Publicado em 29 de abril de 2020 às 17:14
E daí? Quer que eu faça o quê? Esta foi a reação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nesta terça-feira (28), ao ouvir que o número de mortos por Covid-19 no Brasil havia batido recordes, com mais de 5 mil óbitos, e ultrapassado as estatísticas da China. Poucos dias antes, no último domingo (26), ao ser questionado sobre a amizade que a família mantém com Alexandre Ramagem, que havia sido nomeado para assumir o comando da Polícia Federal, o presidente reagiu de forma parecida.
Esse padrão de resposta de Bolsonaro, quando indagado pela imprensa sobre determinados temas importantes para o país, se repetiu em outros momentos desde campanha eleitoral, em 2018. Especialistas ouvidos por A Gazeta avaliam que esse tipo de declaração do presidente pode ser adequar aos períodos eleitorais, mas não condizem com o papel de um governante.
Questionamentos sobre episódios como o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro; as queimadas na Amazônia; e o preço do diesel também tiveram respostas lacônicas do presidente. Veja algumas frases selecionadas por A Gazeta:
Em setembro de 2018, enquanto Bolsonaro ainda estava em campanha eleitoral, o Museu Nacional, que fica no Rio de Janeiro, foi destruído por um incêndio de grandes proporções. Na data, organizações, pesquisadores e figuras públicas manifestaram indignação e falaram sobre a importância de se preservar a cultura e a história. Ao ser questionado, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro respondeu de forma polêmica.
Jair Bolsonaro
Presidente da República, na época candidato ao cargoEm abril do ano passado, após decidir segurar o aumento previsto de 5,7% no preço do diesel pela Petrobras, o que não foi bem recebido pelo mercado econômico, Bolsonaro foi questionado e se esquivou, afirmando que não entendia de economia. Em 2018, enquanto ainda era pré-candidato, o parlamentar já havia repetido essa afirmação em outras entrevistas.
Jair Bolsonaro
Presidente da RepúblicaEm setembro de 2019, após dados publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) demonstrar que o número de queimadas na Amazônia haviam triplicado em agosto, o presidente da República disse estar sendo atacado e acusado de ser responsável pelas queimadas no Brasil, fenômeno que ocorre todos os anos.
Jair Bolsonaro
Presidente da RepúblicaEm dezembro do ano passado, questionado sobre o envolvimento do filho dele, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em supostos esquemas de corrupção, o presidente fugiu da resposta e rebateu o repórter.
Jair Bolsonaro
Presidente da RepúblicaNão é a primeira vez, dentro do período de pandemia, que Bolsonaro se esquiva de perguntas relacionadas ao número de mortos por coronavírus no Brasil. O país acaba de ultrapassar a China em número de óbitos. Em resposta, o presidente disse que lamenta, mas não sabe o que esperam dele. Na semana passada, o líder do executivo já havia respondido "Não sou coveiro, tá?" para perguntas similares.
Jair Bolsonaro
Presidente da RepúblicaA troca no comando da Polícia Federal, que culminou no pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, levantou questionamentos sobre uma possível interferência política do presidente na Polícia Federal. Em denúncias feitas durante seu pronunciamento, Moro afirmou que o presidente gostaria de ter alguém de confiança comandando o órgão, responsável por investigações que envolvem o nome de dois de seus filhos. Ao indicar Alexandre Ramagem, amigo pessoal da família Bolsonaro, o presidente foi questionado e defendeu a escolha.
Jair Bolsonaro
Presidente da RepúblicaAs respostas evasivas do presidente para perguntas sobre assuntos relevantes para o país não surpreendem os especialistas ouvidos por A Gazeta e, segundo eles, remontam os tempos da campanha eleitoral.
Na avaliação do cientista político João Gualberto, o presidente age como se ainda fosse candidato a um cargo público. "Bolsonaro não tem estratégia de governo, de convergência. Ele governa como quem faz campanha. Frases assim são boas para vencer eleição, mas péssimas para governar", pontuou.
O professor de Teoria Política na Unesp Milton Lahuerta sustenta que, com a postura, o presidente abdica de presidir verdadeiramente o Brasil. "Ele está se omitindo das suas responsabilidades nos momentos mais dramáticos. Não é presidente de fato. Ele é presidente por direito, porque foi eleito, mas abdicou dessa condição em cada um desses episódios ao demonstrar que não faz ideia do que o cargo significa."
Para o cientista político Paulo Baía, embora as afirmações tenham causado muita repercussão, não fogem do que é esperado. "Não há novidade nenhuma. Desde que foi eleito para vereador no Rio de Janeiro, em 1993, todas as suas falas demonstram que ele não tem compromisso com as instituições e com a democracia", afirmou.
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