O superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Jairo Souza da Silva, teria procurado, no início do ano, o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, para falar sobre um pedido de apoio na operação que matou o ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro Adriano da Nóbrega. Valeixo disse que o apoio deveria ter sido solicitado por "canais mais apropriados", já que era uma operação sigilosa. Em casos assim, os órgãos costumam fazer os pedidos pelos canais de inteligência, sem divulgar o alvo da operação.
Segundo o ex-diretor, a solicitação não voltou a ser feita e, consequentemente, a questão não voltou a ser tratada. O episódio foi relatado por Valeixo, em depoimento prestado na segunda-feira (11), quando foi questionado se houve "algum pedido de autuação da Polícia Federal" na operação contra Adriano. Nele, Valeixo confirma que a operação para prender o ex-policial era de conhecimento do Ministério da Justiça. Segundo a coluna Painel, da "Folha de S. Paulo", uma das secretarias do Ministério, na época ainda chefiado pelo ex-juiz Sergio Moro, também sondou a possibilidade de apoio com helicóptero e alguns efetivos.
"Que houve uma consulta à Polícia Federal, não pelo canal apropriado, vez que se deu via Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça (SEOPI) e através do Dr. Jairo, Superintendente da PF no Espírito Santo, de um apoio aéreo a uma operação na Bahia, que o depoente respondeu que devia se observar os canais apropriados, via canais de inteligência se houvesse informações reservadas, para que se avaliasse o apoio da Polícia Federal, que no entanto esse pedido nunca foi formalizado, logo não foi respondido", diz o trecho do depoimento em que o superintendente foi citado, que A Gazeta teve acesso.
Nóbrega era ex-capitão do Bope e considerado peça-chave na expansão das milícias no Rio de Janeiro, na morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e no esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (Republicanos), hoje senador da República.
Em fevereiro, após mais de um ano foragido, o miliciano foi morto durante uma operação da Polícia Militar da Bahia, que contou com a atuação da equipe de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
O ex-PM foi morto em um sítio em Esplanada, a 170 quilômetros ao norte de Salvador, na Bahia. Ele estava sendo procurado desde a deflagração da Operação Intocáveis, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro, que investigava acusados de integrar o grupo miliciano "Escritório do Crime", que atuava em Rio das Pedras e na Muzema, na periferia da capital fluminense. O imóvel onde o miliciano foi morto pertence ao vereador de Esplanada Gilsinho da Dedé (PSL-BA). Ele alegou não ter conhecimento de que o ex-capitão estava em seu sítio.
A reportagem procurou a Polícia Federal e o superintendente da PF no Espírito Santo, Jairo Souza da Silva, para manifestação sobre o depoimento. Também foi questionado sobre qual seria o canal apropriado para o pedido de apoio à operação. A Polícia Federal disse que não comenta o conteúdo de eventuais depoimentos prestados. A Superintendência da PF no Estado ainda não se pronunciou.
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