Publicado em 17 de novembro de 2020 às 22:43
Em uma eleição histórica para minorias sexuais, com recorde de pessoas transgêneras eleitas em todo o país, a pecuarista Lari Camponesa (Republicanos) vai ser a primeira trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Rio Novo do Sul, no Sul do Espírito Santo. Com 266 votos, ela é um dos nove nomes escolhidos pela população para exercer a vereança na cidade, a partir de 2021.
"Acredito que as pessoas, principalmente os LGBTs, viram em mim uma pessoa para brigar pelos direitos deles, para representá-los. E eu vou fazer isso com muito orgulho", declara.
Em todo o país, pelo menos 25 transexuais e travestis se elegeram para o cargo de vereador, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Entre elas estão Duda Salabert (PDT), vereadora mais votada em Belo Horizonte, e Erika Hilton (PSOL), em São Paulo. Na capital paulista, no total quatro transexuais vão compor a Casa.
Em todo o Espírito Santo, Lari foi a única eleita.
Esse resultado é bem superior ao do último pleito, quando oito transexuais foram eleitas no Brasil. Uma pessoa transexual ou transgênero é aquela que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.
Aos 25 anos, Lari chega à Câmara de Rio Novo do Sul quase três décadas depois de a primeira transexual ter sido eleita vereadora no Brasil, no Piauí. Rio Novo tem 11.626 moradores, de acordo com estimativa do IBGE.
No Espírito Santo, a pioneira foi Moa Sélia, que se elegeu vereadora em Nova Venécia, no Norte do Estado, em 2004. Moa exerceu três mandatos e foi a primeira mulher trans a presidir uma casa legislativa no país. Ela morreu em 2017.
Moradora da área rural do município, Lari é formada em biomedicina, mas trabalha como pecuarista. Ela conta que os problemas enfrentados pela população no campo a levaram a tentar um cargo eletivo.
"A gente fica abandonada na área rural. Não tem acesso, comunicação, projetos para melhorar a situação de quem vive aqui. Quero poder cobrar mudanças para a vida no campo", afirma a jovem, que concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez.
Ser eleita vereadora foi, segundo Lari, a segunda maior barreira derrubada por ela. A primeira foi há oito anos, quando se reconheceu uma mulher transexual. Na época, contou com o apoio dos pais, que sempre estiveram ao lado dela, inclusive lidando com o preconceito e incentivando sua candidatura.
"É difícil ter coragem para se expor dessa forma e ser candidata. Mas minha família sempre abraçou a minha causa. Meu pai, principalmente, me apoiou muito, ele acreditava que eu seria eleita", declara.
Lari Camponesa (Republicanos)
Vereadora eleitaA pecuarista vai ocupar uma das nove cadeiras da Câmara de Rio Novo do Sul, uma cidade predominantemente rural, católica e, segundo ela, ainda muito preconceituosa. Lari acredita que o mandato não será fácil, mas diz que vai exercer com humildade e defendendo as minorias.
"Eu tenho uma opinião bem forte, eles vão ter que me respeitar. Não é porque eu vou ser minoria que não terei voz. Vai ser desafiador, mas estou confiante e muito feliz", finaliza.
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