocou de comando. Saiter é, atualmente, secretário parlamentar do gabinete de Rose de Freitas no Senado, com salário de R$ 17.992,56.
Além dos dois familiares de Rose, uma terceira pessoa foi presa em flagrante em Brasília, por porte ilegal de arma, durante a operação. Ela foi liberada após pagar fiança. O valor não foi divulgado.
Como a operação atinge uma parlamentar em exercício, que tem foro privilegiado, os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda mantém a investigação sob sigilo.
Por meio de nota, divulgada na quarta, Rose de Freitas afirmou que nunca cometeu "nenhum ato ilícito ao longo dos oito mandatos exercidos na vida pública". A parlamentar disse ter sido surpreendida pelos mandados de busca e apreensão e pelas prisões.
A reportagem tenta contato com os advogados de Edward e Ricardo, que ainda não foram localizados. O espaço está aberto para a manifestação da defesa dos dois ex-coordenadores da Codesa.
Confira a nota completa enviada pela senadora, na última quarta-feira:
Fui surpreendida hoje, às 9h, pelo mandado de busca e apreensão expedido pelo ministro Nunes Marques, do STF, no meu apartamento funcional onde resido, em Brasília. Desconheço, até o momento, as razões do mandado e reafirmo não ter cometido qualquer ato ilícito ao longo dos oito mandatos exercidos na vida pública. Fui igualmente surpreendida pelas prisões de meu irmão e de meu assessor, realizadas no estado do Espírito Santo.
Confio no reestabelecimento da verdade e na apuração das possíveis motivações que ensejaram tamanha agressão. Identifico claramente uma tentativa de desabonar minha honra e dignidade. Não cederei a pressões de qualquer natureza, venham de onde vierem. Providências legais cabíveis estão sendo tomadas para que os fatos sejam devidamente esclarecidos e apurados. Sempre exerci com coragem, ética e dedicado trabalho os mandatos que honradamente recebi do povo do Espírito Santo. Todos os demais esclarecimentos serão prestados pelos nossos advogados, que se pronunciarão oportunamente.
A Codesa também foi procurada para se posicionar sobre a operação, mas se limitou a dizer que as informações estavam a cargo da Polícia Federal.
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