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Saída de Moro: bancada do ES fala em acirramento de crise

Saída de Moro: bancada do ES fala em acirramento de crise

Entre deputados federais e senadores eleitos pelo Espírito Santo há quem peça até a renúncia do presidente da República. Veja repercussões

Publicado em 24 de abril de 2020 às 14:20

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Perda para o país, "orfandade", acirramento de crise política e até pedido de renúncia do presidente da República fazem parte das repercussões por parte de deputados federais e senadores eleitos pelo Espírito Santo sobre o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fala a imprensa sobre seu pedido de demissão do cargo
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fala à imprensa sobre seu pedido de demissão do cargo . (Marcello Casal Jr/Agência Brasil )

Moro pediu para sair depois que o presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Moro, ex-juiz federal que atuou na Operação Lava Jato, contou, em pronunciamento, que Bolsonaro quer interferir politicamente no trabalho da PF.

Saída de Moro - bancada do ES fala em acirramento de crise

"GRANDE PERDA PARA O PAÍS"

Para o deputado federal, Felipe Rigoni (PSB) as afirmações feitas pelo ex-ministro no pronunciamento levantam questionamentos sobre a conduta do presidente da República.

Em entrevista para A Gazeta, Rigoni afirmou que, após o pronunciamento de Moro, ficou claro que o discurso de combate à corrupção, pregado pelo presidente, já estava ruindo há algum tempo e agora ruiu de vez. "O principal requisito, o mais básico, para se ter combate à corrupção é ter um poder de investigação competente. Nem PT, nem Dilma, nem Lula interferiram na autonomia da Polícia Federal. As pessoas têm que entender a gravidade disso", ressaltou.

O deputado ressaltou ainda que, nos últimos dias,  Bolsonaro esteve em conversa para buscar um acordo com os partidos que compõem o Centrão para ganhar força no Congresso. Para ele, a proximidade dos fatos indica que pode haver uma ligação: "Foram negociados cargos super importantes, com muito dinheiro envolvido, isso mostra que pode fazer parte do acordo. A saída do diretor da Polícia Federal e a consequente queda do Moro pode ser uma exigência para o acordo firmado." 

Para Sergio Vidigal (PDT), ao entregar o cargo o ex-ministro decidiu não se curvar a velha política.

O deputado Josias da Vitória (Cidadania) afirmou que Moro é referência no combate à corrupção e, por isso, sua saída é uma grande perda.

O deputado Amaro Neto (Republicanos) enviou nota afirmando que a saída representa perda na luta contra a corrupção: "A saída do ministro Sergio Moro representa, sem dúvida, uma perda na luta contra a corrupção e o crime organizado no Brasil. Como ex-magistrado e atualmente ocupando a principal cadeira no Ministério da Justiça, Moro merece nosso respeito e agradecimento pelo trabalho que desenvolveu no país. "

O deputado Helder Salomão (PT) avalia que o presidente da República cometeu crime de responsabilidade ao tentar acessar relatórios de inteligência da Polícia Federal. Moro, no pronunciamento em que anunciou o pedido de demissão, disse que é essa a intenção de Bolsonaro ao trocar o comando da PF.

Para Helder, no entanto, a decisão de Moro de deixar o governo tem a ver com interesses eleitorais do ex-juiz.

O deputado Ted Conti (PSB) disse, em entrevista, que vê a saída de Moro com um ato de firmeza e isenção do ex-ministro. Para o parlamentar, qualquer pessoa que ama o país deve entender que a democracia depende da autonomia de todos os órgãos, principalmente de instituições como a Polícia Federal, que conduz investigações importantes para a manutenção do regime democrático. Para o deputado, o próprio Moro precisará prestar esclarecimentos. “O Moro precisa esclarecer. O presidente queria a interferência para defender quem? Qual o motivo?”, questiona.

