O ex-governador Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada da Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado pelo ex-assessor Marcos Venicio Moreira Andrade. Minutos depois foi disparado o tiro que pôs fim à vida do político e chocou o Espírito Santo. O crime ocorreu há um ano, no dia seguinte ao Natal de 2018.
Marcos Venicio foi preso no mesmo dia, em flagrante. A prisão foi convertida em preventiva e ele segue preso. Em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória, o ex-assessor confessou ter atirado.
"Foi um ano muito difícil para toda a nossa família, mas como a dor vem acompanhada de compensações, eu tenho preenchido muito minha vida com o amor que eu tenho recebido dos meus filhos e irmãos e dos dois netinhos que são a maior preciosidade da nossa vida", afirmou Rita Camata, ex-deputada federal e viúva de Gerson Camata, nesta quinta-feira (26).
Para a acusação, o assassinato foi premeditado e motivado por uma dívida. Marcos Venicio teve valores bloqueados em conta bancária no âmbito de um processo movido por Camata contra ele. O ex-assessor foi denunciado pelo Ministério Público Estadual por homicídio qualificado e porte ilegal de arma de fogo. A denúncia foi recebida, o que o tornou réu no processo. Falta o julgamento.
"Confio no Judiciário em todas as decisões tomadas, agora é o julgamento popular de fato efetivar a condenação de um cidadão que, de forma covarde e muito sofrida, muito cruel, fez com que uma vida fosse ceifada. A vida de um avô, de um pai, de um esposo, um homem que sempre teve o coração cheio de alegria, de doação às pessoas e que teve o fim trágico com nem uma oportunidade de defesa. O julgamento popular vai permitir que a Justiça dos homens seja efetivada. Continuo sempre nas minhas orações. Hoje tivemos uma missa só em família para rezar, celebrar a vida dos que chegam e a dor da saudade. Essa parece que não passa", disse Rita.
E complementou à reportagem de A Gazeta: "Um ano de muito sofrimento, angústias, incertezas, fraquezas e buscando força porque Gerson sempre foi a alma da nossa família e faz muita falta. Deus tem sido um grande alicerce para nós para nos mantermos de pé e confiantes na Justiça".
Em junho deste ano, Moulin decidiu que Marcos Venicio Moreira Andrade deve ir a júri popular. "Verifica-se a presença de comprovação mínima da existência de elementos suficientes para demonstrar a viabilidade da imputação ao suspeito apontado na acusação, de desferir disparo de arma de fogo contra a vítima", escreveu o magistrado. Na ocasião, ele também manteve a prisão.
A defesa de Marcos Venicio recorreu. No último dia 11, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) manteve a decisão de pronúncia que determina o júri popular e também definiu que Marcos Venicio deve continuar na cadeia.
"Para a acusação não há dúvida de que aquilo ali foi tudo orquestrado. Ele foi ao local armado, sem autorização para tal, já que ele não tinha porte de arma e nem registro válido daquela arma. Foi para lá esperando a vítima passar", afirma o advogado Renan Salles, assistente da acusação.
"Claro que o anseio da família da vítima e da acusação é que o processo transcorra da forma mais célere possível, mas tem-se que passar por demandas processuais. O processo é burocrático, mas o Judiciário tem feito seu trabalho, tem um lapso temporal normal", avalia Salles.
Se a Justiça entender que o crime foi planejado por Marcos Venicio e que teve motivo fútil, isso deve influenciar no cálculo da pena.
Advogado de Marcos Venicio, Homero Mafra prefere não discutir o mérito do caso. Diz apenas que o réu não confessou em juízo ter atirado no governador por causa de uma dívida. Mas confessou ter atirado.
"Ele reconhece que fez os disparos, a defesa não discute isso. Há discussão quanto à motivação. Mas não é o momento de tratar disso", afirma Mafra.
A defesa vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a decisão de pronúncia e, assim, pretende evitar o júri popular. Para Homero Mafra, a decisão é "nula" e "viola vários dispositivos legais". Também quer que Marcos Venicio responda ao processo em liberdade. "Inclusive o Ministério Público concluiu que ele não representa perigo", sustenta o advogado.
"Defendemos a tese de que ele deve aguardar o julgamento preso, considerando a gravidade concreta do crime. Uma pessoa que acaba com a vida do outro pelo motivo dos autos, é uma pessoa potencialmente muito perigosa", rebate Salles.
Não há data para o júri popular determinado pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória.
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