O deputado federal Felipe Rigoni (PSB) foi entrevistado na noite da última segunda-feira (18) no programa Roda Viva, da TV Cultura. Durante a sabatina, o parlamentar fez críticas ao seu atual partido, o PSB, sigla com a qual ele briga na Justiça para se desfiliar sem a perda do mandato.
Um dos autores do pedido de impeachment do ministro da Educação, Abraham Weintraub, Rigoni condenou a gestão da educação básica do atual governo, mas destacou pontos positivos, fez elogios ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e a política de infraestrutura da gestão de Jair Bolsonaro.
Para o deputado, o governo federal peca pelas declarações polêmicas em entrevistas. Ele reprovou as recentes afirmações de Guedes ao comentar a alta do dólar e a ida de domésticas para a Disney, mas disse que o ministro tem boa atuação nas reformas da Previdência, já aprovada na Câmara, e administrativa, que ainda não foi enviada.
Nas redes sociais, internautas criticaram uma suposta relativização do deputado com frases autoritárias ditas por integrantes do governo. O próprio Paulo Guedes, por exemplo, foi alvo de comentários negativos após analisar protestos de rua e dizer que não se devia assustar se alguém pedir o AI-5. Rigoni afirmou que o governo tem, sim, declarações autoritárias, mas que o pior para a população não era o autoritarismo, mas a falta de eficiência em serviços públicos, como as filas em unidades de saúde e a precarização de escolas.
Fundador do Acredito, um movimento de renovação política, Rigoni sustentou que os partidos têm papel importante na democracia, mas que possuem líderes imperiais. Ele citou um projeto de lei, em parceria com a deputada Tabata Amaral (PDT).
"O pedido de impeachment não foi algo imaturo, foi algo construído dentro da Comissão de Educação da Câmara, a qual eu participo. É claro que é prerrogativa do presidente demitir um ministro. Mas também é direito de qualquer cidadão pedir um impeachment de qualquer servidor público que cometa crime de responsabilidade. O discurso do governo era focar na educação básica, mas ele não fez nada. A defesa da família brasileira e a desideologização das universidades foram propostas que Bolsonaro foi eleito legitimamente para fazer, não há problema nisso. O problema é ele falar isso tudo e não executar nada. Se vier um novo ministro com o mesmo perfil (do Weintraub) que execute o que promete, eu vou estar do lado dele. Quando o Weintraub chegou, eu o elogiei. Disse que ele não tinha experiência na educação, mas era um bom gestor. Infelizmente, eu estava completamente equivocado. O Weintraub foi pior, o (Ricardo) Velez nem teve tempo de ser tão ruim quanto o Weintraub está se mostrando."
"Em relação ao governo, tem uma parte dele que tem políticas muito boas, como na infraestrutura, no desenvolvimento regional, na agricultura e na economia. Questionado se o governo Bolsonaro representa algum risco a normalidade democrática, Rigoni respondeu: Sim, o presidente e seu governo tem uma série de declarações autoritárias, se isso representa um risco ou não, não vai depender dele. O risco à democracia não é o autoritarismo, é a falta de resultados que a política dá ou não. Se nós políticos não dermos resultado, isso é risco à democracia. As pessoas não estão nervosas porque é ou não é democracia. Elas estão nervosas porque chegam no posto de saúde e ficam duas ou três horas esperando para ser atendido. É a falta de resultado que promove o risco à democracia. Agora, essas declarações autoritárias (de Bolsonaro) não só atrapalham o governo dele, mas torna tudo mais tenso e a impede a democracia de dar mais resultados. Quando as confusões políticas (provocadas por declarações) fazem as reformas demorarem a sair, isso, sim, traz um risco a democracia."
Depois do programa, nas redes sociais, Rigoni esclareceu:
"O Luciano Huck ajudou na divulgação do Renova BR, movimento que eu participei e sou muito grato. Agora se ele vai ser candidato ou não, isso é ele que tem que decidir. Acho que ele é uma liderança importante para o país, mesmo como empresário, e que o conhece o país pelo trabalho que faz. O Luciano Huck ele consegue mostrar para a sociedade a desigualdade que existe no Brasil. Temos pouca sensibilidade para ver como a desigualdade que nosso país é. Pessoas como ele, que fazem esse papel, são muito importantes."
"Não acho difícil defender Paulo Guedes, acho que ele precisa se retratar, como ele fez em muitas situações, e que ele precisa conduzir as reformas para o parlamento. Enviar a reforma administrativa, que a gente defende. A questão não é a pessoa, a questão é o projeto. A reforma precisa ser feita, independente de quem estiver no governo. A política econômica do governo é dita pelo Paulo Guedes, e, sim, ele tem uma falha ao não ter uma percepção das desigualdades sociais."
"Eu achava que eu estava entrando no PSB que o Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco, morto em um acidente aéreo em 2014) estava construindo, um partido mais equilibrado. Quando eu cheguei, vi que tinha deputados equilibrados, mas na hora de decidir nacionalmente na reforma, não foi essa a decisão. Acontece que a visão de mundo que eu tenho não cabe mais no PSB."
"Acho importante candidaturas avulsas, acho que é válido, mas não seria um candidato avulso. Acho importante ter um grupo político que acredite ter uma visão, mas as avulsas podem ser uma baita de uma concorrência, o que vai forçar as siglas a serem melhores."
"Votei em branco no segundo turno, por não achar admissível votar em um partido que construiu uma máquina de corrupção e nem em Bolsonaro, pelas declarações que ele já havia dado. No primeiro turno, votei em Ciro Gomes e me arrependo profundamente. Ele é uma pessoa extremamente inteligente e foi um excelente governador, mas se demonstrou ser autoritário ao longo do tempo. Ele é incoerente. Na campanha ele defendia reforma da Previdência. A reforma protocolada pelo PDT é dois terços igual ao projeto que aprovamos."
"Temos currículos atrasados nas universidades, que também sofrem com planejamento financeiro das universidades. Isso precisa ser resolvido, precisamos atuar. Se há ideologia ou não o problema, eu não atuo aí. Universidades que eu estudei com Oxford e Harvard tem financiamento público envolvido e a principal característica é dele ser constante, para manter um mínimo funcionando. Só que para além disso, elas tem liberdade para fazer suas captações por fora. Ou seja, fazer uma pesquisa financiada pelo setor privado, fazer uma consultoria. Às vezes cobrar de quem pode pagar. Esse tipo de coisa daria autonomia financeira para as universidades e melhoraria o ensino e a pesquisa do desenvolvimento do nosso país, que é um dos fatores pela nossa falta de produtividade. (Defende mensalidade em universidades?) Para quem pode pagar, como eu? Que sou uma pessoa de classe média alta, qual é o problema de eu pagar minha universidade?"
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