A noite do último domingo, dia 30 de outubro, foi de festa e comemoração na casa do policial militar aposentado Givaldo Inácio da Silva, de 70 anos. Os momentos de ansiedade durante a apuração dos votos foram logo substituídos pela alegria de ver um familiar eleito presidente da República. Mestre Gil, como Givaldo é mais conhecido, é primo de primeiro grau de Luiz Inácio Lula da Silva.
Morador da Serra, ele espera ser convidado, pela terceira vez, para ir à posse do primo, em Brasília. “Estou bem animado. Vou esperar o convite. Se mandarem, com certeza irei”, revela.
A comemoração da vitória foi com a família e vizinhos. “Foi só alegria. No início foi muita emoção, mas tinha certeza que seria como no primeiro turno, quando ele virou a partir de 60% da votação. Mas quando abriram as urnas das pessoas que necessitam de mudança, o coração brasileiro pulsou mais forte”, relatou.
Agora eleito, Givaldo espera que seu primo consiga vencer um dos principais desafios do Brasil: a fome. “Como ele disse em seu discurso na Avenida Paulista, e vem falando ao longo da campanha, é inadmissível o país ser o primeiro produtor de grãos do mundo e ainda termos brasileiros passando fome”.
E se emociona ao lembrar de um senhor que estava com um cartaz durante o discurso de Lula, que dizia: “A fome dói”. E acrescenta: “Isto é muito triste. Como é bom ter uma mesa farta, mas dói quando você vê o seu semelhante passando fome”, desabafa, em meio a lágrimas.
Ele também torce para que Lula consiga unir o país. “Nós temos que fazer do nosso país um país de irmãos, onde eu veja em você a minha irmã e não a minha inimiga. A bandeira do Brasil é nossa, ela é do brasileiro, e do país, o Brasil é nosso”, diz.
Na primeira posse de Lula, Givaldo foi à Brasília sozinho. Encarou uma viagem de ônibus, de 20 horas. Na segunda vez, foi com a esposa, a economista Angelina Jucá. “Foram momentos em que reunimos a família, que é muito grande, conhecemos primos, uma grande alegria”, relata.
Mestre Gil é filho de Manoel Inácio da Silva, irmão do pai de Lula, Pedro Inácio da Silva. “Eu sou de Canhotinho e Lula de Caetés, ambos distritos de Garanhuns, interior de Pernambuco. Ele perdeu o contato com o primo na infância, quando a família de Lula se mudou para São Paulo e, posteriormente, Givaldo foi para Brasília, quando passou em um concurso da PM local.
Ele voltou a rever o petista quando estavam em lados opostos: Lula era sindicalista do ABC Paulista e Givaldo agente do Serviço de Inteligência da Polícia Militar, em Brasília, corporação da qual fez parte durante 25 anos.
Givaldo chegou a visitar Lula na prisão, no antigo DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) de São Paulo. “Fui para o conhecer. Na época da ditadura você não podia abrir a boca demais. Ele não falou e eu também não, ou iam achar que a gente estava junto e trazer problemas tanto para ele quanto para mim”, relata.
O reencontro com Lula aconteceu em 1999, no Comitê do PT, em Vitória. Após mais de 20 anos de separação, a conversa foi rápida. “Ele queria saber como eu vim parar no Espírito Santo, terra que ele considera maravilhosa. Eu respondi: fugindo da seca”, brincou.
Anos depois, Givaldo voltou a reencontrar o primo em outra visita ao Espírito Santo do então candidato Lula à Presidência da República. Desta vez ele ganhou uma foto autografada.
Ao longo dos anos os contatos foram menores. “Alguns telefonemas. A vida dele é bem agitada”. Quando Lula esteve preso, em Curitiba, Givaldo e a esposa foram fazer uma visita. “Fomos barrados pela Polícia Federal, queriam que esperássemos mais 30 dias para falar com ele, o que não foi possível”, relata.
Mestre Gil mora há mais de 30 anos no Espírito Santo. “Vim conhecer a terra, me apaixonei e decidi morar aqui após me aposentar na PM de Brasília. Agora já sou cidadão capixaba, com título da Assembleia Legislativa”, conta.
Durante muitos anos ele atuou na Defesa Civil da Serra. Givaldo é espiritualista e mestre do Centro Vale do Amanhecer, na Serra.
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