E daí? Quer que eu faça o quê? Esta foi a reação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nesta terça-feira (28), ao ouvir que o número de mortos por Covid-19 no Brasil havia batido recordes, com mais de 5 mil óbitos, e ultrapassado as estatísticas da China. Poucos dias antes, no último domingo (26), ao ser questionado sobre a amizade que a família mantém com Alexandre Ramagem, que havia sido nomeado para assumir o comando da Polícia Federal, o presidente reagiu de forma parecida.
Esse padrão de resposta de Bolsonaro, quando indagado pela imprensa sobre determinados temas importantes para o país, se repetiu em outros momentos desde campanha eleitoral, em 2018. Especialistas ouvidos por A Gazeta avaliam que esse tipo de declaração do presidente pode ser adequar aos períodos eleitorais, mas não condizem com o papel de um governante.
Questionamentos sobre episódios como o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro; as queimadas na Amazônia; e o preço do diesel também tiveram respostas lacônicas do presidente. Veja algumas frases selecionadas por A Gazeta:
Em setembro de 2018, enquanto Bolsonaro ainda estava em campanha eleitoral, o Museu Nacional, que fica no Rio de Janeiro, foi destruído por um incêndio de grandes proporções. Na data, organizações, pesquisadores e figuras públicas manifestaram indignação e falaram sobre a importância de se preservar a cultura e a história. Ao ser questionado, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro respondeu de forma polêmica.
Em abril do ano passado, após decidir segurar o aumento previsto de 5,7% no preço do diesel pela Petrobras, o que não foi bem recebido pelo mercado econômico, Bolsonaro foi questionado e se esquivou, afirmando que não entendia de economia. Em 2018, enquanto ainda era pré-candidato, o parlamentar já havia repetido essa afirmação em outras entrevistas.
Em setembro de 2019, após dados publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) demonstrar que o número de queimadas na Amazônia haviam triplicado em agosto, o presidente da República disse estar sendo atacado e acusado de ser responsável pelas queimadas no Brasil, fenômeno que ocorre todos os anos.
Em dezembro do ano passado, questionado sobre o envolvimento do filho dele, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em supostos esquemas de corrupção, o presidente fugiu da resposta e rebateu o repórter.
Não é a primeira vez, dentro do período de pandemia, que Bolsonaro se esquiva de perguntas relacionadas ao número de mortos por coronavírus no Brasil. O país acaba de ultrapassar a China em número de óbitos. Em resposta, o presidente disse que lamenta, mas não sabe o que esperam dele. Na semana passada, o líder do executivo já havia respondido "Não sou coveiro, tá?" para perguntas similares.
A troca no comando da Polícia Federal, que culminou no pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, levantou questionamentos sobre uma possível interferência política do presidente na Polícia Federal. Em denúncias feitas durante seu pronunciamento, Moro afirmou que o presidente gostaria de ter alguém de confiança comandando o órgão, responsável por investigações que envolvem o nome de dois de seus filhos. Ao indicar Alexandre Ramagem, amigo pessoal da família Bolsonaro, o presidente foi questionado e defendeu a escolha.
As respostas evasivas do presidente para perguntas sobre assuntos relevantes para o país não surpreendem os especialistas ouvidos por A Gazeta e, segundo eles, remontam os tempos da campanha eleitoral.
Na avaliação do cientista político João Gualberto, o presidente age como se ainda fosse candidato a um cargo público. "Bolsonaro não tem estratégia de governo, de convergência. Ele governa como quem faz campanha. Frases assim são boas para vencer eleição, mas péssimas para governar", pontuou.
O professor de Teoria Política na Unesp Milton Lahuerta sustenta que, com a postura, o presidente abdica de presidir verdadeiramente o Brasil. "Ele está se omitindo das suas responsabilidades nos momentos mais dramáticos. Não é presidente de fato. Ele é presidente por direito, porque foi eleito, mas abdicou dessa condição em cada um desses episódios ao demonstrar que não faz ideia do que o cargo significa."
Para o cientista político Paulo Baía, embora as afirmações tenham causado muita repercussão, não fogem do que é esperado. "Não há novidade nenhuma. Desde que foi eleito para vereador no Rio de Janeiro, em 1993, todas as suas falas demonstram que ele não tem compromisso com as instituições e com a democracia", afirmou.
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