Com a proximidade das Eleições 2024, os candidatos começam a divulgar os planos de governo e as promessas de melhorias durante os mandatos. Mas quais são as reais necessidades dos municípios? A CBN Vitória apresenta uma série especial justamente para discutir, com especialistas, temas que afetam o dia a dia da população, já que o pleito deste ano é o que mais aproxima o eleitor do seu representante. O primeiro episódio aborda as dificuldades e os desafios da mobilidade urbana, com o professor da área de transportes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pós-doutor em Engenharia de Transportes, Rodrigo Rosa.
“A Guarda Municipal não deveria ser um elemento de multa e punição, mas um elemento de ordenamento. Por exemplo, os grandes pontos de engarrafamento — que sabemos quais são em Vitória, Cariacica e Serra — poderiam ser mais bem tratados se a Guarda Municipal estivesse nesses cruzamentos e todos os sinais fossem colocados em amarelo.”
O professor destaca que essa medida é simples e pode ser feita com os recursos que já existem, sem representar um custo adicional. “Isso não é solução final ou ideal, mas seria um paliativo até as obras estruturantes serem feitas e já poderia amenizar a situação”, completa o professor.
Para Rodrigo Rosa, onde o gargalo é frequente, a sinalização pode ajudar a gerenciar o fluxo de veículos, mas, em determinadas situações, pode ter o efeito contrário e prejudicar ainda mais o trânsito. “Na saída da Segunda Ponte, já fizeram obras e, mesmo assim, continua 'entalando' o trânsito, porque você tem três semáforos, um deles em cima da rodoviária. É um viaduto, poderia deixar o trânsito fluir, assim como na Vila Rubim. No horário normal, tudo bem deixar o ordenamento do semáforo, mas, nos horários de pico, a abertura faria aquilo tudo fluir.”
Outra sinalização que pode atrapalhar o engarrafamento é o redutor de velocidade, já que, segundo o especialista, onde há indicação de 70 km/h, por exemplo, o motorista passa a 40 km/h. “E não adianta dar fluidez na ponte se os acessos estão péssimos. Na descida da Terceira Ponte, há um redutor de velocidade que pode gerar a retenção de muitos veículos nas ruas. No horário de pico, que não dá para correr porque as vias estão lotadas, tirar os redutores de velocidade faria o trânsito andar [...]."
O professor explica que, para pensar em soluções eficientes para a mobilidade urbana, é preciso, primeiramente, investir em estudos que vão mapear o fluxo de pessoas entre os municípios para identificar as necessidades específicas de cada região nos dias atuais. “Se você não tem uma pesquisa de origem e destino, não consegue saber, efetivamente, quais são os fluxos e os volumes que precisa atender.”
“A gente precisa entender onde estão esses fluxos de mobilidade para pensar em projetos estruturantes. A gente precisa de uma quarta ponte ou direcionar o fluxo para o Contorno?”, questiona Rosa. "Precisamos ter um ordenamento de novos caminhos, que são possíveis." De acordo com ele, essa pesquisa foi feita pela última vez no Espírito Santo em 1994 e é de grande importância, porque é o pontapé na criação de projetos eficazes.
Terminar o contorno que liga Cariacica à Serra seria uma boa alternativa para os problemas de trânsito na Região Metropolitana, segundo Rodrigo, mas ele enfatiza que as obras intermináveis impedem a melhoria do fluxo por aquela rota. “Por que uma pessoa que mora em Cariacica precisa passar pela Segunda Ponte, atravessar Vitória para chegar à Serra? Ele poderia sair pelo Contorno, mas está um caos na chegada em Cariacica, porque a obra não termina nunca.[..]."
Para o especialista, uma proposta para esse trajeto seria implementar um outro meio de transporte. "É um local que poderia fazer um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)”, sugere, enfatizando que a mobilidade urbana na Região Metropolitana precisa ser discutida por todos os envolvidos. “Não adianta fazer projetos em Vila Velha, Vitória, Serra e Cariacica se não houver um pensamento integrado entre as prefeituras e o Estado."
Outras possibilidades que Rodrigo sugere são a criação de acessos para transformar a Avenida Leitão da Silva e a Reta da Penha em um binário e a retirada da Praça do Cauê, em Santa Helena, para um ponto que também fosse próximo à Escola Fernando Duarte Rabelo, para acabar com o engarrafamento nos acessos à Terceira Ponte.
“Uma mobilidade que não é urbana, mas não podemos esquecer, diz respeito aos pequenos municípios que têm distritos rurais. Você isola as comunidades com estradas muito ruins. Quando você leva uma acesso decente a esses distritos você melhora a economia, fixa o homem no campo e melhora até os custos dos produtos que vão chegar a Ceasa, por exemplo”
A bicicleta, apesar de ser uma solução sustentável e que reduz as emissões de carbono na Região Metropolitana, além de diminuir os gargalos, não é uma solução na visão de Rodrigo Rosa, porque esse modelo de transporte não se encaixa na realidade de grande parte dos trabalhadores, que chega a se deslocar 20 ou 30 km para chegar ao serviço. “A bicicleta não é um elemento que vai realmente transportar as pessoas da origem até o destino”, afirma o especialista. “Já com os ciclomotores, existe uma discussão: se for para dentro da via, pode pôr em risco quem está conduzindo e os carros; se vai para ciclovia; coloca em risco as bicicletas.”
“A primeira coisa é que transporte público não dá lucro, precisa ser subsidiado pelo governo. A segunda coisa é que é muito difícil atender situações pendulares: no horário de pico, você precisa de muitos ônibus; fora desse horário, os ônibus ficam vazios e isso gera um custo adicional”, explica Rodrigo.
O professor destaca que, sem estudo de origem e destino, não é possível saber com precisão quais são as dificuldades de cada rota, atender a demanda dos municípios e se preparar para os novos fluxos. “Aracruz está crescendo, tem um porto para entrar ano que vem, e isso gera mão de obra [...] Com isso, os fluxos serão diferentes e será preciso um meio de transporte para esses novos trabalhadores.”
Rosa também fala sobre os problemas do sistemas do aquaviário, como a propulsão dos motores das lanchas, que são poluentes, e sobre a criação de uma linha de ônibus expressa que passe pela Rodovia do Contorno.
Para ouvir a entrevista completa, acesse: https://open.spotify.com/episode/1Zv8Dzuljn0aNBCQHaZ1Ut?origin_r=leiaag
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