> >
Reajuste só para policiais no ES irrita servidores e pressiona Casagrande

Reajuste só para policiais no ES irrita servidores e pressiona Casagrande

Governador, ao negociar reajuste exclusivo para servidores da segurança pública, cria nova dor de cabeça, com possibilidade de paralisações na educação e na administração pública

Publicado em 6 de março de 2020 às 17:34

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Para analistas, ao anistiar militares em 2019 governador abriu brecha para categoria pressionar o Executivo novamente. (Fernando Madeira)

reajuste acordado entre o governo do Estado e policiais militares e civis no Espírito Santo está longe de ser o fim das dores de cabeça do governador Renato Casagrande (PSB). Após anunciar que daria 12% de aumento real, entre 2020 e 2022, além da revisão com base na inflação para os servidores da segurança pública – que pode fazer gerar um acréscimo de até 40%, em alguns casos –, outras categorias criticam o modelo de negociação adotado e ameaçam entrar em greve.

Assim como os policiais,  os servidores da educação, da saúde e da administração pública também alegam ter perdas salariais, que atingem os 30% nos últimos anos. Contudo, os sindicatos que os representam falam em distanciamento do governador nas negociações salariais e pedem isonomia, ou seja, igualdade na hora de o Estado propor reajustes.

Reajuste só para policiais no ES irrita servidores e pressiona Casagrande

As entidades já falam, inclusive, em greves contra a falta de diálogo com as outras categorias do serviço público. Na próxima segunda-feira (9), servidores vão fazer um ato unificado em frente à Assembleia Legislativa pedindo recomposição salarial nos mesmos moldes do que foi oferecido aos militares.

Os sindicatos estudam pedir apoio de deputados estaduais para uma manobra semelhante a que foi adotada na Assembleia de Minas Gerais. Por lá, o governador Romeu Zema (Novo) enviou projeto de lei para conceder reajuste somente para os servidores da segurança pública, mas uma emenda foi acrescentada ao texto estendendo o benefício a todo o funcionalismo estadual. A proposta ainda pode ser vetada pelo Executivo.

Procurado, o presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Erick Musso (Republicanos) disse que está aberto ao diálogo e que vai ouvir as demandas da categoria.

Palácio Anchieta: Sindipúblicos e Sindiupes já falam em colocar greve em votação. (Setur)

CATEGORIAS DISCUTEM GREVES

O reajuste exclusivo para a segurança pública foi o estopim para a possibilidade de a greve entrar de vez no radar dos sindicatos. Uma paralisação já estava agendada por servidores da educação da rede estadual para o dia 18 de março, em defesa do Fundeb, destinado à Educação Básica.

Nesta data haverá uma nova assembleia entre os trabalhadores e está na pauta decidir sobre uma possível paralisação mais longa, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Christovam Medonça.

30% a 40%
É a quanto pode chegar o reajuste. São 12% de aumento real, acrescidos de 14% de revisão inflacionária de 2019 a 2022 (que pode variar para mais ou menos, a depender da economia). Há ainda um segundo acréscimo, de 4%, previsto para soldados em 2021 e mais 5% com incorporação de escala especial

Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos (Sindipúblicos), Tadeu Guerzet também defendeu a paralisação de sua categoria, mas disse que isso ainda depende de aprovação em assembleia.

Aspas de citação

O governador está de joelhos para a Polícia Militar, tentando captar apoio político desse movimento, que ele sabe que não vai conseguir. Casagrande está empoderando os policiais da forma errada e vai acabar se arrependendo

Tadeu Guerzet
Presidente do Sindipúblicos-ES
Aspas de citação

A presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde no Espírito Santo (Sindisaúde), Geiza Pinheiro, disse que é a favor do reajuste para os militares, mas criticou ameaças de aquartelamento, como ocorreu em 2017, por parte de alguns policiais.

“A mesa de negociação tem que ser de forma igualitária”, pontua.

Greve da PM: anistia abriu brecha para que policiais colocassem governadores de todo o país contra a parede, dizem analistas. (Arquivo/AG)

ANISTIA ABRIU BRECHA PARA AMPLIAR FORÇA DE MILITARES

Cientistas políticos apontaram que a anistia administrativa concedida aos militares que participaram dos movimentos paredistas da  Polícia Militar do Espírito Santo, em fevereiro de 2017, permitiu que lideranças voltassem a pressionar governos estaduais.

Para Fernando Pignaton, policiais têm se organizado de maneira nacional. O motim iniciado no início de fevereiro deste ano no Ceará ajudou a pressionar governos de outros Estados, como Minas Gerais e Espírito Santo, que também foram colocados contra a parede.

“Do mesmo modo, a anistia concedida por Casagrande também fez com que os militares lá no Ceará achassem que poderiam promover o motim que fizeram. Na minha opinião, o governo de lá fez certo em não dar anistia”, critica.

Aspas de citação

É muito perigoso permitir que a polícia se politize como vem acontecendo. São servidores pagos para usar armas e eles estão se utilizando disso para pressionar por benefícios próprios. Isso é contra o Estado Democrático de Direito. É preciso ser firme e o governador não está sendo

Fernando Pignaton
Cientista político
Aspas de citação

Pignaton analisa que a anistia à PM foi uma estratégia adotada por Casagrande nos meses prévios à eleição de 2018, quando ainda havia a possibilidade de o ex-governador Paulo Hartung (sem partido) disputar o pleito. “Ele sabia que a greve da PM era um ponto fraco de Hartung, que é muito parecido com Casagrande ideologicamente. Então ele se usou disso na disputa e agora está pagando o resultado”, comenta.

O economista e  secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castelo Branco, aponta que o reajuste coloca em risco a saúde financeira do Estado, uma vez que é natural que outras categorias e até outros Poderes, se vejam no direito de exigir o mesmo tratamento. Para ele, os motins organizados por policiais não respeitam a Constituição e anistiá-los acaba incentivando que militares de outros Estados adotem a mesma postura.

“Acredito que o governo federal tem que intervir e fazer a Constituição ser cumprida. Governadores não podem dar tratamento benevolente, porque isso gera consequências para outros Estados. O Espírito Santo tem a vantagem de estar em uma situação fiscal melhor do que a de Minas Gerais, algo que conquistou devido ao esforço de vários governos. Ao atender uma categoria, é automático que as outras também reivindiquem, com razão. Aumentar gasto com pessoal é algo delicado e tem que ser feito com cuidado para não colocar a saúde financeira estadual em risco”, explica.

O OUTRO LADO

Este vídeo pode te interessar

A reportagem procurou na manhã desta sexta-feira (6) a Secretaria Estadual de Governo (SEG), que negociou diretamente com os servidores da segurança pública, além das pastas de Recursos Humanos (Seger) e de Planejamento (SEP), mas ainda não houve retorno.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais