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Quem é o Centrão, recém-aliado de Bolsonaro na Câmara dos Deputados

Quem é o Centrão, recém-aliado de Bolsonaro na Câmara dos Deputados

Bloco é formado por partidos que não possuem alinhamento ideológico, mas se organizam de forma pragmática, principalmente, em busca de cargos

Publicado em 12 de maio de 2020 às 08:08

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Congresso, votação da previdência
Nos corredores do Congresso, negociações são feitas entre Centrão e Executivo: base de votos e apoio em troca de cargos e verbas. (Roque de Sá)

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem se aproximado do grupo de partidos conhecido como Centrão. Em supostas negociações de cargos, especialistas avaliam que Bolsonaro busca uma base aliada no Congresso, para se proteger em caso de abertura de processo de impeachment e tentar ganhar espaço entre os parlamentares para aprovação de projetos que favorecem o governo.

Essa prática, inspirada na frase de São Francisco de Assis “é dando que recebe”, citada por Roberto Cardoso Alves, líder do grupo na constituinte, não é novidade. Há anos partidos que se organizam de forma pragmática negociam com o Poder Executivo apoio em votações na Casa em troca de cargos e emendas que garantam maior relevância e sobrevivência na política.

QUEM FAZ O CENTRÃO?

O grupo informal, integrado por partidos de pequena e média estatura, geralmente com fortes líderes porém pouco espaço no cenário político geral, recebe o nome de “Centrão” por não apresentar nenhum alinhamento ideológico, não se situando nem como base do governo e nem como oposição. Ou seja: partidos que, dentro do espectro político, não se encontram nem à direita e nem à esquerda, mas flutuam por conveniência entre os polos. Os que ali estão se aliam de forma pragmática e estratégica para votar da mesma maneira sobre determinados projetos.

O cientista político Nauê Bernardo Azevedo explica que “o bloco serve como uma base de sustentação para governos, já que representam aproximadamente 200 votos no Congresso”, número relevante que “por mais que não consiga, sozinho, aprovar um projeto de lei, pode barrar um projeto de emenda constitucional, um processo de impeachment e outros projetos contrários aos interesses do governo.”

Azevedo aponta que é difícil precisar quem são exatamente os rostos que participam do grupo, já que muitos partidos negam o título mas mantêm um alinhamento com o bloco, como é o caso de legendas grandes como Partido Social Democrático (PSD), que conta com 36 parlamentares, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) com 34 e do Democratas (DEM) com 28.

Os partidos que são abertamente considerados parte do bloco são: Partido Progressista (PP), que tem 40 deputados; Partido Liberal (PL), com 39; Republicanos, com 31; Solidariedade, com 14; e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com 12.

Siglas com menor representatividade também flutuam com o bloco: Partido Republicano da Ordem Social (PROS), com 10 representantes; Partido Social Cristão (PSC), com 9; Avante, com 7 e o Patriota, com 6.

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Nem oposição e nem situação. Esse é o Centrão. Estão lá com postura mais independente e querem se alimentar daquilo que o Poder Executivo pode oferecer

Nauê Bernardo Azevedo
Cientista político
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O QUE QUER O CENTRÃO?

Sem um compromisso ideológico, as legendas que formam o Centrão se veem livres para se adequar ao posicionamento de quem está disposto a negociar. Em troca dos numerosos votos, visam cargos que podem conferir uma vida política mais ativa para os parlamentares.

“Cargos também dizem respeito a acesso ao orçamento, distribuição de emendas, liberdade de direcionar políticas públicas, mais tempo de mídia relevante, ou seja, buscam uma garantia de acesso mais rápido a instrumentos de poder para sobreviver politicamente”, explica Azevedo.

São cargos de influência dentro e fora de Brasília. Entre os que estão sendo oferecidos por Bolsonaro, de acordo com fontes ligadas ao governo levantadas pela "Folha de S.Paulo", estão: Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), Porto de Santos, Banco do Nordeste, Departamento Nacional de Obras contra as secas (DNOCS), Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e secretarias ministeriais.

Ao ter acesso a esses espaços ou a uma maior liberação de emendas, os parlamentares conseguem atender mais demandas de suas bases eleitorais e, assim, garantir mais tempo de vida na política. “As emendas, por exemplo, servem para atender os eleitores através de obras em diversas áreas, como na saúde”, ressalta o professor do departamento de ciências políticas da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira.

COMO ATUA O CENTRÃO?

Oliveira não concorda com a existência de um bloco que possa ser intitulado como Centrão, mas admite a existência de partidos independentes que atuam de maneira conectada para ter mais força.

Esses partidos, que se dizem independentes mas tomam decisões conjuntas, tiveram grande peso em decisões que marcaram a história política do país. Com a eleição de Eduardo Cunha (MDB) para presidência da Câmara dos Deputados, em 2015, contra o candidato apoiado pelo governo, Arlindo Chinaglia (PT), o bloco ganhou mais força. “Cunha agregou parlamentares que estavam insatisfeitos com o governo Dilma. A força passou a ser mais que numérica, se tornou determinante”, aponta Azevedo.

Com Cunha na presidência da Casa, o bloco teve importante papel em inúmeras derrotas do governo Dilma no Congresso, desde tentativas de aprovação de pautas econômicas, por exemplo a reforma da previdência até chegar a abertura do processo de impeachment da ex-presidente. “Ou o governo entra no jogo ou perde, porque eles têm número batente pra decidir”, assinala o especialista.

Para ilustrar o caráter flutuante do bloco, Ciro Nogueira, presidente do PP, tomou café com Dilma no mesmo dia em que apoiou seu afastamento. Em eventos mais recentes, Rodrigo Maia (DEM), eleito presidente da Câmara com apoio do bloco, havia buscado aliança com governo por meio do ministro da economia, Paulo Guedes, mas após derrotas do governo, por exemplo com vetos importantes no texto da reforma da previdência e o atraso para outras votações de interesse do executivo, Bolsonaro tem buscado líderes partidários do centrão para se proteger e, de acordo com matérias de bastidores, isolar Maia.

A "VELHA" E A "NOVA" POLÍTICA

Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro diz repudiar as práticas de “toma-lá-da-cᔠexecutadas pela chamada “velha política”. Para Oliveira, é normal que partidos políticos negociem para conquistar mais espaço e poder político. Para Azevedo, também, é preciso deixar claro que política se faz com negociação. “Precisamos diferenciar essas práticas da boa política. Existe o sentar e negociar que é necessário. Mas muitos deles [políticos do Centrão] navegam nessa zona cinzenta e conseguem atingir o que querem, pressionando o governo. São negociações feitas visando o bem próprio e não o da população”, assinala.

Na eleição de 2018, não só Bolsonaro mas muitos dos 243 deputados federais e 46 senadores que foram eleitos para o primeiro mandato, fazendo com que o resultado fosse considerado de renovação política, elegeram-se com o discurso de representar uma “nova política”, que não faria parte de costumes pouco republicanos. Azevedo é categórico ao analisar: “O que temos, no fim, é uma tal nova política com cheiro de naftalina.”

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O que temos, no fim, é uma tal nova política com cheiro de naftalina.

Nauê Bernardo Azevedo
Cientista político
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