A composição do secretariado do futuro governo do Estado se tornou estratégia de campanha na disputa no Espírito Santo. Enquanto Carlos Manato (PL) já começa a montar a sua equipe, o governador Renato Casagrande (PSB), que tenta a reeleição, prefere não se antecipar sobre mudanças de secretários num eventual novo mandato.
Manato já anunciou na última semana o nome de quem pretende indicar para a Secretaria da Fazenda. Após ficar em quinto lugar na disputa para o governo e não avançar ao segundo turno, Aridelmo Teixeira (Novo) poderá assumir a pasta que já comandou na Prefeitura de Vitória durante a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos).
O candidato do PL também anunciou o professor João Luiz Lani, com pós-doutorado em Agronomia, para comandar a Secretaria de Meio Ambiente. Manato ainda levou para junto de si João Eudes Bezerra Filho, doutor em contabilidade e administração e auditor de controle externo do Tribunal de Contas de Pernambuco, e o irmão de Aridelmo, Arilton Teixeira, para compor a pretensa equipe de transição.
A assessoria de campanha acrescentou que Manato deveria indicar sua opção para a área de segurança pública. Porém, ele disse, em evento na última segunda-feira (17), que novos anúncios somente devem ser feitos após o segundo turno, caso vença as eleições.
Casagrande, por sua vez, não planeja adiantar eventuais alterações no secretariado. Em nota, a equipe de campanha afirmou que o governador destaca que "o momento é de continuar governando o Estado, de apresentar propostas e novos projetos para o Espírito Santo. A montagem de secretariado se dará somente após o resultado nas urnas."
Vice-presidente do Ideia Instituto de Pesquisa e especialista em marketing político, Cila Schulman observa que não há certo e errado na condução feita por cada uma das candidaturas. Ela acredita que a estratégia funciona bem para cada um deles e não existe uma que seja melhor ou pior para ambos.
"Em geral, o desafiante (no caso, Manato) anuncia nomes para dar algum tipo de segurança para o eleitor. É usual? Não, não é. O normal é que se vença a eleição para depois fazer a sua equipe."
Por outro lado, Cila constata que a área econômica, que está nos planos de Manato, costuma ser mais visada. "Se a gente for para o nacional, há uma pressão muito grande em cima do Lula (o presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva) para definir o nome dele das finanças", exemplifica.
Para Manato, a especialista entende que o anúncio de possíveis secretários ajuda a "criar fatos", o que pode ser bom para sua candidatura. Já para Casagrande, antecipação de nomes poderia mais confundir o meio político do que contribuir para a campanha de reeleição. "Não acho que seria uma boa estratégia para ele", resume.
Também especialista em marketing político, Natália Mendonça pontua que é comum ter essa pressão para anunciar nomes, em uma tentativa de antecipar a "forma de pensar do novo governo" e, quando essa medida pode de fato ajudar a criar um juízo de valor no eleitor, é uma decisão acertada.
Natália lembra da campanha presidencial de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro anunciou Paulo Guedes como ministro da Economia. "Resolveu um problema na comunicação dele, que era a falta de proposta concreta para a retomada da economia no país, e também ajudou a mandar um sinal de que ele estava cercado de nomes técnicos e iria fazer um governo além da ideologia — o que o ajudou a ganhar a confiança dos eleitores de centro. Naquele caso, foi acertado."
Na avaliação de Natália, abrir o nome de futuros secretários tem a mesma lógica da escolha de um vice. O candidato usa essa indicação, ressalta a especialista, para fortalecer a candidatura onde precisa dar robustez e isso pode variar com as circunstâncias de cada pleito e até com a região.
"Para quem está em mandato, a situação fica mais complicada porque envolve admitir falhas ou a necessidade de mudança, e a estratégia deve ser usada com mais cautela. Mas é possível, sim, desde que com a narrativa certa", conclui.
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