Com salários até 50% abaixo dos valores oferecidos no mercado privado, atrair bons profissionais para o setor público tem se tornado tarefa difícil, principalmente em prefeituras do interior do Espírito Santo. Levantamento realizado por A Gazeta, com base nos portais da transparência dos municípios, mostra que até cargos de alto escalão, como os de secretários, chegam a ter remuneração de R$ 2,5 mil na administração municipal. O "piso da categoria" pertence a Água Doce do Norte, no Noroeste do Espírito Santo.
O salário médio dos gestores no Estado é de R$ 5,3 mil. No entanto, mais de 52 dos 78 municípios estão abaixo da média, que é puxada para cima pelos salários da Grande Vitória, todos acima de R$ 8 mil. De acordo com a especialista em gestão de pessoas Giselia Curry, o setor privado chega a pagar entre R$ 7 mil e R$ 8 mil para profissionais com as mesmas funções e responsabilidades de um secretário. Em grandes empresas, essa média pode saltar para R$ 10 mil a R$ 12 mil.
A nível de Espírito Santo, existem profissionais com cargos de gestão que recebem entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Agora, dentro do setor público é muita responsabilidade, por isso, é um salário que considero baixo, o que torna difícil captar profissionais mais qualificados. Hoje a máquina pública tem uma mão de obra muito desqualificada e isso transparece na qualidade dos serviços feitos para a comunidade, analisa Curry.
Prefeito de Viana, onde o salário de secretário é de R$ 7.280, e presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), Gilson Daniel (Podemos) afirma que ouve queixas de prefeitos que muitas vezes sequer conseguem preencher os cargos de gestão.
Muitas cidades menores só tem capacidade para pagar um salário mais baixo. O que nós orientamos a fazer é reduzir o número de secretarias, juntar algumas pastas, para conseguir atrair profissionais melhores. Nem sempre é fácil. Muitas vezes quem assume esses cargos são pessoas muito jovens, que estão recém-formadas, ou profissionais que já se aposentaram, mas que não tem tanta energia mais, relata.
Discutir aumento salarial para secretários é um tema polêmico, que costuma gerar desgaste político para gestores. Em novembro, a Câmara de Colatina aprovou, em meio a protesto de moradores, o aumento de 86% no salário de secretários municipais, passando a remuneração de R$ 3.901,57 para R$ 7.290. O projeto de lei acabou sendo vetado pelo prefeito da cidade.
Gilson Daniel destaca que a legislação de muitos municípios, como é o caso de Colatina, entendem o secretariado como cargos políticos, o que faz com que um aumento no salário do setor promova reajuste também nos cargos de vereadores, de vice-prefeitos e de prefeitos. Não existe tabela de salários. A realidade depende muito de uma cidade para outra. E é um tema polêmico. Aumentar não é fácil, diz.
O professor universitário e mestre em administração pública Hugo Brandião Júnior afirma que falta racionalidade ao se debater a remuneração no serviço público. Ainda que esteja acima da média salarial geral do capixaba, que segundo o IBGE é de R$ 2.066, há cargos no serviço público que exigem formação acadêmica na área e um nível maior de responsabilidade.
Há, de uma maneira geral, um desperdício do dinheiro público, mas é impossível chamar alguém qualificado para trabalhar se não houver paridade salarial com a responsabilidade que o cargo exige. Não há como alguém gerir bem a Saúde ou a Educação de um município, por exemplo, sem ser formado ou ter conhecimento na área. Além de ter dificuldade de encontrar alguém que seja bom, oferecer salários baixos contribui, indiretamente, para que casos de corrupção aconteçam com mais frequência, com alguém querendo compensar a renda menor se corrompendo ao fechar algum contrato, argumenta.
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