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Quantos prefeitos venceram no 1° turno na Grande Vitória em 20 anos?

Quantos prefeitos venceram no 1º turno na Grande Vitória em 20 anos?

Pela primeira vez desde 2016, três municípios da Grande Vitória podem ter prefeitos reeleitos em 1º turno; dados levantados por A Gazeta e especialista ouvido pela reportagem explicam quais fatores podem contribuir para isso

Publicado em 2 de outubro de 2024 às 13:32

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João Coser (PT), Helder Salomão (PT), Neucimar Fraga (PSD) e Sergio Vidigal (PDT), os primeiros prefeitos eleitos em 2º turno na Grande Vitória
João Coser (PT), Helder Salomão (PT), Neucimar Fraga (PSD) e Sergio Vidigal (PDT), os primeiros prefeitos eleitos em 2º turno na Grande Vitória . (Chico Guedes e Helô Sant'Ana | Arte A Gazeta)

As Eleições 2024 parecem desenhar um cenário diferente dos últimos pleitos nas maiores cidades da Grande Vitória. Com exceção da Serra, os municípios de CariacicaVila Velha e Vitória podem ter prefeitos reeleitos já no 1º turno, segundo pesquisas eleitorais. Se os levantamentos que indicam a vantagem dos atuais chefes do Executivo dessas cidades forem confirmados nas urnas, isso quebraria uma sequência que perdura pelo menos desde 2016 nas quatro principais cidades da Região Metropolitana, em que os mandatários municipais têm sido definidos apenas no 2º turno.

No último mês, a reportagem de A Gazeta se debruçou sobre dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que mostram os prefeitos eleitos entre 2006 e 2020, e sobre atas digitalizadas do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), que registram documentalmente resultados das eleições de décadas anteriores. Com base nessas informações, foi feito um levantamento que mostra quais e quantos prefeitos conseguiram se eleger já no 1º turno.

Especialistas também foram ouvidos, com o objetivo de explicar por quais razões os eleitores da Grande Vitória têm levado as eleições para o 2º turno e por que, em 2024, esse cenário pode ser diferente.

As pesquisas realizadas pelo Ipec e pela Quaest a pedido da Rede Gazeta mostram que os atuais prefeitos de Cariacica (Euclério Sampio, do MDB), Vila Velha (Arnaldinho Borgo, do Podemos) e Vitória (Lorenzo Pazolini, do Republicanos) podem ser reeleitos já no dia 6 de outubro. Na Serra, o cenário está mais embolado. O prefeito Sérgio Vidigal (PDT) decidiu não disputar o pleito e seu indicado à sucessão, Weverson Meireles, do mesmo partido, busca uma vaga no segundo turno, assim como o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), contra o líder das pesquisas Audifax Barcelos (PP)

Desde quando há 2º turno no ES?

As regras para a realização ou não de segundo turno estão na Constituição Federal. O segundo turno ocorre apenas nas eleições para presidente da República, governadores dos Estados e do Distrito Federal e para prefeitos de municípios com mais de 200 mil eleitores. Logo, são eleitos em uma única votação os senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores, assim como prefeitos de municípios com menos de 200 mil eleitores. No Espírito Santo, os municípios que superaram esse número foram Vitória e Vila Velha, nas eleições de 2000, e Serra e Cariacica, em 2004.

Cenário em Vitória

Em Vitória, caso as urnas confirmem o que tem sido apontado nas pesquisas, Pazolini pode ser eleito em 1º turno, o que não ocorre na Capital desde 2012. O atual prefeito manteve a liderança com 53% na pesquisa Quaest divulgada em 18 de setembro. No dia 28 de agosto, ele tinha 51%, portanto, oscilou dois pontos percentuais dentro da margem de erro, que é de três pontos percentuais. Atrás dele está João Coser (PT), com 15% das intenções de voto. O petista oscilou 2 pontos percentuais para baixo, também dentro da margem de erro. No levantamento anterior, aparecia com 17%.

O pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science Antônio Carlos de Medeiros avalia que ainda é cedo para dizer se haverá ou não 2º turno na Capital. Mas, segundo ele, uma possível eleição em 1º turno estaria relacionada à diminuição da polarização nacional e à busca dos eleitores por bons gestores.

“Em todo o país está se verificando uma diminuição da força da polarização e uma opção do eleitor por fatores locais. Ao optar por fatores locais, os eleitores querem dizer que querem bons gestores. Então os chamados 'incumbentes', aqueles que estão no poder, que estão indo para a reeleição, estão com mais chances de serem reeleitos”, avalia.

Pesquisas recentes corroboram a análise de Medeiros. O levantamento da Quaest feito em agosto mostrou que 65% dos entrevistados não se consideram nem lulistas nem bolsonaristas em Vitória. Em outro questionamento aos eleitores, 46% disseram que gostariam que prefeito da Capital não fosse aliado nem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem de Jair Bolsonaro (PL).

“Terra de ninguém” 

Medeiros avalia que o eleitorado de Vitória é diferente do das outras cidades da Região Metropolitana. Para ele, a cidade é “terra de ninguém”, no sentido de não haver um clã político ou cacique dominante. 

“Isso significa que o campo está sempre aberto ao longo desses anos todos para modificações, é um eleitorado mais autônomo. Não há influência de líderes tradicionais e oligárquicos, por isso o eleitorado, mais bem informado, tem essa tendência de 2º turno. As eleições são mais disputadas, não há a predominância de um líder. É o oposto, por exemplo, do município da Serra, onde dois políticos se alternam há 28 anos”. 

