Anunciado como novo secretário da Segurança Pública do Espírito Santo, o delegado federal Eugênio Ricas foi oficialmente apresentado, nesta terça-feira (6), pelo governador Renato Casagrande (PSB) para assumir a pasta. Embora ainda não tenha ocupado o cargo — depende de trâmites administrativos para ser cedido pelo governo federal ao Estado —, Ricas aponta desafios e revela ideias para enfrentar a criminalidade, mas é enfático: "Se o criminoso não respeitar uma ordem, vai ter confronto."
O futuro secretário, que só deve tomar posse após o carnaval, foi informado sobre o elevado número de confrontos (mais de 500) registrados em 2023 e questionado se vai manter esse modelo de enfrentamento que, em muitos casos, resulta em mortes, tanto de suspeitos quanto de policiais. Ricas destaca que, mesmo com o crescimento, a letalidade foi menor que em anos anteriores e observa que a atuação dos policiais é para proteger a população.
"Se a polícia dá uma ordem de comando legal, ele (o criminoso) precisa respeitar, entregar a arma. Caso isso não aconteça, vai ter o confronto, infelizmente. Esse é o papel do policial, que existe para proteger a sociedade", sustenta.
Ricas disse defender o uso de câmeras corporais na farda de policiais por acreditar que a implementação dos equipamentos nos agentes do Estado vai favorecer o trabalho da PM e conferir mais transparência, particularmente quando há questionamentos sobre a conduta policial.
Para o enfrentamento às organizações criminosas, o futuro secretário acredita em um tripé: investimento em tecnologia, investimento em inteligência e cooperação entre forças de segurança. Nesse contexto, Ricas aposta em um trabalho que já vem sendo realizado, como a força-tarefa proposta durante a sua gestão na superintendência da Polícia Federal do Espírito Santo, e os constantes recursos aplicados pelo governo do Estado em aparato tecnológico, contribuindo, por exemplo, para as investigações de crimes.
"Então, graças a esse investimento de tecnologia, os resultados estão vindo e, com certeza, vão vir ainda mais com as câmeras corporais. Essa é uma saída inteligente, é uma tecnologia que auxilia o trabalho do policial que está na rua, auxilia a sociedade para transparência das ações", reforça.
Para Ricas, também é fundamental atuar para conter a enxurrada de armas nas ruas, muitas das quais, segundo ele, adquiridas legalmente após a flexibilização das regras para a categoria dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) no governo de Jair Bolsonaro (PL), mas já revistas na atual gestão federal. Esse armamento, no entanto, caiu nas mãos de criminosos.
"Acredito que a gente precisa mirar muita questão das armas, identificar o fluxo dessas armas, de onde estão vindo. Historicamente, a gente sabe que as armas longas vinham dos Estados Unidos, armas curtas vinham do Paraguai. Recentemente, a Polícia Federal fez uma grande operação que identificou uma organização criminosa responsável por colocar mais de 40 mil armas dentro do Brasil. Então, essa precisa ser uma estratégia."
Outro ponto que Ricas considera fundamental é descapitalizar bandidos, isto é, bloquear os recursos que dispõem e alimentam a organização porque, conforme observa o novo secretário, muitas vezes ocorre de um líder ser preso, mas o grupo criminoso continua forte porque tem dinheiro para comprar armas e drogas. "Se identifica o poder financeiro da organização criminosa, quando a pessoa é presa, não há o que fazer porque traficante não vende fiado."
Lembrado que o ex-secretário Alexandre Ramalho defendia mudanças na legislação para problemas recorrentes no enfrentamento à criminalidade, Ricas avalia que pode, sim, haver avanços nas leis. Porém, em sua opinião, mais importante que a alteração legislativa, é a diminuição da impunidade. O futuro secretário acredita que, a partir do momento em que o criminoso tiver certeza de que será punido, o impacto vai ser maior na redução de indicadores criminais do que somente aumentar o tamanho de uma pena, por exemplo.
E é para reduzir números da violência no Estado, principalmente de crimes contra a vida, que Ricas foi convidado por Casagrande para assumir a Segurança. O governador disse que não estabeleceu metas numéricas, mas o que se espera é que sempre possa haver, de um ano para o outro, queda nos registros de homicídios. Em 2023, o Espírito Santo registrou 978 assassinatos — o menor indicador desde 1996, quando foi iniciada a série histórica.
O novo secretário frisa que vai perseguir esse objetivo e planeja manter estratégias já implementadas pelo programa Estado Presente, ao qual se referiu como um modelo de governança que vem reduzindo, ano após ano, os índices de criminalidade, com uma equipe consistente, e que o torna "uma excelente política pública, reconhecida internacionalmente."
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