A Secretaria de Saúde (Sesa) repudiou, neste sábado (13), a visita surpresa de deputados estaduais ao hospital estadual Dório Silva, na Serra, na tarde da última sexta-feira (12). Os parlamentares Lorenzo Pazolini (Republicanos), Vandinho Leite (PSDB), Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL) e Carlos Von (Avante) foram até o local e entraram, segundo a secretaria, em áreas destinadas a pacientes com Covid-19 e alas de outras enfermidades.
O objetivo da visita, segundo os deputados, era apurar denúncias sobre as condições de trabalho precárias no hospital. Segundo eles, quase 100% dos leitos estavam ocupados por pacientes com Covid-19, sem espaço para aqueles que precisam tratar de outras doenças.
De acordo com o Painel Covid-19, da Sesa, dos 102 leitos disponíveis na unidade para o tratamento de infectados pelo novo coronavírus, 94 estão ocupados. Em suas redes sociais, o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, chamou a atitude de inadmissível e classificou o comportamento como "radical, xiita e de baixo perfil".
Em nota, a Sesa disse que a ação colocou em risco pacientes e servidores, que protocolos sanitários foram quebrados e que o direito a imagem de quem estava no local foi desrespeitado, já que foram feitas filmagens durante a visita.
"O ato é um desrespeito aos familiares que, devido e esses protocolos, não podem sequer ter contato com seus entes queridos. Lamentamos o ocorrido e clamamos que as autoridades constituídas tenham dimensão de suas responsabilidades neste momento. Esta Secretaria nunca se furtou de prestar informações ao Legislativo e a toda sociedade capixaba. Contudo, a legislação prescreve todas as vias legais e não será o abuso de poder e a intimidação que nos levará a superar esta pandemia", diz a nota da secretaria.
A Sesa ainda associa a visita inesperada dos parlamentares a uma declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última quinta-feira (11), incentivando que pessoas entrem em hospitais e façam vídeos. O objetivo de bolsonaristas, que têm insuflado a prática nas redes sociais, é mostrar que os hospitais estariam "vazios", sem pacientes. Mas não é isso que os parlamentares dizem ter constatado.
O governador Renato Casagrande (PSB) criticou a declaração de Bolsonaro e disse que esse posicionamento dificulta o trabalho. Ele falou sobre a invasão a hospitais, mas não citou que ela tenha sido feita por parlamentares.
Para os deputados estaduais que participaram da visita, o governo tentou criar uma narrativa falsa para fugir das críticas apresentadas pelos parlamentares. Segundo eles, a visita foi para checar denúncias de servidores sobre a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, como a máscara N-95, indicada pela Anvisa.
Além disso, os parlamentares disseram ter constatado a falta de medicamentos para sedação de pacientes e um lixão que havia se formado dentro do hospital.
"Nós fomos ao hospital, nos identificamos aos servidores, que permitiram nossa entrada. Não houve truculência, caminhamos tranquilamente, sem contratempos, apenas no corredor do hospital. Não entramos em nenhum quarto, mesmo com alguns pacientes pedindo para falar conosco", afirmou Pazolini.
Segundo ele, a visita tinha caráter de fiscalização, por isso era importante que fosse feita sem aviso prévio, para evitar que alguma situação fosse "escondida" dos deputados. Como era ponto facultativo, os diretores do hospital não estavam no local. Ele nega que a visita tenha sido motivada pelas declarações de Bolsonaro, que sugeriu, em suas redes, que os hospitais estariam vazios.
"Pelo contrário, nós sabíamos que o Dório Silva estava com quase 100% da ocupação dos leitos de UTI com pacientes da Covid. Inclusive, pacientes com outras doenças não estão mais sendo atendidos por lá, apesar de que mesmo com a pandemia, as pessoas não deixam de ficar doentes por outras causas", pontuou.
Em nota o deputado Carlos Von repudiou o posicionamento do secretário da saúde. "Ele está nitidamente enganando o povo capixaba, querendo impedir que o Ministério Público e os demais deputados estaduais de exercerem o seu dever Constitucional de fiscalizar e acompanhar as ações dos demais poderes", escreveu.
Vandinho Leite disse que irá encaminhar as irregularidades encontradas na unidade ao Ministério Público Federal (MPF). "o objetivo da fiscalização é salvar vidas e denunciar o descaso do governo estadual na condução do combate a pandemia. Estão tentando criar essa narrativa para nos intimidar. Essa informação é falsa, tomamos todas as providências para anular qualquer risco, tanto para nós, quanto para os funcionários e pacientes", pontuou.
Danilo Bahiense, que também participou da ação, disse que não houve invasão e que foram adotadas todas as medidas de segurança recomendadas pela OMS. Os deputados, que são opositores ao governo, disseram que estão recebendo denúncias de outras unidades e planejam novas visitas.
Já Torino Marques divulgou uma carta em que repudiu o fato dos deputados terem sido chamados de invasores e que todos estavam "devidamente munidos dos EPIs necessários, respeitando todas as regras sanitárias, sem risco para nós e para os demais pacientes do hospital". "Chamar de invasores é imputar como criminoso o ato dos deputados. É nos nivelar ao nível mais baixo dos socialistas amigos do governo, como o 'socialista' Guilherme Boulos que invade propriedade particular."
Torino afirmou ainda, na carta, que eles já tinham programado a ida ao Dório Silva desde o início da semana e a visita nada tem a ver com a declaração recente de Bolsonaro. "E garanto que nossas vistorias e fiscalização não irão parar por aqui. Fiscalizaremos outras unidades e a destinação das verbas dos cofres públicos no combate à pandemia e no melhor atendimento para o povo capixaba", completou o deputado.
A Sesa foi questionada sobre as críticas feitas pelos deputados, como a falta de leitos para outras doenças, falta de medicamentos e ausência de equipamento adequado para os profissionais de saúde. Até a publicação desta reportagem, não houve retorno.
A Secretaria de Saúde (Sesa) manifesta repúdio à invasão das instalações do Hospital Dório Silva, no município da Serra, por alguns deputados estaduais e outras pessoas estranhas ao ambiente hospitalar. É inadmissível esse tipo de atitude, no momento em que o Espírito Santo, o País e o mundo enfrentam a mais grave crise de saúde em nossa geração.
Mais grave é o fato de que tal atitude foi insuflada por uma declaração irresponsável do chefe da Nação. Tal atitude intempestiva por parte dos invasores colocou em risco pacientes e servidores, já que estes indivíduos quebraram todo tipo de protocolo sanitário, transitando em alas destinadas a pacientes com Covid e alas de outras enfermidades. Além da violação do direito à imagem de todas as pessoas constrangidas pelos invasores por meio da captação de imagens sem autorização, o ato é um desrespeito aos familiares que, devido e esses protocolos, não podem sequer ter contato com seus entes queridos.
Lamentamos o ocorrido e clamamos que as autoridades constituídas tenham dimensão de suas responsabilidades neste momento. Esta Secretaria nunca se furtou de prestar informações ao Legislativo e a toda sociedade Capixaba. Contudo, a legislação prescreve todas as vias legais e não será o abuso de poder e a intimidação que nos levará a superar esta pandemia.
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