Um dia após ser eleito prefeito da Serra pelos próximos quatro anos, Sergio Vidigal (PDT), afirma que já está montando sua equipe de transição, que vai dialogar com a atual administração para começar o processo de troca de gestão. Em entrevista à Rádio CBN Vitória, nesta segunda-feira (30), Vidigal afirmou que ainda não falou com o prefeito Audifax Barcelos (Rede), mas vai informá-lo, em breve, quem será responsável pelas articulações.
"Ainda não conversei (com Audifax) porque estou terminando uma reunião para montar uma equipe de transição. Não será de aliados políticos, será de profissionais. Essa eleição tem o período de transição muito curto, tradicionalmente o segundo turno acabava em outubro e dessa vez temos só 30 dias. Assim que formar a equipe vou informar ao prefeito para dar o acesso para começar a discutir sobre essa transição", disse.
Vidigal está indo para o quarto mandato como prefeito da Serra. Ele e Audifax se revezam na cadeira de prefeito desde 1997. O tom do prefeito eleito é de uma ruptura, não com o governo de Audifax, mas com o que chamou de "modelo antigo de gestão".
"Vamos precisar ter dados importantes e fidedignos para que a gente possa desde o primeiro dia de gestão poder implantar essa ruptura, essa ruptura de gestão pública que os gestores terão que fazer nos próximos quatro anos. Ruptura até com o meu modelo de gestão que eu apliquei lá atrás. Os gestores hoje ou fazem uma ruptura com o modelo antigo de gestão que a gente tinha ou não vão conseguir governar nesse novo cenário para atender a expectativa da sociedade", assinalou.
Mesmo assumindo um cargo que já conhece bem, Vidigal afirmou que os desafios que vai enfrentar no próximo mandato são muito diferentes dos que teve anteriormente e o maior deles é o enfrentamento à pandemia. Entre suas prioridades no novo modelo de gestão, também está a modernização da administração e a redução da máquina pública. O atual deputado federal chegou a afirmar, durante a entrevista, que vai reduzir em 35% cargos comissionados e secretarias.
Durante a conversa, Vidigal, que é deputado federal, foi questionado por ouvintes sobre os impactos de o município perder um parlamentar no Congresso. O suplente do pedetista é Neucimar Fraga (PSD), que tem sua trajetória política em Vila Velha. O parlamentar defendeu sua decisão de voltar para o Executivo, sustentando que pode atuar mais pela cidade enquanto prefeito do que na bancada federal.
"O desafio que a cidade tem é muito maior do que o que eu posso ajudar enquanto deputado. Porque são 10 deputados federais para o Espírito Santo inteiro, então o deputado federal não é de uma cidade, ele é de todo o Estado. Eu vou deixar de trazer, de repente, em emendas individuais, R$ 10 a r$ 12 milhões por ano e vou passar a administrar um orçamento de R$ 1,5 por ano, que precisa ser melhor administrado, com minha capacidade de articulação com o governo estadual e também com a própria bancada federal", apontou.
Confira os principais trechos da entrevista do novo prefeito para a CBN Vitória:
É um momento único, a administração pública exige dos novos gestores não somente que se modernizem, mas que coloquem uma equipe com essa nova visão de gestão pública. Reduzir o tamanho da máquina, reduzir o número de secretarias e cargos comissionados, investir em tecnologia na gestão pública, conectar melhor a população à cidade, desburocratizar algumas ações do município com o código tributário, código ambiental, para facilitar a vinda de novos investimentos, fortalecer o empreendedorismo, é um desafio novo.
Nós temos que respeitar e orientar todos os protocolos do Ministério da Saúde, da Sesa, que a população se conscientize da necessidade de segui-los como afastamento, de repente a não aglomeração. Mas eu diria que em relação ao atendimento da saúde eu creio que a Serra precisa fazer alguns investimentos. A gente ficou mais focado no pronto atendimento e esqueceu da atenção primária. Os pacientes buscam a UPA e 80% dos que buscam a UPA poderiam ser atendidos pela atenção primária e o custo dele em uma UPA é três vezes maior do que na atenção primária, fora a comodidade de ser atendido em sua própria comunidade. Temos 39 unidades de saúde espalhadas pela cidade, nós precisamos fortalecer a atenção primária, precisamos colocar os profissionais pediatra, clínico geral, ginecologista e obstetra. O Ministério da Saúde já remunera os municípios se quiser atender até as 20h durante a semana, temos que trabalhar com essa possibilidade. Queremos fazer as policlínicas voltarem a atender aos sábados e ampliar a estratégia de saúde da família, que hoje não atende nem 30% da população.
