Com o anúncio do deputado estadual Marcelo Santos (Podemos) de que não disputaria as eleições em Cariacica em 2020, o município não terá este ano as três principais lideranças políticas da cidade nas últimas duas décadas. O atual prefeito, Geraldo Luzia Júnior, o Juninho (Cidadania), está terminando o segundo mandato consecutivo e não pode se reeleger. Ex-prefeito e deputado federal, Helder Salomão (PT) também decidiu não entrar na disputa. Os três foram os únicos políticos a chegarem ao segundo turno das eleições cariaciquenses desde 2000.
A ausência do trio marca um novo ciclo político na cidade. Por mais que os três afirmem que não ficarão totalmente afastados do pleito e que vão apoiar um dos 20 pré-candidatos a prefeito já declarados, o cenário abre espaço para novas lideranças.
Por mais que tenham sido adversários em outros pleitos, há uma semelhança no discurso dos três: o receio de o município voltar a um período de instabilidade política. Fruto de um crescimento populacional desordenado na segunda metade do século XX, Cariacica viveu um período de violência na política, impeachment e renúncia de prefeitos entre 1980 e 2000.
Desde 1980, somente três prefeitos concluíram seus mandatos: Aloízio Santos (pai de Marcelo Santos e de quem o parlamentar herdou seu capital político), Helder Salomão e Juninho.
De acordo com o historiador e cientista político João Gualberto Vasconcellos, essa instabilidade política no município tem origem na política de erradicação dos cafezais no Espírito Santo, a partir de 1962. Com a queda de preços da saca de café no final dos anos 1950, a União decidiu eliminar os pés de café até que a capacidade produtiva se equiparasse com a demanda. A atividade, que empregava boa parte dos capixabas na época, gerou um grande movimento de pessoas para a Grande Vitória. Próximo à Capital, Cariacica tornou-se a opção para ex-camponeses à procura de emprego.
Até os anos 1980, dois políticos se alternavam no comando da Prefeitura de Cariacica, Aldo Prudêncio e Vicente Sartório Fantini. Eleito em 1978, Aldo foi assassinado a tiros em 1980, em circunstâncias até hoje não desvendadas pela polícia. Em seu lugar, assumiu o vice-prefeito, Joel Lopes Rogério, que foi morto por dois tiros da própria arma. Apesar das suspeitas de assassinato, a Justiça considerou a morte acidental.
A cidade foi governada pelo então presidente da Câmara, Wagner de Almeida, até a eleição de Vicente Sartório, em 1983. Porém, o novo prefeito pouco ficou no cargo e se afastou após sofrer um derrame. Somente em 1993, com a primeira eleição de Aloízio Santos, é que um prefeito governou durante os quatro anos de mandato.
Em 2000, o então prefeito Cabo Camata morreu em um acidente de carro. Seu vice, Jesus Vaz, assumiu o cargo, mas governou por apenas sete meses até sofrer um impeachment pela Câmara de Cariacica.
Para o prefeito Juninho, apesar das carências do município, os últimos 20 anos trouxeram uma harmonia política para Cariacica. Ele acredita que os oito anos de mandato de seu governo e os outros oito anos de Helder Salomão permitiram que as gestões pudessem dar continuidade aos seus projetos.
Juninho foi vice-prefeito na gestão de Helder, mas, quando se disputou a prefeitura pela primeira vez, em 2012, o petista não o apoiou e defendeu a candidatura da então deputada estadual Lúcia Dornelas (PT).
"Olhando para os nomes que estão postos vemos de tudo. Tem bons candidatos, mas tem gente querendo se aproveitar do município e tem aventureiros da política. Mas estamos em um período de oxigenação das lideranças da cidade, nunca concordei com perpetuação de famílias e grupos políticos. Não podemos volta à era do coronelismo. Eu surgi sem o apoio de ninguém, não tinha familiares na política e, de quinto lugar nas pesquisas, consegui ganhar duas eleições", recorda o prefeito.
O deputado estadual Marcelo Santos conta que ainda sonha em ser candidato à Prefeitura de Cariacica, mas que resolveu recuar este ano após um conselho do governador Renato Casagrande (PSB), por considerá-lo peça importante da base do governo na Assembleia Legislativa. Para o parlamentar, nenhuma candidatura deve ser desrespeitada, mas é preciso ter cuidado para que o município não retorne a um passado nebuloso.
"Tivemos dois prefeitos na cidade que trouxeram grande prejuízo ao município. Cabo Camata e Vasco Alves (que morreu este ano) não eram da cidade, foram forasteiros que se elegeram para comandar o município e até hoje a sociedade paga a conta que eles deixaram, com financiamentos e empréstimos feitos naquele período", afirma.
Filho do ex-prefeito Aloízio Santos, Marcelo foi vereador (1997-2000) na cidade e eleito cinco vezes deputado estadual (desde 2003), com grande parte dos votos conquistados em Cariacica.
Dos três, Helder Salomão é o único a já definir quem irá apoiar nas eleições. Seu partido, o PT, lançou como pré-candidata a ex-secretária de Educação da gestão de Helder, Célia Tavares (PT). Para o parlamentar, nos próximos meses o número de candidaturas na cidade deve diminuir. Ele aposta na união de partidos, não necessariamente de esquerda, do campo progressista, para evitar que candidatos que não respeitam a democracia se elejam na cidade.
"As diferenças engrandecem o debate, mas não podemos ter uma eleição de ódio e ignorância. Acreditamos em um cenário de alianças no município, temos uma boa relação estadual com o PSB, queremos intensificar nossas conversas com o PCdoB, PDT e PSOL. Se tiver um cenário de ameaça à democracia, nós vamos nos posicionar", afirma.
Vereador em 1992, Helder perdeu a eleição para prefeito em 2000 para Aloízio Santos. Foi eleito deputado estadual em 2002 e prefeito em 2004 e 2008. Está em seu segundo mandato como deputado federal.
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