Com a iminente filiação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Patriota, a legenda pode viver uma situação curiosa no Espírito Santo em 2022. Atualmente presidido no Estado pelo deputado estadual Rafael Favatto, considerado integrante da base de Renato Casagrande (PSB), a sigla deve apoiar outro candidato a governador em 2022.
O ex-deputado federal e principal adversário do governador em 2018, Carlos Manato (sem partido), tem conversado com Favatto há pelo menos três meses, desde que a possibilidade de Bolsonaro ir para o Patriota começou a ser ventilada. Manato não esconde o desejo de voltar a se candidatar a governador no partido em que Bolsonaro se filiar.
Caso a movimentação se confirme, Manato e Favatto já têm um "acordo de cavalheiros". Nele, o deputado estadual se mantém à frente da presidência do partido e organiza as chapas proporcionais, com os candidatos a deputado estadual e a deputado federal, enquanto Manato fica responsável por fomentar a chapa majoritária, para os cargos de governador e senador.
"Não tenho interesse em assumir a presidência do partido. O Favatto vai cuidar da proporcional e eu da majoritária. Eu tenho respeitado a todos, mas trabalho pela minha candidatura a governador, tenho recebido apoio dos movimentos conservadores do Espírito Santo. Caso Bolsonaro se filie ao Patriota, o partido vai ter candidatura própria. Se o Favatto quiser apoiar Casagrande, será uma opção dele. Não vejo nada demais nisso. O que está combinado não sai caro", afirmou Manato.
Entre membros do governo, o assunto ainda tem sido tratado com cautela. Favatto é visto como parceiro de Casagrande mais alinhado à atual gestão do que ao bolsonarismo. No entanto, para pessoas próximas ao governador, presidir um partido com candidatura contrária e estar ao lado do governo é tão impossível como misturar água e óleo.
"A relação dele com o governo é muito boa. Há entrosamento, as emendas dele têm sido executadas. Eu imagino que ele ficará ao nosso lado na eleição para governador, mas, se ele quiser seguir outro caminho, é prerrogativa dele e respeitamos também", analisa, reservadamente, um membro do partido do governador.
Durante a visita de Jair Bolsonaro ao Espírito Santo, na última sexta-feira (11), Favatto fez parte da comitiva que acompanhou o presidente até São Mateus. Nas redes sociais, o parlamentar registrou os bastidores da agenda. "O Estado te ama, presidente”, escreveu. Ele se despediu de Bolsonaro às 17h20, quando o presidente decolou no Aeroporto de Vitória.
Pouco mais de 14 horas depois, no sábado (12), às 8h, Favatto participou de uma agenda com Casagrande em Domingos Martins, no aniversário do herói capixaba que dá nome à cidade, onde também foi assinada uma ordem de serviço para o programa de calçamento rural. Em um discurso do parlamentar, registrado no site do governo, ele fez elogios ao governador.
"O governador tem dado mais condições ao homem do campo, não só em Domingos Martins, mas em todas as cidades do Espírito Santo. Até mesmo as obras que ficam escondidas, que ninguém quer fazer, o governador faz, como o saneamento em Vila Velha. O maior legado que será deixado para o futuro é um Estado organizado", pontuou.
No próximo dia 16, o presidente da República vai se reunir com deputados federais e senadores para discutir a filiação ao Patriota. A tendência é que ele confirme sua entrada no partido e oriente sua base em relação a eleição de 2022. Uma das convidadas para a reunião é a deputada federal Soraya Manato (PSL).
Mesmo com o movimento do presidente, ela não deve ir para o Patriota, para não atrapalhar as articulações com membros mais antigos do partido no Espírito Santo, que também desejam uma cadeira na Câmara dos Deputados. Essa seria uma das "cláusulas" do acordo entre Manato e Favatto, segundo o ex-deputado federal.
Na Assembleia, o partido conta com uma das maiores bancadas no Legislativo e vai buscar a reeleição dos seus três deputados: Favatto, Capitão Assumção e Marcos Madureira.
Outros deputados bolsonaristas, como Torino Marques (PSL) e Danilo Bahiense (sem partido), não fazem parte dos planos do Patriota. Bahiense, inclusive, tem conversas para ir para o PTB, outra sigla alinhada ao presidente.
Embora não seja o maior defensor de Casagrande na Assembleia, Favatto tem elogiado o governo em discursos e participado de agendas ao lado do governador. Há duas semanas, em um evento restrito, o governador o convidou para a assinatura de uma lei de incentivo a produtores de bebidas alcoólicas artesanais.
Dentro do governo, em levantamento feito pela reportagem, 44 pessoas lotadas em cargos comissionados são filiadas ao Patriota – o que não significa, necessariamente, que todos são indicações do partido.
Fundado em 2011, como PEN (Partido Ecológico Nacional), o Patriota só mudou de nome em 2018, quando Bolsonaro flertou com a agremiação antes de se filiar ao PSL. No Estado, a legenda tem crescido a cada eleição. Apesar de nunca ter eleito um prefeito, chegou, em 2020, a disputar a Prefeitura de Vitória, com o deputado estadual Capitão Assumção, que ficou em 4º lugar, com 7% dos votos.
Nas Câmaras, o partido elegeu 25 vereadores no Estado, oito cadeiras a mais do que havia conquistado na eleição anterior, em 2016. Atualmente, o Patriota conta com 6.812 filiados no Espírito Santo. Em 2019, eram apenas 1.784.
Procurado pela reportagem para falar sobre os possíveis impactos com a provável filiação de Bolsonaro, Favatto respondeu, por meio de nota: "No Espírito Santo, nada mudará com a chegada do presidente no partido", resumiu.
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