Medeiros acrescenta que o eleitor de Vitória geralmente é mais bem informado, porque na Capital existe o 'fator TV'. "Em outros municípios não tem campanha na TV, apenas na rádio. Isso torna a eleição na Capital diferente. A comunicação aqui também é feita pelo debate na televisão. A televisão voltou a ter neste ano um papel importante, ao contrário das últimas, em que as redes sociais estavam mais importantes. Uma prova muito contundente disso são as eleições de São Paulo”, prossegue, referindo-se às confusões ocorridas nos debates paulistas envolvendo o candidato Pablo Marçal (PRTB).

Ainda referindo-se às eleições na Capital, Medeiros destaca que o eleitorado da cidade tem uma tendência a votar em candidatos de centro-esquerda, padrão rompido com Pazolini, considerado pelo cientista político como de centro-direita. 

“O padrão foi interrompido com a eleição do atual prefeito Lorenzo Pazolini. De 1985 até aqui, um período de 39 anos, houve uma tendência do eleitor de Vitória de optar por candidatos de centro-esquerda. Há uma série de prefeitos que podem ser classificados assim, diferentemente de Pazolini, que é de centro-direita. Mas, mesmo assim, é um eleitor que tende mais para o centro, seja mais para a esquerda, seja para a direita, e não para os extremos”, destaca o especialista.

Nos outros três municípios, a situação mais confortável é, aparentemente, a de Arnaldinho Borgo. O prefeito de Vila Velha alcançou 75% das intenções de voto na pesquisa Ipec divulgada em 23 de agosto, contra 10% de Coronel Ramalho (PL). Caso essa tendência se confirme, o atual mandatário quebrará um jejum que dura cerca de 16 anos na cidade. Em todas as eleições desde 2008, os eleitores de Vila Velha sempre levaram os candidatos para o 2º turno.

Figuras novas na política

Na avaliação de Medeiros, Vila Velha passou a ter 2º turno a partir do momento em que surgiram figuras novas na política. Caso a eleição de Arnaldinho no 1º turno se concretize, o feito também está relacionado à redução da polarização e a busca por políticos que se apresentam como bons gestores, assim como em Vitória. 

Em relação à polarização, como mostrou a pesquisa Ipec de agosto, para 50% dos eleitores da cidade canela-verde o apoio de Lula “não afetaria a vontade de votar no candidato”. Já 26% dos eleitores de Vila Velha responderam que a vontade de votar em alguém para prefeito aumentaria se esse alguém fosse apoiado por Bolsonaro. Outros 27%, porém, disseram que o apoio do ex-presidente da República faria com que tivessem menos vontade de votar num candidato a prefeito. Ou seja, o apoio de Jair Bolsonaro faz diferença para 53% do eleitorado de Vila Velha. Só que ajuda e atrapalha o candidato a prefeito na mesma medida.

“Antes de 2008, Vila Velha tinha predominância de clãs, era um peso muito forte dos 'Max', de Vasco Alves, mas depois começou a mudar com a chegada de candidatos novos. Essa renovação culminou com a eleição do atual prefeito, mas foi no segundo turno. Olhando hoje, o cenário é parecido com Vitória. Se o gestor é bem avaliado, como são Arnaldinho e Lorenzo Pazolini, caminha para ser reeleito no 1º turno”, afirma Medeiros.

Cariacica

Em Cariacica, as eleições têm sido definidas em 2º turno desde 2012, trajetória que pode ser diferente neste ano, com a reeleição de Euclério. O emedebista apareceu com 65% no cenário estimulado, seguido de Célia Tavares (PT), com 18%, em pesquisa Ipec divulgada em 26 de agosto. Assim como em Vila Velha e Vitória, o político surgiu como alguém novo na política em 2020, quando 14 nomes disputaram o pleito. 

A cidade passou a ter 2º turno quando figuras novas também começaram a aparecer entre políticos mais tradicionais. Neste ano, o fato de Euclério ser a figura “incumbente” o favorece para levar a disputa já em 6 de outubro, apesar de o cenário ainda não estar definido, mesmo com as pesquisas mostrando seu favoritismo, segundo Medeiros. 

Cenário na Serra

Diferentemente das outras cidades da Grande Vitória, na Serra o cenário é diferente e caminha para ser mais uma vez decidido em 2º turno. A polarização também não tem influenciado no voto do eleitor, e o eleitorado da Serra também poderia acabar votando no atual prefeito, o que poderia resultar em uma vitória já em 1º turno. No entanto, Vidigal decidiu não disputar a reeleição.

“Na Serra, o incumbente seria Vidigal, mas ele não vai ser candidato. Ele está tentando fazer o político que ele apoia, o Weverson, mas está tendo um pouco de dificuldade. Há uma tendência de ir para 2º turno, mas ainda não se sabe quem vem. O político novo, o Pablo Muribeca (Republicanos), pode surpreender, porque há um cansaço na Serra com o revezamento entre Audifax e Vidigal, que pode resultar em uma surpresa. Se essa surpresa for para o 2º turno, não necessariamente vai vencer a eleição”, pondera.

O levantamento feito por A Gazeta mostra que o município é o que menos teve eleições de dois turnos na Região Metropolitana. Apenas em 2016 e em 2020, os eleitores tiveram de ir às urnas duas vezes. 

Em 2016, Vidigal e Audifax disputaram o 1º turno, com Vidigal terminando com cerca de 3% dos votos a mais que o então candidato da Rede. No 2º turno, seu rival o superou e foi eleito com 51,21%. 

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