Uma mansão adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em Brasília ganhou os holofotes nesta semana. A casa de dois andares, com piso em mármore, quatro suítes, piscina e garagem para oito carros, chamou atenção não apenas pela estrutura, mas pelo valor: foi comprada por R$ 6 milhões.
De acordo com o parlamentar, parte dos recursos para a aquisição veio da venda de um imóvel no Rio de Janeiro. O restante, R$ 3,1 milhões, como consta na escritura do imóvel, vai ser pago em até 30 anos, por meio de financiamento.
O valor das parcelas, de R$ 18.744,16, contudo, equivale a mais da metade da renda mensal declarada por Flávio Bolsonaro e a esposa, a dentista Fernanda Bolsonaro. A remuneração líquida do senador (salário com descontos) é de R$ 24.900, enquanto a de Fernanda é de cerca de R$ 9 mil.
O caso que envolve o "filho 01" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é mais um em que os holofotes se voltam para o imóvel de um político. Apartamentos e casas de luxo já se tornaram protagonistas em diferentes situações. Em algumas, esses bens estavam associados a escândalos de corrupção e levaram à queda de ministros e até mesmo à prisão, como aconteceu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado no caso do triplex do Guarujá.
Relembre alguns casos reunidos por A Gazeta:
Um dos casos mais conhecidos e recentes é o do apartamento triplex atribuído a Lula, no Guarujá, em São Paulo. O caso ficou tão famoso que o local virou uma espécie de “ponto turístico”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não chegou a morar no apartamento, mas recebeu, de acordo com os termos da condenação, o imóvel como pagamento de propina para favorecer contratos da empreiteira OAS com a Petrobras.
Em 2018, Lula foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro pelo caso. Ele ficou preso até novembro de 2019, quando foi solto após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar presos condenados em segunda instância a recorrerem em liberdade.
De acordo com a decisão que levou à condenação de Lula, apesar de não ter ocorrido uma transferência formal do imóvel para o nome do ex-presidente, a empreiteira havia reservado e reformado apartamento para ele, em uma tentativa de ocultar o patrimônio.
Atualmente, o caso do triplex voltou à tona, em uma discussão sobre a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro em decisões contra Lula. O ex-presidente tenta anular na Justiça a condenação no caso.
Com uma história similar à de Lula, o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi investigado por uma situação que envolvia um imóvel. Ele teve o mandato de senador cassado e perdeu direitos políticos por 10 anos.
Logo após sair da presidência, em 1961, JK foi morar em um apartamento que ficava na avenida Vieira Souto, em Ipanema, um dos bairros mais caros do Rio de Janeiro. Oficialmente, Juscelino pagava aluguel ao amigo e ex-ministro da Fazenda Sebastião Paes de Almeida.
Na época, contudo, Paes de Almeida foi acusado de ser um laranja do ex-presidente, que seria o real proprietário do prédio, construído com dinheiro doado por empreiteiros de grandes obras no governo JK.
Investigações apontaram que o projeto teria sido feito a gosto de Juscelino e da esposa, que visitava a obra com frequência. Em 1964, em meio à ditadura militar, JK foi acusado de corrupção e teve o mandato de senador cassado. Ele também teve os direitos políticos suspensos por 10 anos.
Símbolo de poder no governo Collor, a Casa da Dinda, mansão localizada em Brasília, também foi palco de escândalos que derrubaram o ex-presidente da República, hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB).
O imóvel de luxo, que pertencia à família de Collor, se tornou a residência oficial do ex-presidente entre 1990 e 1992, quando o Palácio da Alvorada estava em reforma.
E foi por causa de uma obra que a Casa da Dinda ganhou protagonismo na gestão de Collor. Na época, que teve uma profusão de escândalos de corrupção, descobriu-se que o tesoureiro da campanha do presidente, PC Farias, havia pago reformas na mansão, orçadas em US$ 2,5 milhões, com cheques que foram depositados em contas fantasmas.
O caso contribuiu para a queda do presidente, que sofreu impeachment em dezembro de 1992. Collor perdeu os direitos políticos por oito anos.
Alguns anos depois, Roseane Collor, ex-mulher do senador, contou, em um livro, que os jardins da residência oficial foram usados para o sacrifício de animais em rituais de magia negra.
Em 2015, a Casa da Dinda voltou aos holofotes ao virar alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal. Três veículos de luxo foram apreendidos na residência de Collor em uma ação da Operação Lava Jato.
Foram eventos que aconteceram em uma mansão de luxo em Brasilia, mais conhecida como "casa de lobby", que levaram à queda do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, em 2006, durante o governo Lula.
O imóvel, alugado por um ex-assessor de Antonio Palocci, seria palco de festas e partilha de dinheiro entre o então ministro, amigos e lobistas.
Em uma reportagem exclusiva publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o caseiro da mansão contou que no local eram realizadas reuniões para organizar a distribuição de dinheiro por Brasília – além de festas animadas por garotas de programa. Após a publicação das declarações, o sigilo bancário do caseiro foi quebrado, de forma ilegal.
Durante investigação da Polícia Federal, o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, revelou que entregou um extrato da conta bancária da poupança do caseiro a Palocci e que ele teria sido o mandante da quebra de sigilo.
Mattoso foi indiciado por crime de violação de sigilo funcional após confessar seu envolvimento no caso. A crise instaurada derrubou o ex-ministro, que renunciou ao cargo em março de 2006.
Reformas realizadas na casa de uma das filhas de Michel Temer, Maristela Temer, levaram o ex-presidente a República a se tornar réu na Justiça. Temer foi acusado de lavar dinheiro de propina por meio de obras realizadas no imóvel, localizado na zona oeste de São Paulo.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, a reforma da casa da filha do ex-presidente foi paga por meio de propina desviada das obras da usina de Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio. A reforma, feita entre 2013 e 2015, teve custo estimado em R$ 1,6 milhão.
A denúncia foi um desdobramento de apurações da Lava Jato. A filha de Temer também é ré no processo. Eles respondem por lavagem de dinheiro.
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