A prisão do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, na quarta-feira (7), durante a sessão da CPI da Covid, no Senado, dividiu os senadores do Espírito Santo que têm participado da comissão. De um lado, o senador Marcos do Val (Podemos), que se identifica como independente em relação ao governo federal, considerou o pedido de prisão um excesso e acompanhou Dias, junto com senadores governistas, até o departamento de Polícia Legislativa.
Já Fabiano Contarato (Rede) não só defendeu a ação do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), por ter dado voz de prisão ao ex-diretor, como destacou que outros depoentes que estiveram na comissão também deveriam ter sido presos por, segundo ele, terem mentido em depoimento. Para o parlamentar, a decisão de Aziz "não foi facultativa, mas, sim, obrigatória" diante de uma suposta mentira de Roberto Dias.
O ex-diretor foi preso sob a acusação de "perjúrio", segundo Aziz, ao dizer que não havia marcado um encontro com o empresário e policial Luiz Paulo Dominguetti, que representava a Davati Medical Supply. De acordo com Dominguetti, na ocasião foram ofertadas ao governo 400 milhões de doses de AstraZeneca e Dias pediu propina para que o contrato fosse fechado.
Dias disse à CPI que o encontro, em um restaurante de Brasília, foi acidental e que não havia agendado com Dominguetti. Segundo o depoente, foi o policial quem o abordou no local. O senador Aziz afirma que em um áudio do ex-diretor enviado a Dominguetti, obtido após a apreensão do celular do policial, Dias confirma o encontro, contrariando o que havia dito na comissão. O parlamentar não reproduziu a gravação na CPI.
Um áudio, revelado pela CNN Brasil, reproduz um trecho em que um interlocutor, identificado apenas como Rafael, é quem confirma o encontro entre o policial e o então diretor.
Para Marcos do Val, que é suplente na CPI e acompanhou Dias até a delegacia da Polícia Legislativa, a comissão teve acesso a um áudio de uma terceira pessoa indicando o agendamento do encontro, que não pode ser considerada prova suficiente para prender o ex-diretor.
Ele defende que prisões durante a comissão devem ser feitas em último caso, a fim de evitar que depoentes se sintam coagidos a falar. Do Val, contudo, não descarta a possibilidade de alguma irregularidade na transação por parte de Dias, mas afirma que a forma como a prisão foi feita desestabiliza a CPI.
Classificado muitas vezes em plenário como senador pró-Bolsonaro, Do Val nega ser governista, mas acredita que os casos de corrupção, envolvendo possíveis pedidos de propina em compra de vacinas, esbarram em membros do terceiro escalão e, até agora, não atingem o presidente.
"O que eu tenho visto é que a CPI está se atropelando, cada hora foca em um lugar diferente, questionando primeiro o tratamento precoce, depois atraso nas vacinas e agora isso. Estão seguindo uma direção passional, tentando desgastar o governo para promover um outro candidato à presidência em 2022. Vejo que o primeiro e o segundo escalões do governo estão blindados quanto à corrupção e que há indícios de esquema no terceiro escalão, mas é algo que, infelizmente, existe na cultura brasileira, não surgiu no atual governo", analisa.
Contarato, por sua vez, também acredita que a CPI tem se atropelado, mas por diferentes motivos. Embora não faça parte da comissão, o senador da Rede tem acompanhado as sessões e feito questionamentos.
Ele aponta que as convocações realizadas pela presidência da comissão têm se precipitado, e que, antes de se chamar os investigados a depor, o mais correto seria investigar os documentos requeridos e outras provas que pudessem levar a inquéritos mais bem embasados.
O senador, no entanto, não vê direcionamento político na condução da comissão, como aponta a base de Bolsonaro. Ele afirma que a prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde não causa dificuldades para a apuração das denúncias e nem enfraquecerá a CPI. Roberto Dias já foi solto, após pagamento de fiança.
Contarato foi, no início de maio, o primeiro a defender prisão em flagrante na comissão. Durante o depoimento de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, o senador o acusou de ter mentido ao negar ter chamado o ministro da Saúde de “incompetente”, como havia afirmado em uma entrevista à revista Veja.
"Se desde a primeira mentira identificada na CPI nós tivéssemos cumprido o que está escrito na Constituição, de dar a voz de prisão quando em estado flagrancial, acho que poderíamos ter resultados melhores. Já aconteceu em outros depoimentos também. A questão é que o senador Omar Aziz, após constatar que o ex-diretor estava mentindo, tinha a obrigação de o prender. Não era uma decisão facultativa", argumenta.
A senadora Rose de Freitas (MDB), que até o momento não esteve presente em nenhuma sessão da CPI, ainda que não seja integrante da comissão, foi procurada pela reportagem de A Gazeta para se posicionar sobre a prisão de Roberto Dias. Até a publicação deste texto, ela não retornou o contato.
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