Soraya Manato (PSL) lamentou a decisão do ex-ministro, mas disse estar confiante com as decisões que serão tomadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Lamento a decisão do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que se desligou do Governo Federal. Sabemos que ele é uma personalidade brilhante, uma reserva moral pelo combate à corrupção e tem a admiração de todos nós brasileiros. Mas o comandante do Brasil é o Presidente Jair Messias Bolsonaro e as principais decisões para o país estão nas mãos dele. Estamos confiantes!", comentou, por meio de nota.

Em nota, a deputada Lauriete (PL) elogiou a atuação do ex-ministro, destacando que votou a favor do pacote anticrime, mas defendeu que a indicação de ministros é de escolha pessoal do presidente e, por isso, acredita que a transição do ministério será de forma técnica.

"Sergio Moro vem prestando importante serviço no combate à criminalidade, enfrentando todo tipo de corrupção e virou uma referência internacional na aplicação da justiça. Votei favorável ao pacote anticrime apresentado pelo então Ministro Moro e sou simpatizante aos ideais do homem público que coordenou a importante operação Lava Jato, um marco na história do Brasil no enfrentamento ao crime organizado. Tenho dito que Ministro é cargo de confiança do Presidente da República, mas em meio à pandemia, não podemos perder o foco na saúde do povo, na ciência para combater o coronavírus e salvar vidas que estão sendo aniquiladas pela Convid-19. Com o sistema público de saúde em colapso, não é momento de alimentar crise política. Estamos confiantes que o Presidente irá conduzir o processo de transição no Ministério da Justiça com um nome técnico e comprometido com o combate à violência, dando sequência ao trabalho já realizado."

SENADORES FALAM EM RENÚNCIA E "SENTIMENTO DE ORFANDADE"

Em entrevista para A Gazeta, o senador Marcos Do Val (Cidadania) afirmou que Moro era a espinha dorsal do governo Bolsonaro: "É um governo que se elegeu com a bandeira do combate à corrupção e o Moro representava isso. A saída dele é uma perda e vai gerar instabilidade política grande nesse momento de pandemia. Os brasileiros estão com sentimento de orfandade e desacreditados com o governo."

De acordo com Do Val, alguns senadores já estão se movimentando para um pedido de impeachment, que caso ocorra ele se posicionará contrário. "Por conta das denúncias feitas pelo ex-ministro em seu pronunciamento, alguns senadores estão movimentando esse pedido, eu não concordo porque acredito que só agrava a instabilidade. Vai ser mais insegurança pra quem quer investir e gerar emprego no país", pontuou.

Em rede social, o senador Fabiano Contarato (Rede) também comentou as denúncias e pediu a renúncia do presidente.

Em outro post, Contarato disse que vai pedir que a Procuradoria-Geral da República (PGR) que investigue Bolsonaro pelo crime de falsidade ideológica, "ao falsear pedido de exoneração do chefe da PF". O Diário Oficial registrou a exoneração de Maurício Valeixo, então diretor-geral da Polícia Federal, como se fosse "a pedido" e com a assinatura eletrônica do ministro da Justiça. 

Sergio Moro, no entanto, disse que Valeixo não fez nenhum pedido oficial de demissão e que ele, Moro, foi surpreendido pela publicação no diário, ou seja, não assinou.

A senadora Rose de Freitas (Podemos) disse que não ficou surpresa com o pedido de demissão. De acordo com a parlamentar, já era conhecido pelos corredores de Brasília um desgaste entre o presidente e o ex-ministro. Rose de Freitas afirmou que foi inoportuno o momento escolhido pelo presidente para exonerar o ex-diretor e a consequente demissão de Moro.

Para ela, o foco deveria estar na pandemia, uma vez que o país caminha para enfrentar uma grande crise econômica e humanitária: "Estou falando de vidas que se perdem, recursos que precisam ser dotados, ações que precisam ser tomadas pensando nos desdobramentos econômicos desse momento. Deveria se aguardar o final dessa pandemia, tanto para o presidente exonerar o diretor, quanto Moro pedir pra sair. Achei que desmerece o sofrimento da população brasileira."

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