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Racha nas prefeituras: as crises entre prefeitos e vices na Grande Vitória

Racha nas prefeituras: as crises entre prefeitos e vices na Grande Vitória

Na Região Metropolitana, apenas em Vila Velha a relação é de completa harmonia entre titular e vice. Na Serra e na Capital, relação é de distanciamento para rompimento; em Cariacica, é cada um no seu canto

Publicado em 14 de novembro de 2022 às 19:59

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

O clima de harmonia e parceria que levou à eleição de prefeitos e vices nas últimas eleições municipais, ocorrida em novembro de 2020, deu lugar a ataques, críticas e insatisfações em alguns municípios da Grande Vitória.

Nem se passaram dois anos completos do momento em que estiveram juntos pedindo votos aos moradores de suas cidades para que as relações mudassem completamente em Vitória e na Serra.

Dos maiores municípios da Grande Vitória, o clima de paz e harmonia só sobrevive em Vila Velha depois de quase dois anos de mandato. Em Cariacica, não há rompimento, mas “é cada um no seu canto”.

Clima de rompimento em Vitória

Relações abaladas entre prefeitos e vices na Grande Vitória
Rachaduras cada vez maiores na relação do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), com a vice-prefeita, Capitã Estéfane (Patriota). (Arte Geraldo Neto)

A situação na Capital tomou contornos mais notórios no último dia 9, depois que a vice-prefeita, Capitã Estéfane (Patriota), acusou o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), de tentar silenciá-la politicamente.

Foram dois episódios em apenas dois dias, com climão entre o prefeito e a vice de Vitória em eventos da prefeitura da cidade. No primeiro, quando os dois disputaram um microfone, Pazolini não deu voz à vice-prefeita e ela saiu chorando. No segundo, durante a reinauguração do Parque Gruta da Onça, na quinta-feira (10), Estéfane teve direito ao microfone e aproveitou a oportunidade para falar publicamente e de frente para o chefe do Executivo sobre as razões do conflito entre eles.

A vice-prefeita explicou, na ocasião, as atribuições do cargo que ocupa e cobrou respeito à sua posição. "Não um respeito artificial, um respeito frio, um respeito pautado em argumentos tentando depreciar a minha imagem”, disse, referindo-se ao prefeito.

Já Pazolini recorreu a uma metáfora para falar da vice-prefeita em seu discurso, enquanto ainda tentava incluir as crianças que acompanhavam o evento em sua fala. Ele citou uma frase do Barão de Itararé, entendida como uma comparação com sua vice. 

“O tambor faz muito barulho, mas ele é oco por dentro, ele é desprovido de conteúdo, ele não se sustenta no tempo. Por mais barulho que o tambor faça, com o tempo ele acaba perdendo a relevância na sua função, porque ele é oco”, explanou o prefeito de Vitória aos presentes.

As divergências entre os dois ficaram mais explícitas após Capitã Estéfane apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), no segundo turno das eleições, adversário político do atual prefeito da Capital. Ela também mudou de partido para concorrer ao cargo de deputado federal em 2022, empreitada para a qual não contou com o apoio do prefeito. Ele não declarou apoio oficial a nenhum candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Esta não é a primeira vez que a relação entre prefeito e vice na Capital é abalada. No mandato anterior, quando o ex-prefeito Luciano Rezende (Cidadania) comandava o município e Sérgio Sá (PDT) era o vice-prefeito, o rompimento ficou escancarado quando o segundo foi exonerado do cargo de secretário de Obras, no início de 2020, após demonstrar interesse na disputa pela sucessão do seu antigo companheiro de chapa. 

Sérgio Sá acabou concorrendo ao cargo de prefeito em 2020 contra o escolhido pelo então prefeito para sucedê-lo, o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania). Ambos saíram derrotados da disputa ainda no primeiro turno. O segundo turno foi disputado entre Pazolini e o ex-prefeito João Coser (PT).

Relação a distância na Serra

Relações abaladas entre prefeitos e vices na Grande Vitória
Prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), e o vice, Thiago Carreiro (União), se distanciaram e relação foi abalada em 2022. (Arte Geraldo Neto)

Na Serra, o vice-prefeito Thiago Carreiro (União Brasil) comandava a Secretaria de Turismo até abril, mas ele afirma que a relação mudou completamente antes disso, quando ainda estava avaliando se disputaria as eleições em outubro deste ano. Decidiu concorrer ao cargo de deputado federal e disputou o eleitorado serrano com a ex-deputada Sueli Vidigal (PDT), mulher do prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT). A partir daí, a relação azedou de vez.

“Quando o prefeito me convidou para ser vice, ele me deu total liberdade para disputar a eleição no meio do mandato. Disputei a eleição com ele para ser uma nova liderança da Serra. Acho que minha decisão de concorrer este ano foi natural, mas eles decidiram que a Sueli ia disputar a eleição”, ressaltou Carreiro.

O vice-prefeito da Serra afirmou também ter passado por situações parecidas com as ocorridas com a vice de Vitória. “Já me foi tirada a fala em eventos da prefeitura desde o dia que anunciei que seria candidato”, contou.

