Logo após ser reeleito, com apoio do Palácio Anchieta, para comandar a Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Erick Musso (Republicanos) reforçou, em discurso nesta segunda-feira (1º), o alinhamento com o governador Renato Casagrande (PSB). O republicano afirmou que o socialista terá, na Casa, "uma parceria sólida".
"O senhor (Casagrande) tem e terá na Assembleia Legislativa parceria sólida para continuar conduzindo o nosso estado para o rumo do desenvolvimento social e econômico", afirmou.
Não foi a única menção ao socialista. Erick lembrou do combate à pandemia de Covid-19, quando também citou o governador.
"O senhor, governador, tem o meu respeito. O senhor tem sido um líder incansável nessa crise que estamos enfrentando", complementou.
Casagrande não estava na Casa, nem ninguém do primeiro escalão do governo estadual. Mas a presença do Palácio se fez notar no placar da votação, com chapa única: 28 votos a favor e dois contrários, com ampla adesão da base governista.
Erick foi reeleito para seu terceiro biênio consecutivo como presidente. Em uma eleição tranquila e de chapa única, o parlamentar vai ter ao seu lado deputados casagrandistas como Dary Pagung (PSB) e Alexandre Quintino (PSL), eleitos 1º e 2º secretários, respectivamente.
A importância da "união" entre parlamentares e governo foi reforçada em diferentes momentos do discurso de Erick. Aos colegas parlamentares, pediu: "Faço um apelo para que a gente pratique a união. Não estou pedindo para deixarem de acreditar nas suas convicções, mas que o nosso olhar esteja voltado para o desejo da maioria".
No final do discurso, que durou cerca de 40 minutos, declarou que "só a união salvará nosso país".
A fala de Erick Musso teve um tom de despedida. O parlamentar, de 33 anos, chorou e pediu desculpas aos colegas e à sociedade capixaba por "eventuais erros que tenha cometido". Sem dizer de forma clara ao que se referia, citou "446 dias de desconfiança".
Erick chegou a ser reeleito antecipadamente, em novembro de 2019, cerca de 400 dias atrás, em uma eleição relâmpago e contestada juridicamente, e depois cancelou o resultado.
Em coletiva de imprensa, após a cerimônia de posse, o republicano cravou que não vai mais disputar o cargo de deputado estadual.
Prefeitos e vereadores eleitos em 2020 também ganharam um aceno no discurso do presidente. O parlamentar colocou o Legislativo à disposição dos mandatos. O prefeito de Vitória e ex-deputado estadual, Lorenzo Pazolini (Republicanos), esteve presente na cerimônia. Pazolini é amigo e colega de partido de Erick. Além dele, alguns vereadores da Capital compareceram à sessão.
Já o governo estadual, embora tenha a mão na Mesa composta e eleita, não esteve presente fisicamente. Nem mesmo o secretário-chefe da Casa Civil, Davi Diniz, responsável por fazer a articulação entre os Poderes, apareceu na Assembleia.
A votação, no entanto, foi marcada por acenos ao Palácio Anchieta e sua atuação na formação da Mesa. Marcelo Santos (Podemos), vice-presidente e aliado de Casagrande, falou sobre manter "harmonia entre os Poderes", enquanto Torino Marques (PSL) e Sergio Majeski (PSB) citaram a mão do governo no processo adotando outro tom.
Torino, que era 2º vice-presidente na Mesa anterior, fez questão de dizer, ao votar, que "por uma composição com o governo do Estado" tinha ficado de fora desta vez. No plenário, foi visto conversando com Erick Musso no momento do registro da chapa e depois, inquieto e gesticulando, cochichou com outros parlamentares. Apesar da visível insatisfação, votou na chapa única.
Já Majeski, membro do partido de Casagrande, votou contra a chapa e criticou a atuação do governo, citando Davi Diniz, nas negociações para formação da Mesa. "Eu fico sabendo da composição da chapa no dia, sendo que se propaga que é uma chapa de consenso. Consenso de quem? Essas questões são discutidas muito mais no Palácio Anchieta e na Casa Civil do que na Assembleia", o socialista ainda citou que foi convidado por Diniz para uma conversa em que foi questionado sobre interesse em comissões. "Mas a discussão de comissões não é feita entre os parlamentares, na Assembleia?", questionou.
Após a coletiva, os parlamentares eleitos foram para o Palácio Anchieta para uma conversa com o governador.
O governador do Estado e o presidente da Assembleia Legislativa, não por acaso, integram os dois partidos mais influentes na política capixaba. Em ascensão desde 2018, o Republicanos, de Erick Musso, terminou a última eleição com 10 prefeitos eleitos – incluindo o prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini – além de 89 cadeiras de vereador conquistadas no Espírito Santo. Só está atrás do PSB, de Casagrande, que conta com 13 prefeitos e 112 vereadores.
Vice-líder do governo no mandato de Paulo Hartung (sem partido), Erick Musso recebeu um empurrãozinho do ex-governador, que o apoiou em sua primeira eleição para a presidência. Quando Casagrande assumiu o Executivo, em 2019, os dois mantiveram boa relação no início do mandato.
O primeiro desgaste na relação se deu com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permitia o adiantamento da eleição. Casagrande foi contrário à PEC. Erick a colocou em votação junto à análise da Reforma da Previdência estadual, ambas aprovadas.
Surpreendendo o governo do Estado, Erick antecipou a eleição para o biênio 2021-2023, que deveria, como foi, ser realizada em 1º de fevereiro, para 27 de novembro de 2019, 14 meses antes.
O ato gerou a destituição do então líder de governo, Enivaldo dos Anjos (PSD), do cargo, após a insatisfação do governo. Casagrande criticou publicamente a medida e disse que o ato de Erick "fragilizava" a Assembleia. Governista, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania) acionou a Justiça para que o pleito fosse anulado. Pressionado por entidades civis e pela repercussão ruim que a antecipação da eleição teve, o próprio Erick decidiu cancelar o pleito.
Passado o "novembro sangrento", Erick e Casagrande se reaproximaram. O presidente pautou, na rapidez que o governo queria, todos os projetos do Executivo na Casa. Ainda assim, a base governista ensaiou uma candidatura própria. O primeiro cotado foi o deputado Coronel Quintino (PSL), ainda em 2020. Com bom trânsito na base governista e entre os outros parlamentares, Marcelo Santos (Podemos) foi outra aposta, mas descartou a possibilidade.
Por fim, o líder do governo, Dary Pagung (PSB), chegou a recolher assinaturas para montar chapa. Em janeiro, Casagrande recebeu deputados, incluindo o próprio Erick, e passou a defender uma chapa de consenso, para que não houvesse disputa.
Em meio ao recolhimento de assinaturas, Erick sinalizou que dividiria o poder que tem na Casa. Ele se comprometeu a colocar em pauta a revogação da resolução que dá "superpoderes" ao presidente, o que hoje o autoriza a assinar atos sem o aval de outros integrantes da Mesa Diretora. Caso a norma seja revogada, o 1º ou o 2º secretário também deverão assinar os atos para que as normas tenham valor legal. Casagrande terá nestes dois cargos dois aliados de primeira hora, Dary e Quintino.
Na última semana, Erick e Casagrande estiveram juntos em uma agenda do governo em Aracruz, reduto eleitoral do deputado. Lá, o presidente da Assembleia fez elogios a Casagrande e disse que o governador poderia contar com ele para "carregar o piano" e que a "pseudo-briga" entre eles nunca existiu.
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