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Sem acesso ao processo, defesa pede liberdade de pastor preso em ato na Prainha

Sem acesso ao processo, defesa pede liberdade de pastor preso em ato na Prainha

Advogado protocola pedido de liberdade provisória para o pastor Fabiano Oliveira, preso desde 19 de dezembro, alegando cerceamento de defesa

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 18:53

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Pastor Fabiano Oliveira em frente ao 38º BI, em Vila Velha, depois de ter prisão decretada pelo STF
Pastor Fabiano Oliveira (à direita) participou de atos em frente ao 38º BI, em Vila Velha. (Reprodução/ Twitter)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

A defesa do pastor Fabiano Oliveira, preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro de 2022 por integrar milícias digitais e movimentos antidemocráticos no Espírito Santo, protocolou um pedido de liberdade provisória para ele direcionada ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, na última sexta-feira (27).

Moraes é relator do inquérito no STF que apura a atuação do pastor nos movimentos antidemocráticos e o advogado dele, Marcelo Brasileiro, alega violações ao direito de defesa para justificar que Fabiano seja solto.

O advogado sustenta que o seu cliente foi ouvido somente na condição de testemunha em um inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco) da Polícia Civil do Espírito Santo, em novembro de 2022, e até o presente momento "a defesa do pastor Fabiano Oliveira desconhece as peças que provocaram o STF e motivaram a prisão dele".

Na avaliação do advogado, diversos direitos garantidos pela legislação à defesa do preso foram violados desde que a prisão foi efetuada, no dia 19 de dezembro, quando o pastor Fabiano se encontrava no acampamento golpista bolsonarista  em frente ao 38º Batalhão de Infantaria do Exército, na Prainha, em Vila Velha.

"O pastor Fabiano disse que só foi apresentado o mandado de prisão a ele quando já estava no presídio em Viana. Só mostraram o papel a ele depois de preso. Isso é cerceamento de defesa. Requeri acesso aos autos desde a audiência de custódia, mas o desembargador que fez a audiência disse que qualquer pedido deveria ser direcionado ao ministro Alexandre de Moraes. Fui ao STF e não consegui acesso aos autos", alegou o advogado.

As investigações do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) que embasaram a decisão do ministro apontam o pastor Fabiano como uma das lideranças dos “movimentos criminosos e antidemocráticos que atacam o sistema eleitoral”. Nas redes sociais, ele se identifica como líder de dois grupos de extrema-direita, o B22 e o Soberanos da Pátria. Segundo o advogado, ele é pastor da Igreja Shekinah, da Serra.

Além de participar de atos antidemocráticos, o MPES afirma ainda que o pastor tem diversas publicações “contendo incisivos ataques ao STF e o incentivo à ruptura da ordem democrática”.

Marcelo Brasileiro disse que, por não ter conseguido acessar as motivações e a fundamentação utilizada pelo ministro do STF para determinar a prisão preventiva do pastor,  optou em apontar na peça protocolada os motivos pelos quais o seu cliente deve ser solto utilizando como base as regras processuais. Na lista dos motivos, ele aponta que não foi formalizada denúncia contra o seu cliente, cujo prazo previsto no artigo 46 do Código de Processo Penal é de cinco dias quando o acusado está preso. Fabiano está preso desde 19 de dezembro.

Aspas de citação

Desde a audiência de custódia não respeitaram o direito do preso. Sacrificaram o princípio da liberdade como regra, o direito à informação, ao não dar publicidade à ordem de prisão e ao negar ao advogado as razões da decisão. Violaram o direito à defesa. Não sabemos a motivação até hoje da prisão dele.

Marcelo Brasileiro
Advogado do pastor Fabiano Oliveira
Aspas de citação

Outra alegação do advogado é que o pastor não tem foro e prerrogativa de função e, na avaliação dele, foram violados o princípio do promotor e do juiz natural. "Se, em tese, ele tivesse cometido algum crime, seria um promotor e não a procuradora-geral de Justiça. a atuar. Seria um juiz de primeiro grau da Justiça Federal ou Estadual e não o STF. Tem várias nulidades na prisão do meu cliente", argumentou.

Ele afirmou que protocolou um "pedido de liberdade provisória para o pastor Fabiano diretamente ao ministro Alexandre de Moraes". "Ele é o relator do inquérito e tudo passa pela mão dele. Apontamos extrapolamento de prazo e cerceamento do direito de defesa. Houve violação de diversos preceitos constitucionais e extravasamento do prazo para oferecimento de denúncia previsto no artigo 46 do CPP (Código de Processo Penal)", apontou o advogado.

Foragido há mais de 45 dias

Alvo da mesma operação do pastor Fabiano, o radialista e suplente de deputado estadual pelo PTB Max Pitangui é suspeito de promover atos antidemocráticos no Espírito Santo e está foragido há mais de 45 dias. O mandado de prisão expedido contra ele pelo STF em 15 de dezembro de 2022 continua em aberto, pois ele não foi localizado pelas forças de segurança.

O advogado Marcelo Brasileiro disse que estava negociando para atuar na defesa de Pitangui, mas assegurou que não sabe onde ele está e não tem contato com o radialista há cerca de duas semanas. Ele relatou que conheceu o suplente de deputado estadual em uma reunião política e que Pitangui estava junto com Fabiano Oliveira no 38º BI no dia 15 de dezembro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação para prendê-los.

Assim como em relação a Oliveira, Marcelo Brasileiro afirmou desconhecer as motivações da determinação da prisão de Pitangui.

Megaoperação

Fabiano Oliveira e Max Pitangui foram alvos da megaoperação da Polícia Federal em oito estados, incluindo o Espírito Santo, e no Distrito Federal contra atos antidemocráticos, cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão.

No Estado, foram presos o vereador de Vitória Armandinho Fontoura (ex-Podemos) e o proprietário do site Folha do ES, Jackson Rangel. No mesmo dia, os deputados Capitão Assumção (PL) e Carlos Von (DC) receberam tornozeleira eletrônica.

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