Temas sensíveis na segurança pública, a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, e a flexibilização do uso de armas são medidas que, para a senadora Rose de Freitas (MDB), não resolvem os problemas da área no Estado ou no país. Na primeira sabatina com os candidatos ao Senado Federal, conduzida nesta terça-feira (13) pela colunista de Política de A Gazeta, Letícia Gonçalves, a emedebista se manifestou contra as duas propostas.
A redução da maioridade para crimes hediondos entrou em pauta porque, recentemente, em entrevista para o G1, o governador Renato Casagrande (PSB) se mostrou favorável à medida. O socialista é um aliado de Rose e os dois seguem juntos na campanha das eleições deste ano.
Rose disse que, em algum momento de sua vida pública, chegou a defender a redução porque muitos adolescentes são recrutados pelo tráfico de drogas, mas revisou seu entendimento ao refletir como a criminalidade alcança esses jovens.
"Os jovens foram abandonados. São famílias que não têm estrutura e as oportunidades são ínfimas. O Estado (poder público) foi se eximindo de cuidar de sua responsabilidade, de oferecer saúde, educação. Cada vez mais se ausenta do seu papel e a miséria aumenta. Sem apoio do Estado, as famílias se degradam, os meninos e meninas vão para as ruas. Se coloco um jovem de 16 anos na cadeia, qual é a perspectiva de reformar o comportamento, de se ressocializar? Nenhuma!"
Para a senadora, portanto, reduzir a criminalidade passa por investimento em educação, como o país já fez em gestões anteriores com aumento da oferta de ensino profissionalizante e que, segundo ela, com sua atuação no Congresso Nacional permitiu que o Espírito Santo também se beneficiasse com mais escolas técnicas. "Em vez de discutir se diminui a maioridade para o jovem ser alcançado pela lei ou se você o permite ser alcançado pelas políticas públicas de Estado", defende.
Questionada sobre a flexibilização do uso de armas, como defende o presidente Jair Bolsonaro (PL), a senadora também refutou a ideia de que é uma medida de segurança. "Pode dar uma sensação de segurança, mas não tem nada de seguro nisso. Uma pessoa passa a usar uma arma, muitas vezes não tem a menor a familiaridade com ela, não sabe em que circunstância vai usar, em que situação emocional vai fazer uso dela. Sou contra, absolutamente contra!"
De pautas que cabem ao Congresso Nacional, Rose de Freitas também ressaltou as inúmeras propostas que apresentou com a perspectiva de reduzir a violência contra a mulher, como o projeto que torna imprescritível o feminicídio, ou seja, não importa o tempo que tenha decorrido do assassinato, o autor poderá ser julgado e punido.
Ainda assim, se reeleita, a senadora pretende colocar em debate outras pautas que podem contribuir para diminuir a violência de gênero. Uma das propostas é que todas as escolas de educação básica implementem conteúdos que tratem de cidadania e direitos humanos que, entre outras abordagens, poderá demonstrar a importância do respeito às mulheres e da equidade. "Não conhecendo essa igualdade, essa criança, quando crescer, pode reproduzir na sociedade a violência", avalia.
A senadora também tratou de outro ponto em que o Congresso Nacional é alvo de muitas críticas: o orçamento secreto, um mecanismo que permite aos parlamentares direcionar recursos públicos sem dar muita transparência. Rose é contrária a esse instrumento e, inclusive, deu visibilidade a verba que tinha para utilizar. Para ela, é possível acabar com esse instrumento.
A emedebista ainda ressaltou sua atuação política em que busca ser reconhecida como uma senadora municipalista, isto é, com foco nos municípios. Ela diz que conta com o apoio de muitos prefeitos justamente porque considera importante usar a sua função para viabilizar recursos para as cidades.
Ela lembrou que já foi chamada de "varejista" de maneira pejorativa pela forma que trabalha no Congresso Nacional, mas disse não se importar. Rose observou que é importante propor leis, mas a atuação parlamentar está além dos projetos. "Se o povo não tem água tratada, eu vou buscar. Se não tem creche, vou buscar essa creche. Se não tem acesso para escoar a produção, vou buscar a estrada. Sou autora de muitas leis, mas não é só isso. Na prática, não podemos esquecer que o Estado tem muitas demandas", reforçou.
Um momento em que a senadora ficou bastante incomodada foi com a pergunta sobre a Operação Corsários, da Polícia Federal, em que o nome de Rose de Freitas foi citado e houve busca e apreensão em imóveis de pessoas com quem tem ligação. A emedebista negou qualquer irregularidade e frisou que não existe processo instalado contra ela, nem denúncia formalizada.
"Será que depois de 40 anos de vida pública eu descobri que roubar é bom, se eu não roubei antes? Se nunca teve contra mim denúncia de qualquer natureza? Nunca roubei, nunca me vali do dinheiro público para nada, minha vida é conhecida por todos. Esse processo não existirá porque não sou ladra, sou mulher digna, essa foi a minha escolha e com ela vou percorrer os dias todos de minha vida", exaltou.
Para Rose de Freitas, alguns políticos que querem ganhar a eleição muitas vezes usam desses recursos para atacar a sua integridade. Essa prática, inclusive, por pouco não a fez desistir da vida pública. Contudo, ela afirmou que acabou decidindo que não poderia permitir que adversários conseguissem espaço desonrando a sua imagem.
A senadora também foi perguntada sobre a eleição presidencial, uma vez que o MDB tem candidatura própria - Simone Tebet - mas há especulações sobre seu possível apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Rose garantiu que, no momento, seu voto é da colega de partido. Mesmo considerando que a terceira via na disputa à Presidência da República é difícil de se viabilizar, Rose preferiu não declarar em quem pretende votar em um eventual segundo turno do petista com o Bolsonaro.
"Eu não quero desmerecer a minha candidata, não. Se eu disser isso agora, eu estou tirando ela do páreo, e da grande disputa democrática e vai ser muito difícil para ela, assim como tem sido para todas as mulheres na política em nível nacional."
Foram convidados a participar das sabatinas os candidatos de partidos que têm ao menos cinco parlamentares no Congresso Nacional. As entrevistas vão seguir a ordem da pontuação na última pesquisa Ipec, divulgada no dia 2 de setembro.
Para definir quem seria o candidato a abrir a série de sabatinas, já que Magno Malta (PL) e Rose aparecem empatados na última pesquisa Ipec, foi considerado como critério de desempate a aliança com o maior número de assentos no Congresso Nacional. Portanto, Rose de Freitas foi a primeira entrevistada.
No entanto, no domingo (11), o candidato Magno Malta, que foi internado recentemente devido a uma gastrite aguda, informou que não participará da sabatina, devido a compromissos de campanha na segunda (12) e na terça-feira (13). Com isso, a série de entrevistas, que começaria nesta segunda-feira (12), teve início na terça (13), com a conversa com os candidatos ocorrendo em sequência durante a semana. A mudança mantém a ordem de entrevistas dos candidatos de acordo com a pontuação alcançada na última pesquisa Ipec.
Os próximos entrevistados serão:
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