Com uma carreira iniciada ainda quando jovem no serviço público, seguida pelas duas primeiras tentativas já bem sucedidas em disputas eleitorais, Lorenzo Pazolini (Republicanos), de 38 anos, foi eleito prefeito de Vitória, no segundo turno, neste último domingo (29). Atualmente na cadeira de deputado estadual, o também delegado da Polícia Civil tornou-se conhecido da população em um passado recente, em meados de 2015, quando se tornou titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Na função, Pazolini trouxe a público diversas investigações, operações e prisões realizadas por ele, principalmente de acusados de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, o que o garantiu projeção em meios de comunicação.
Em 2018, ao disputar sua primeira eleição, conseguiu reunir logo em seu ingresso na vida partidária um bom capital político. Ele foi eleito deputado pelo PRP, sendo o segundo mais votado do Estado, com 43.293 votos. Especificamente em Vitória, foi o terceiro mais votado, com quase 10 mil votos.
Com um discurso de valorização dos próprios méritos, Pazolini traz em sua biografia os registros de quem prestou e passou em alguns concursos públicos muito concorridos. Formado em Direito e pós-graduado em gestão de segurança pública, ele também foi auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), aprovado no concurso aos 22 anos, até que em 2007 foi para a Polícia Civil, onde também comandou a delegacia de tóxicos e entorpecentes.
Um mês após assumir o cargo de deputado ele se desfiliou do PRP e passou cerca de um ano sem partido, já que a sigla decidiu se fundir ao Patriota e Pazolini disse não ter identificação ideológica com a nova formação. Ele era, inclusive, defensor das candidaturas avulsas.
Em abril deste ano filiou-se ao Republicanos para poder disputar as eleições municipais. O partido é o antigo PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e agora é também o partido de dois filhos de Jair Bolsonaro (sem partido), o senador Flávio Bolsonaro e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.
No Espírito Santo, o Republicanos tem como principais nomes o deputado federal Amaro Neto e o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso. Pazolini se diz situado declaradamente "na centro-direita, mas com bom senso, com análise crítica, que rejeita os extremos".
Nos dois anos como deputado estadual, coincidentes com o primeiro biênio do atual governo Renato Casagrande (PSB), o deputado foi uma das maiores pedras no sapato do governador na Assembleia, votando quase sempre contra os projetos mais importantes enviados pelo Palácio Anchieta. Ele também evitou comparecer a almoços promovidos por Casagrande com a bancada estadual.
Com o passar dos meses, Pazolini se aproximou cada vez mais de um bloco de dez deputados descontentes com Casagrande, que a princípio se autoproclamaram "independentes" mas posteriormente assumiram a postura de oposição , e que foi dando provas de coesão. Entre eles, também estão Vandinho Leite (PSDB) e Capitão Assumção (Patriota).
O ápice ocorreu no episódio da "visita surpresa ao Dório Silva", em 12 de junho, tratada pelo governo estadual oficialmente como invasão e que gerou até pedido ao Ministério Público para instauração de inquérito. A apuração foi aberta para apurar possíveis crimes praticados por Pazolini e pelos demais deputados que participaram do ato.
O grupo foi ao hospital um dia após Bolsonaro clamar a apoiadores que "arrumassem um jeito" de entrar e filmar leitos de hospital em meio à pandemia de Covid-19. Pazolini disse que apenas exerceu atividade de fiscalização, como parte de seu mandato parlamentar.
Como deputado, Pazolini também tomou algumas medidas para ter um mandato mais econômico. Com a possibilidade de nomear 21 assessores de gabinete, contratou nove. O deputado também ficou entre os que menos gastaram a cota de gabinete, que vai para gasolina, materiais e passagens.
Ele chegou também a realizar processo seletivo para escolher os servidores comissionados. Mas também fez convites pessoais, sem necessidade de passar pela seleção. Foi assim que nomeou Magna Karla Santos Malta Campos, uma das filhas do ex-senador Magno Malta (PL), como assessora de gabinete. Ela foi admitida em fevereiro de 2019 e desligada em outubro do mesmo ano, de acordo com o Portal da Transparência da Casa.
Entre os projetos de lei aprovados de autoria de Pazolini, há medidas principalmente nas áreas de segurança pública, direitos do consumidor e sobre tributos.
Um dos primeiros políticos que Pazolini caminhou ao lado, ao entrar na política partidária, foi Magno Malta. Na campanha de 2018, Pazolini esteve em palanques, eventos e igrejas com o então parlamentar. Meses antes, os dois atuaram juntos nas audiências da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos do Senado, realizadas em Vitória naquele ano e presididas por Magno.
As oitivas da CPI foram transmitidas ao vivo por Magno Malta e também na página de Pazolini, com a exposição dos presos e informações sobre vítimas, o que gerou críticas de instituições, como a Defensoria Pública.
Nas eleições para a Prefeitura de Vitória, o partido de Magno lançou outro candidato no 1º turno (o engenheiro Halpher Luiggi). O ex-senador não apareceu em nenhum momento da campanha com Pazolini. A proximidade com Magno foi, inclusive, um dos principais temas utilizados pelos adversários para desidratá-lo na campanha. O delegado, contudo, chegou a afirmar, expressamente, no debate de A Gazeta e CBN Vitória, que Magno não fará parte de seu governo e nem será seu conselheiro.
Outra apoiadora de Pazolini é a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que foi assessora de Magno. No ano passado, como deputado, ele chegou a conceder a "Comenda Ordem do Mérito Domingos Martins" da Assembleia a ela. Neste domingo, a ministra gravou vídeo parabenizando Pazolini pela vitória.
Também há aliados do ex-governador Paulo Hartung (sem partido) junto com Pazolini. Entre eles, o ex-deputado federal Lelo Coimbra (MDB), vice de Hartung no primeiro governo dele (2003/2006). O ex-governador chegou a receber Pazolini e Vandinho Leite para conversas sobre conjuntura política no ano passado, em endereço particular de sua família em Vitória.
Com o início da campanha eleitoral, o candidato do Republicanos, que adotou o lema "paz e igualdade", concentrou suas principais críticas e ataques ao candidato que representava a atual gestão, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania).
Os dois travaram uma guerra também na esfera da Justiça Eleitoral, com destaque para a ação de investigação eleitoral, a pedido de Pazolini, que culminou no cumprimento de mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Vitória e nas produtoras que prestaram serviço para Gandini, para averiguar possíveis crimes eleitorais.
Já o candidato do prefeito Luciano Rezende (Cidadania) buscou intensamente associá-lo ao ex-deputado José Carlos Gratz e seu aliado Marcos Madureira (que é o suplente de Pazolini na Assembleia), e até a uma "ameaça de retorno do crime organizado" ao Estado, mas que não deu certo do ponto de vista eleitoral, já que Gandini foi derrotado no 1º turno.
Já no segundo turno, contra João Coser (PT), houve uma campanha, especialmente nas redes sociais, para desenhar Pazolini como representante do bolsonarismo na disputa local em Vitória, rótulo que ele nunca incorporou em seus discursos.
Agora, nas primeiras declarações após eleito, Pazolini tem afirmado que vai agir com diálogo, e já teve as primeiras conversas institucionais com o governador Renato Casagrande (PSB), e com o atual prefeito de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania). O prefeito eleito afirmou: "Não esperem de mim construções ideológicas".
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