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Os desafios da mobilidade urbana na Região Metropolitana de Vitória

Os desafios da mobilidade urbana na Região Metropolitana de Vitória

Série da CBN Vitória aborda, com especialistas, temas que afetam a população no dia a dia no contexto das eleições municipais deste ano

Publicado em 6 de agosto de 2024 às 10:31

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Com a proximidade das Eleições 2024, os candidatos começam a divulgar os planos de governo e as promessas de melhorias durante os mandatos. Mas quais são as reais necessidades dos municípios? A CBN Vitória apresenta uma série especial justamente para discutir, com especialistas, temas que afetam o dia a dia da população, já que o pleito deste ano é o que mais aproxima o eleitor do seu representante. O primeiro episódio aborda as dificuldades e os desafios da mobilidade urbana, com o professor da área de transportes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pós-doutor em Engenharia de Transportes, Rodrigo Rosa.

Mobilidade urbana, problema comum na Grande Vitória
Região Metropolitana de Vitória tem diversos pontos críticos na mobilidade urbana. (Vitor Jubini)

Guarda Municipal de Trânsito

“A Guarda Municipal não deveria ser um elemento de multa e punição, mas um elemento de ordenamento. Por exemplo, os grandes pontos de engarrafamento — que sabemos quais são em Vitória, Cariacica e Serra — poderiam ser mais bem tratados se a Guarda Municipal estivesse nesses cruzamentos e todos os sinais fossem colocados em amarelo.”

O professor destaca que essa medida é simples e pode ser feita com os recursos que já existem, sem representar um custo adicional. “Isso não é solução final ou ideal, mas seria um paliativo até as obras estruturantes serem feitas e já poderia amenizar a situação”, completa o professor.

Sinalização

Para Rodrigo Rosa, onde o gargalo é frequente, a sinalização pode ajudar a gerenciar o fluxo de veículos, mas, em determinadas situações, pode ter o efeito contrário e prejudicar ainda mais o trânsito. “Na saída da Segunda Ponte, já fizeram obras e, mesmo assim, continua 'entalando' o trânsito, porque você tem três semáforos, um deles em cima da rodoviária. É um viaduto, poderia deixar o trânsito fluir, assim como na Vila Rubim. No horário normal, tudo bem deixar o ordenamento do semáforo, mas, nos horários de pico, a abertura faria aquilo tudo fluir.”

Outra sinalização que pode atrapalhar o engarrafamento é o redutor de velocidade, já que, segundo o especialista, onde há indicação de 70 km/h, por exemplo, o motorista passa a 40 km/h. “E não adianta dar fluidez na ponte se os acessos estão péssimos. Na descida da Terceira Ponte, há um redutor de velocidade que pode gerar a retenção de muitos veículos nas ruas. No horário de pico, que não dá para correr porque as vias estão lotadas, tirar os redutores de velocidade faria o trânsito andar [...]." 

Pesquisa de origem e destino

O professor explica que, para pensar em soluções eficientes para a mobilidade urbana, é preciso, primeiramente, investir em estudos que vão mapear o fluxo de pessoas entre os municípios para identificar as necessidades específicas de cada região nos dias atuais. “Se você não tem uma pesquisa de origem e destino, não consegue saber, efetivamente, quais são os fluxos e os volumes que precisa atender.”

“A gente precisa entender onde estão esses fluxos de mobilidade para pensar em projetos estruturantes. A gente precisa de uma quarta ponte ou direcionar o fluxo para o Contorno?”, questiona Rosa. "Precisamos ter um ordenamento de novos caminhos, que são possíveis." De acordo com ele, essa pesquisa foi feita pela última vez no  Espírito Santo em 1994 e é de grande importância, porque é o pontapé na criação de projetos eficazes.

Obras para o trânsito fluir

Terminar o contorno que liga Cariacica à Serra seria uma boa alternativa para os problemas de trânsito na Região Metropolitana,  segundo Rodrigo, mas ele enfatiza que as obras intermináveis impedem a melhoria do fluxo por aquela rota. “Por que uma pessoa que mora em Cariacica precisa passar pela Segunda Ponte, atravessar Vitória para chegar à Serra? Ele poderia sair pelo Contorno, mas está um caos na chegada em Cariacica, porque a obra não termina nunca.[..]." 

Para o especialista, uma proposta para esse trajeto seria implementar um outro meio de transporte. "É um local que poderia fazer um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)”, sugere, enfatizando que a mobilidade urbana na Região Metropolitana precisa ser discutida por todos os envolvidos. “Não adianta fazer projetos em Vila Velha, Vitória, Serra e Cariacica se não houver um pensamento integrado entre as prefeituras e o Estado."

Outras possibilidades que Rodrigo sugere são a criação de acessos para transformar a Avenida Leitão da Silva e a Reta da Penha em um binário e a retirada da Praça do Cauê, em Santa Helena, para um ponto que também fosse próximo à Escola Fernando Duarte Rabelo, para acabar com o engarrafamento nos acessos à Terceira Ponte.

“Uma mobilidade que não é urbana, mas não podemos esquecer, diz respeito aos pequenos municípios que têm distritos rurais. Você isola as comunidades com estradas muito ruins. Quando você leva uma acesso decente a esses distritos você melhora a economia, fixa o homem no campo e melhora até os custos dos produtos que vão chegar a Ceasa, por exemplo”

Ciclovias

A bicicleta, apesar de ser uma solução sustentável e que reduz as emissões de carbono na Região Metropolitana, além de diminuir os gargalos, não é uma solução na visão de Rodrigo Rosa, porque esse modelo de transporte não se encaixa na realidade de grande parte dos trabalhadores, que chega a se deslocar 20 ou 30 km para chegar ao serviço. “A bicicleta não é um elemento que vai realmente transportar as pessoas da origem até o destino”, afirma o especialista. “Já com os ciclomotores, existe uma discussão: se for para dentro da via, pode pôr em risco quem está conduzindo e os carros; se vai para ciclovia; coloca em risco as bicicletas.”

Transportes públicos

“A primeira coisa é que transporte público não dá lucro, precisa ser subsidiado pelo governo. A segunda coisa é que é muito difícil atender situações pendulares: no horário de pico, você precisa de muitos ônibus; fora desse horário, os ônibus ficam vazios e isso gera um custo adicional”, explica Rodrigo.

O professor destaca que, sem estudo de origem e destino, não é possível saber com precisão quais são as dificuldades de cada rota, atender a demanda dos municípios e se preparar para os novos fluxos. “Aracruz está crescendo, tem um porto para entrar ano que vem, e isso gera mão de obra [...] Com isso, os fluxos serão diferentes e será preciso um meio de transporte para esses novos trabalhadores.”

Rosa também fala sobre os problemas do sistemas do aquaviário, como a propulsão dos motores das lanchas, que são poluentes, e sobre a criação de uma linha de ônibus expressa que passe pela Rodovia do Contorno.

Mobilidade urbana, problema comum na Grande Vitória
Região Metropolitana de Vitória tem diversos pontos críticos na mobilidade urbana. (Vitor Jubini)

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