Em uma eleição histórica para minorias sexuais, com recorde de pessoas transgêneras eleitas em todo o país, a pecuarista Lari Camponesa (Republicanos) vai ser a primeira trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Rio Novo do Sul, no Sul do Espírito Santo. Com 266 votos, ela é um dos nove nomes escolhidos pela população para exercer a vereança na cidade, a partir de 2021.
"Acredito que as pessoas, principalmente os LGBTs, viram em mim uma pessoa para brigar pelos direitos deles, para representá-los. E eu vou fazer isso com muito orgulho", declara.
Em todo o país, pelo menos 25 transexuais e travestis se elegeram para o cargo de vereador, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Entre elas estão Duda Salabert (PDT), vereadora mais votada em Belo Horizonte, e Erika Hilton (PSOL), em São Paulo. Na capital paulista, no total quatro transexuais vão compor a Casa.
Em todo o Espírito Santo, Lari foi a única eleita.
Esse resultado é bem superior ao do último pleito, quando oito transexuais foram eleitas no Brasil. Uma pessoa transexual ou transgênero é aquela que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.
Aos 25 anos, Lari chega à Câmara de Rio Novo do Sul quase três décadas depois de a primeira transexual ter sido eleita vereadora no Brasil, no Piauí. Rio Novo tem 11.626 moradores, de acordo com estimativa do IBGE.
No Espírito Santo, a pioneira foi Moa Sélia, que se elegeu vereadora em Nova Venécia, no Norte do Estado, em 2004. Moa exerceu três mandatos e foi a primeira mulher trans a presidir uma casa legislativa no país. Ela morreu em 2017.
Moradora da área rural do município, Lari é formada em biomedicina, mas trabalha como pecuarista. Ela conta que os problemas enfrentados pela população no campo a levaram a tentar um cargo eletivo.
"A gente fica abandonada na área rural. Não tem acesso, comunicação, projetos para melhorar a situação de quem vive aqui. Quero poder cobrar mudanças para a vida no campo", afirma a jovem, que concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez.
Ser eleita vereadora foi, segundo Lari, a segunda maior barreira derrubada por ela. A primeira foi há oito anos, quando se reconheceu uma mulher transexual. Na época, contou com o apoio dos pais, que sempre estiveram ao lado dela, inclusive lidando com o preconceito e incentivando sua candidatura.
"É difícil ter coragem para se expor dessa forma e ser candidata. Mas minha família sempre abraçou a minha causa. Meu pai, principalmente, me apoiou muito, ele acreditava que eu seria eleita", declara.
A pecuarista vai ocupar uma das nove cadeiras da Câmara de Rio Novo do Sul, uma cidade predominantemente rural, católica e, segundo ela, ainda muito preconceituosa. Lari acredita que o mandato não será fácil, mas diz que vai exercer com humildade e defendendo as minorias.
"Eu tenho uma opinião bem forte, eles vão ter que me respeitar. Não é porque eu vou ser minoria que não terei voz. Vai ser desafiador, mas estou confiante e muito feliz", finaliza.
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