Eu creio que o investimento na atenção primária é de um custo muito menor e vai ao mesmo tempo melhorar a qualidade de atendimento e reduzir a demanda nas UPAS. Lembrando que você não consegue aumentar a efetividade se não acabar com as filas. Temos que implantar tecnologia para reduzir as filas, marcar consulta por aplicativo. Vou dar um exemplo: quando você marca uma consulta para um paciente daqui a 60 dias, o risco de ele não ir à consulta é de 50%. No aplicativo pode confirmar com 48h de antecedência se o paciente vai ou não vai para otimizar a estrutura do atendimento. Já na atenção secundária nós precisamos buscar parceria com o governo do Estado porque sabemos muito bem que não adianta somente colocar especialista, é preciso garantir exames de média e alta complexidade. Eu defendo que a saúde secundária fosse feita por credenciamento.
A média que se espera para uma consulta é de 60 dias. O que acontece com o paciente? Ou ele acaba indo a uma UPA ou até mesmo uma clínica popular. Nós temos que reduzir isso, o atendimento na atenção primária não pode passar de 7 a 10 dias. Se não o paciente ele vai, necessariamente, em uma UPA. Porque nós temos três UPAS que funcionam 24h em dias de semana. 80% dos pacientes que vão para a UPA poderiam ser atendidos na atenção primária e o custo deles na UPA é três vezes maior. Isso é uma prioridade da minha gestão.
A tendência nossa é reduzir secretarias e cargos comissionados em pelo menos 35%. Vamos definir, quando tiver no nosso projeto vamos dividir a administração em quatro eixos e a gente quer fazer secretarias alocadas a esses eixos. Nesse movimento e aí a universidade federal, o Ifes, nos ajudou muito na construção dessa proposta, a gente vai reduzir secretarias, cargos, de forma que possamos melhorar e dar resposta mais rápida à população. Entre a folha de pessoal e custeio vai mais de 80% de todo orçamento municipal. Não dá para dizer que vamos reduzir investimentos, temos que reduzir o custeio da máquina e otimizar esses trabalhadores, que comprometem 42% da nossa receita.
Para dar alguns dados, no primeiro semestre nós tivemos 960 roubos de veículos e mais de 300 assaltos a ônibus, sem contar que ainda continuamos com o maior índice de homicídios no Espírito Santo. Vamos continuar cobrando do governo do Estado a ampliação do efetivo da polícia no município e a revisão do funcionamento das delegacias. Por parte do município, hoje nós temos pouco mais de 90 guardas municipais para uma cidade com mais de meio milhão de habitantes. Uma das nossas propostas é ampliar o efetivo da Guarda. Em 2016 a prefeitura fez um concurso público abrindo 170 vagas e hoje temos pouco mais de 90. Vamos chamar o restante para complementar 170 vagas e vamos preparar o concurso para ter cerca de 300 guardas municipais. A proposta é não deixar eles apenas em áreas de visibilidade, descentralizar a ação da Guarda Municipal para transformar em uma guarda comunitária, próximo das regiões com índice alto de violência.
E, aqui, mais uma vez a importância das ferramentas tecnológicas. Vitória já tem o centro integrado de segurança, facilita muito a redução de roubo de veículos. Na Serra, nós não temos. Temos que implantar e, lógico, buscar parcerias para isso. O videomonitoramento nosso foi implantado em 2011, a gente sabe que as ferramentas ficam obsoletas. Nós precisamos atualizar, é fundamental o videomonitoramento com reconhecimento facial.
O desafio que a cidade tem é muito maior do que o que eu posso ajudar enquanto deputado federal. São 10 deputados federais para o Espírito Santo inteiro, então o deputado federal não é de uma cidade, ele é de todo o Estado e, automaticamente, discutindo as pautas nacionais que são fundamentais. Mas eu creio que a importância da decisão, que é muito mais importante para a Serra do que para mim porque é muito mais cômodo ser deputado federal, é que eu vou deixar de trazer, de repente, em emendas individuais R$ 10 a R$ 12 milhões por ano e vou passar a administrar um orçamento de R$ 1,5 bilhão por ano, que precisa melhor administrado, e minha capacidade de articulação com o governo estadual e também com a própria bancada federal. Porque as grandes emendas que vêm são de bancada. E essa articulação que tenho me permite que a bancada continue trabalhando pela cidade.
Ainda não conversei porque estou terminando uma reunião para montar uma equipe de transição. Não será de aliados políticos, será de profissionais que deverão participar. Essa eleição tem o período de transição muito curto e, a partir disso, vou informar ao prefeito que pode dar o acesso para que essa equipe para começar a discutir sobre essa transição que é fundamental. Nas últimas eleições, normalmente, o segundo turno acaba no final de outubro. Nesse caso nós só temos 30 dias e 30 dias em um momento muito difícil com queda de receita, pandemia, vamos precisar ter dados importantes e fidedignos para que a gente possa desde o primeiro dia de gestão implementar essa ruptura, essa ruptura de gestão pública que os gestores terão que fazer nos próximos quatro anos porque se não ninguém conseguirá governar e dar resultados para a população.
Ruptura com o modelo de gestão, no bom sentido. Ruptura até com o meu modelo de gestão que eu apliquei lá atrás. Os gestores hoje, ou fazem uma ruptura com o modelo antigo de gestão que a gente tinha ou não vão conseguir governar nesse novo cenário para atender a expectativa da sociedade.
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