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Quatro deputados do ES assinam PEC para blindar parlamentares alvos da Justiça

Quatro deputados do ES assinam PEC para blindar parlamentares alvos da Justiça

Proposta estabelece que medidas cautelares contra deputados e análise de materiais apreendidos em residências de parlamentares precisam passar antes pelo plenário do STF

Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 15:51- Atualizado há 4 anos

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Sessão na Câmara dos Deputados para decidir se Daniel Silveira (PSL-RJ) deve ficar preso
Câmara dos Deputados: PEC foi construída em meio a insatisfação de parlamentares com os procedimentos adotados pelo STF no caso Daniel Silveira (PSL-RJ). (Michel Jesus/Câmara dos Deputados)
Rafael Silva
Repórter de Política / [email protected]

Câmara dos Deputados incluiu na pauta da sessão desta quarta-feira (24) uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deve blindar parlamentares em casos como o do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), preso em flagrante por atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e fazer apologia à ditadura militar. A proposta amplia os limites da imunidade parlamentar e já conta com assinatura de 186 deputados, quatro deles da bancada capixaba. Eram necessárias 171 assinaturas para que o texto pudesse começar a tramitar.

Dos dez deputados do Espírito Santo, assinam o texto o líder da bancada, Josias da Vitória (Cidadania); um dos vice-líderes do governo Bolsonaro, Evair de Melo (PP); Norma Ayub (DEM) e Soraya Manato (PSL). Dos quatro, apenas Evair foi favorável à manutenção da prisão de Daniel Silveira

A proposta é de que somente seja permitida a aplicação de medidas cautelares contra os parlamentares após decisão da maioria dos ministros do STF. O texto também traz uma nova norma para a análise de materiais apreendidos em operações no Congresso ou nas residências de parlamentares, que, se a PEC for aprovada, também vão precisar do aval do Supremo.

Outra inovação é em relação à regra que exige que a Polícia Legislativa seja informada e acompanhe operações nas dependências do Congresso. O texto ainda reduz o poder dos magistrados de definir onde os deputados presos em casos flagrantes deverão ficar.

A PEC, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", foi construída por determinação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e formatada por uma comissão informal de deputados designados por ele.

A convocação para a votação foi feita às pressas. Lira quer aprovar o projeto a toque de caixa.

Além de Daniel Silveira, outra parlamentar está na berlinda. A deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de mandar matar o marido, já usa tornozeleira eletrônica e o Tribunal de Justiça do Rio determinou que ela seja suspensa do mandato. A Câmara ainda precisa confirmar a medida. Se a PEC já estivesse valendo, no entanto, o TJ do Rio não poderia agir nesse caso, somente o plenário do Supremo.

Na noite de quarta-feira, os deputados aprovaram – por 304 votos favoráveis, 154 contra e duas abstenções – a admissibilidade da proposta. Dos dez deputados capixabas, cinco votaram sim para a admissibilidade. Além de Da Vitória, Soraya, Norma e Evair, que já haviam assinado a PEC, o deputado federal Amaro Neto (Republicanos) também defendeu que a proposta entrasse em discussão.

Foram contra a tramitação os deputados Felipe Rigoni (PSB), Lauriete (PSC), Helder Salomão (PT), Neucimar Fraga (PSD) e Ted Conti (PSB).

Como a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) não foi instalada, a deputada Margarete Coelho (PP-PI) foi designada para relatar a PEC. Os defensores do texto têm se movimentado para fazer ajustes na matéria e tentar chegar a um consenso maior na Casa. Para entrar em vigor, uma emenda à Constituição precisa ser aprovada em dois turnos, com ao menos três quintos do Plenário, ou seja, com o voto de 308 parlamentares. Na sequência, o Senado também precisam dar o aval para a proposta, com votação em dois turnos com um mínimo de 49 votos favoráveis dos 81 senadores.

O QUE DIZEM OS DEPUTADOS DO ES

Favoráveis à admissibilidade da proposta, Da Vitória e Soraya disseram que, apesar do apoio para que a PEC fosse apresentada, ainda não decidiram como vão votar no mérito – ou seja, na avaliação do conteúdo do texto – quando ele for à votação.

O deputado federal Felipe Rigoni, também da bancada capixaba, manifestou-se nesta quarta sobre o tema e disse que a "discussão sobre imunidade parlamentar não é uma prioridade". Ele afirma que votará contra a iniciativa.

Neucimar Fraga afirmou ter sido "surpreendido" com a apresentação da proposta. Em reunião com a bancada do partido, ele questionou os pontos propostos e tem debatido com seus correligionários para que o PSD retire o apoio à PEC. "Não podemos cometer este erro. Sugiro que a PEC seja retirada de pauta para que seja elaborada uma proposta mais adequada e, assim, evitarmos uma série de emendas posteriores."

Helder Salomão, por sua vez, afirmou que  a PEC "cria diversas amarras que dificultam a atuação do Poder Judiciário em face de eventuais abusos e até mesmo crimes perpetrados pelos Congressistas". "Defendo a constituição de uma comissão especial para discutir a matéria, melhorar o texto no sentido de delimitar de forma mais clara os limites da imunidade parlamentar, mas sem criar amarras para a atuação do Judiciário na coibição e punição de eventuais crimes", registrou, por meio de nota enviada à reportagem.

Norma Ayub, que foi uma das que assinaram para que a PEC fosse colocada em pauta, disse que ainda está estudando a matéria e não definiu como vai votar. "Apoiei a admissibilidade para colocar em discussão e participar dos debates, e assim ter a oportunidade para aperfeiçoarmos o texto. Vou seguir estudando a matéria e aguardar a reunião de líderes", disse, nesta quinta-feira (25), em nota.

Ted Conti também não definiu como vai votar, mas criticou a forma como a proposta foi apresentada, "a toque de caixa", segundo ele. Ele disse que esse formato impede que os parlamentares possam fazer uma análise mais profunda antes de votar. "Acredito que a imunidade parlamentar deve se restringir apenas aos temas relacionados ao exercício do mandato, de forma a garantir ao deputado uma segurança para legislar e fiscalizar. No entanto, se um deputado comete crime, ele deve responder pelos seus atos e não pode estar protegido para violar a lei brasileira", pontuou, nesta quinta.

A reportagem procurou os dez parlamentares da bancada para saber como se posicionam sobre o texto, mas não obteve respostas de Evair de Melo, Amaro Neto e Lauriete.

"PEC DA IMPUNIDADE"

A proposta repercutiu mal entre ministros do STF que, segundo a CNN Brasil, já a chamam de "PEC da impunidade". Os magistrados afirmaram, reservadamente à emissora, que o texto cria um "sistema superprotetor" e transforma a "imunidade em impunidade". Há a preocupação de que, se aprovada, a emenda acirre os ânimos entre o Legislativo e o Judiciário.

Para os ministros, se já estivesse em vigor, dificilmente Silveira teria sido preso. Como se trata de uma proposta de caráter penal, a lei retroagiria e, na prática, poderia tirar o deputado da prisão.

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