Apesar do distanciamento entre ele e Vidigal, Carreiro garantiu que não há rompimento definitivo. “Estou à disposição da prefeitura. Vejo possibilidade de reatar a relação. Tem que ter maturidade para colocar a cidade em primeiro lugar e respeitar as diferenças”, disse.

Procurado para comentar o assunto, o prefeito informou, por meio de assessoria de imprensa, que “está à disposição para receber o vice-prefeito no gabinete a qualquer momento, como já fez”.

Cada um no seu canto em Cariacica

Relações abaladas entre prefeitos e vices na Grande Vitória
Prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União), e a vice, Enfermeira Edna (Patriota), mantêm relação com a devida distância: "cada um no seu canto". (Arte Geraldo Neto)

A relação entre o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União), e a vice-prefeita, Enfermeira Edna (Patriota), não está abalada como em Vitória e na Serra, mas também nunca foi muito próxima. A própria vice-prefeita reconhece que eles têm perfis diferentes e que a escolha do seu nome para ocupar a vaga de vice de Euclério “foi uma coisa partidária”, pois nunca foram aliados políticos.

Ela não fez críticas ao prefeito, pelo contrário, afirmou que “ele é muito trabalhador”, mas entende que “é preciso respeitar o que cada pessoa pensa”. Edna não fez menção ao processo eleitoral, mas enquanto o prefeito estava empenhado na reeleição de Casagrande, ela preferiu não fazer campanha no segundo turno para a disputa ao governo do Estado. Apenas confirmou que sua opção de voto foi o adversário do governador, Carlos Manato (PL).

Ainda em relação às Eleições 2022, a vice-prefeita de Cariacica garante que não tinha expectativa de apoio do prefeito à sua candidatura a deputada estadual, pois sabe que "ele já tinha os compromissos dele com outros candidatos". Ela atribuiu o seu baixo desempenho nas urnas — teve apenas 3.343 votos — ao fato de não ter tido tempo de pedir votos, em decorrência de um problema de saúde da irmã, descoberto durante o período eleitoral. Por isso, quase não fez campanha nas ruas.

Edna não foi indicada a nenhum cargo desde que assumiu o mandato, mas destacou que isso não a impede de ajudar o município e assegurou que tem sido convidada pelos secretários municipais para agendas e reuniões em todas as oportunidades que pode contribuir. Alegou que não participa de muitas agendas com o prefeito porque às vezes há conflito com a sua própria agenda.

Ela já foi coordenadora da Estratégia de Saúde da Família e subsecretária de Assistência Social de Cariacica em gestões anteriores, além de vereadora por dois anos, de 2015 a 2016.

Para os próximos dois anos, ela garante que pretende continuar trabalhando para o município e não tem pretensão de disputar uma nova eleição, pois quer voltar a se dedicar à profissão de enfermeira. Ela foi eleita pelo Avante e migrou para o Patriota no final de 2021.

“Foi uma coisa partidária (ser vice). Foi cogitado o meu nome, aceitei, deu certo e Cariacica está se desenvolvendo. Sou uma pessoa muito decidida. Não me apego a nada. Entrei na política já formada, com profissão. Na hora que precisar tomar uma decisão, posso tomar de cabeça erguida. Quando eu preciso de alguma coisa, eu peço para conversar (com o prefeito). Comigo ele sempre foi educado. Mas é cada um no seu canto”, sintetizou.

O prefeito de Cariacica foi demandado para comentar a situação, mas não houve retorno.

Em 2012, a relação entre o então prefeito, Helder Salomão (PT), e o então vice-prefeito do município, Juninho (Cidadania), foi rompida depois que o vice decidiu concorrer à sucessão do petista. Os dois já estavam se distanciando há algum tempo e Juninho foi eleito prefeito concorrendo contra a candidata de Helder, a então deputada estadual Lúcia Dornellas (PT). Quatro anos depois, Juninho se reelegeu prefeito.

Clima de paz e amor em Vila Velha

Prefeito e vice de Vila Velha, Arnaldinho Borgo e Dr. Victor Linhalis, são aliados e filiados ao Podemos
Relação entre o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), e o vice, Dr. Victor Linhalis (Podemos), continua muito próxima. (Arte Geraldo Neto)

Na contramão dos municípios vizinhos, Vila Velha é a cidade onde a relação entre prefeito e vice continua em clima de paz e amor após quase dois anos de mandato. A partir do próximo ano, a Prefeitura de Vila Velha não contará mais com o vice, já que Dr. Victor Linhalis (Podemos) foi eleito deputado federal com o total apoio e dedicação do atual prefeitoArnaldinho Borgo (Podemos), nas eleições de outubro deste ano. Ele vai assumir o novo cargo em fevereiro de 2023.

Há quem diga que o segredo da harmonia entre os dois esteja justamente no fato de a relação entre eles ser também pessoal e ultrapassar os arranjos políticos que normalmente são preponderantes na escolha do vice.

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