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Rompimento trouxe problemas de saúde a assassino de Camata

Rompimento trouxe problemas de saúde a assassino de Camata

Testemunhas afirmaram em audiência que Marcos Venicio Andrade, autor do disparo que matou o ex-governador, dedicava a vida dele ao político

Publicado em 24 de abril de 2019 às 21:55

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Testemunhas do processo referente ao assassinato do ex-governador Gerson Camata descreveram Marcos Venicio Moreira Andrade, autor do disparou que matou o político, como alguém que dedicava integralmente a vida ao ex-chefe e que passou a enfrentar problemas financeiros e de saúde após ambos romperem uma relação de confiança de mais de 20 anos.

Sem mulher ou filhos, o ex-assessor, de 66 anos, também foi descrito como alguém solitário, que enxergou nos Camata a própria família. Marquinho, como é conhecido, era o "faz tudo" do político de 77 anos - sendo 44 dedicados à vida pública - e frequentava a casa do ex-governador, como contou a viúva Rita Camata.

Mesmo testemunhas selecionadas pela defesa do acusado sabiam que a ação judicial movida por Camata contra ele, pedindo indenização por danos morais, e o rompimento da relação de ambos, eram coisas que incomodavam profundamente Marquinho, como o réu é conhecido.

"Após o episódio da ruptura, Marquinho se sentiu abandonado e desprezado totalmente por Camata. Ao meu sentir, a vida de Marquinho tinha como eixo principal a dedicação total a Gerson Camata", disse uma das testemunhas selecionadas pela defesa, antes de prosseguir: "Marquinho comentou comigo que esperava ficar velhinho ao lado de Camata, indo juntos de um lado para outro. Sentiu que não representava nada para Camata".

Depoentes contaram que Marquinho manteve atividades normais no dia do crime, sem comportamento suspeito. O acusado, por exemplo, ligou para uma funcionária de empresa localizada em uma loja dele, em shopping da Reta da Penha. Mais tarde, por volta das 14 horas, esteve com ela para tratar de pintura das salas desocupadas.

PROBLEMAS DE SAÚDE

Uma diarista que prestou serviços a Marcos Andrade por cerca de 30 anos também foi selecionada como testemunha de defesa. No depoimento, ela contou jamais ter ouvido dele queixas ou ameças a Gerson Camata. Ela detalhou, por outro lado, como a saída dele da Banestes Seguradora o prejudicou.

Marcos Andrade chegou a ser presidente do órgão, no início dos anos 2000. Pedia a Camata para manter-se na função, mas isso não aconteceu.

"Depois da saída de Marquinho do Banestes, ele teve maiores dificuldades financeiras, tendo que vender apartamento. Chegou a montar uma loja de móveis de inox, mas que também não foi a frente. Não conseguiu mais trabalho fixo. Mudou de apartamento, para um menor. Ficou muito triste e deprimido, depois buscando se reerguer. Chegou a melhorar, mas voltou a personalidade triste e deprimida mais recente", disse a mulher.

Marquinho enfrentou até problemas de saúde, segundo uma das testemunhas de defesa. "Essa ruptura tratou-se de uma imensa mágoa e muito sofrimento. A partir desse rompimento, Marquinho passa a ter problemas cardíacos, a procurar terapeutas e psiquiatras", frisou.

SURPRESA

Alguns dos que testemunham a favor de Marquinho o destacaram alguém "retilíneo", "prestativo", "educado" e "gentil". Portanto, disseram-se surpresos, "chocados", quando tomaram conhecimento sobre a autoria e a circunstância do crime.

"Fiquei muito surpreso quando tomei conhecimento dos fatos, pois jamais esperava que ele cometesse tamanha bestialidade", disse um dos ouvidos pela Justiça. "Me chocou, pois não imaginava que Marquinho seria capaz de algo assim", frisou outra.

No entanto, a insatisfação com o bloqueio de bens nas contas dele era conhecido por pessoas próximas a Andrade. "Eu sempre procurava evitar que ambos frequentassem o mesmo lugar ao mesmo tempo, o que era apreciado por Marquinho. Marquinho dizia se sentir decepcionado", relatou a mesma testemunha.

NERVOSISMOS

Um segurança da padaria frequentada por vítima e assassino, localizada próxima ao local do crime, foi uma das testemunhas de acusação, contra Marcos Andrade. O depoente, que tinha boa relação com Camata e Marquinho, disse à Justiça que, momentos antes do tiro que matou o político, ambos se entreolharam.

O ex-governador se aproximou quando Marquinho conversava com outra pessoa dentro do estabelecimento.

"Vi Camata passando na frente da padaria, dando a impressão de que ia entrar. Ele viu Marquinho e Élio, acenou para eles de longe e passou direto. Acredito que ele não entrou pois viu Marquinho, mas no momento não pensei nisso. Só tive essa percepção depois", contou.

Marcos Venicio Moreira Andrade, de 66 anos. (Divulgação | Polícia Civil)

Ainda segundo o segurança, ele notou que Marquinho ficou nervoso após a rápida passagem de Gerson Camata. "Ele ficou um pouco nervoso e levantou da mesa. Eu falei para ele: 'você ficou nervoso?' Por que você ficou nervoso?'. Ofereci uma água para ele e ele aceitou. Ele tomou a água com um remédio e saiu", disse.

Outra testemunha escolhida pela acusação foi o dono da banca de revistas, local frequentado por Camata e perto do qual o tiro foi disparado. O ex-governador conversou rapidamente com ele, perguntando sobre a chegada de uma revista. Em seguida, foi abordado um pouco adiante por Marcos Venicio.

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"Marquinho falou alguma coisa para Camata, mas como ele fala baixo não consegui entender. Percebi que tinha a ver com dinheiro. Camata respondeu: 'Eu não falo nada com você, favor procurar meu advogado'. Não vi o momento do disparo, mas ouvi o tiro. Camata voltou andando e passou em frente a banca com a mão no peito e gritando: 'Ele me matou'. Pelo que percebi da conversa, posso dizer que não havia tom de ameaça e nem de agressão de nenhuma das partes", relatou à Justiça.

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