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Veja como foi o primeiro dia do julgamento do assassino de Gerson Camata

Veja como foi o primeiro dia do julgamento do assassino de Gerson Camata

Marcos Venicio Moreira Andrade foi assessor do político e está preso desde o dia do crime, 26 de dezembro de 2018.

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 23:14

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Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3)
Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3). (Carlos Alberto Silva)

Chegou ao fim o primeiro dia do julgamento do assassino confesso do ex-governador e ex-senador Gerson Camata, Marcos Venicio Moreira Andrade. Desde a manhã desta terça-feira (3), foram ouvidas testemunhas de acusação – entre elas a viúva e ex-deputada federal Rita Camata – de defesa e o próprio réu. 

Marcos Venicio está preso, preventivamente, desde o dia do crime, 26 de dezembro de 2018. O destino dele agora vai ser decidido por sete juradas. Quem conduz o julgamento é o juiz Marcos Pereira Sanches.

Os depoimentos começaram por volta das 9h40 e terminaram aproximadamente às 23h. Houve breves intervalos nesse período. Os trabalhos devem ser retomados nesta quarta (4), às 9h, também no Fórum Criminal de Vitória, na Cidade Alta.

CONFIRA OS PRINCIPAIS MOMENTOS DO JULGAMENTO

A chegada dos familiares

Familiares, como a viúva do ex-governador, a ex-deputada federal Rita Camata, os filhos Enza e Bruno e o sobrinho e secretário de Estado de Controle e Transparência, Edmar Camata, chegaram ao fórum logo cedo para acompanhar parte dos depoimentos.

Rita Camata chega ao Fórum Criminal de Vitória para julgamento do assassino de Gerson Camata
Familiares de Gerson Camata chegam ao Fórum Criminal de Vitória . (Carlos Alberto Silva)

A chegada do réu

Marcos Venicio foi levado ao local por uma equipe da Secretaria de Estado da Justiça, já que está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II. Ele chegou usando o uniforme da unidade, de bermuda. Mas trocou de roupa antes de entrar no salão do júri, passando a usar camisa e calça jeans, sem relação com a vestimenta dos internos.

Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3)
Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3), dentro de um veículo da Sejus, guardado por agentes. (Carlos Alberto Silva)

O depoimento de Rita Camata

Arrolada como testemunha de acusação, Rita Camata contou que o ex-governador já sabia, por meio de amigos em comum, que Marcos Venicio falava que queria matá-lo.

Ela relatou ainda que Gerson Camata estava triste devido a denúncias, nunca provadas, feitas por Marcos Venicio em entrevista ao jornal O Globo, em 2009. Marquinhos acusou o então senador, na época, de ter praticado caixa dois e rachid – prática de ficar com parte dos salários dos funcionários, também conhecida como rachadinha.

Camata processou o ex-servidor por danos morais, o que levou ao bloqueio de R$ 60 mil na conta de Marcos Venicio.

Marcos Venicio Moreira Andrade fala sobre assassinato de Gerson Camata à polícia, logo após ser preso. (Reprodução/Sesp)

Vídeos do momento do crime

Dois vídeos gravados por câmeras de segurança que registraram o momento do crime foram exibidos durante o julgamento. O réu assistiu a parte deles, sem esboçar emoção. Mas abaixou a cabeça e desviou o olhar quando as imagens mostravam Camata, já ferido por um tiro disparado pelo réu, caindo na calçada.

Depoimentos das testemunhas de defesa

Quatro testemunhas de defesa prestaram depoimento nesta terça. Enquanto  duas delas, Antonio Carlos Franca e Clovis Menescau, falavam, Marcos Venicio chegou a chorar. Eles relataram como era a rotina do grupo de amigos, que se reunia para conversar em um shopping da Praia do Canto. 

Disseram também que Marquinhos era introspectivo, mas simpático e gostava de ajudar as pessoas. Sabiam da desavença entre Camata e ele, mas afirmaram que o réu não costumava tocar nesse assunto.

Depoimento de quem viu tudo acontecer, de perto

O chef de cozinha Carlos Mariano Miranda Ayres, conhecido como Cassinho, estava perto do local do crime quando tudo aconteceu e relatou ao juiz e ao júri que ouviu parte da breve discussão entre o ex-governador e Marquinhos, que antecedeu ao disparo de arma de fogo.

"Mas me sinto roubado", disse Marcos Venicio a Camata, de acordo com Cassinho. Logo depois, o assassino atirou. 

Já ferido, Camata disse a Cassinho: "Ele me matou, ele me matou".

O depoimento do assassino confesso

Marcos Venicio, mais uma vez, confessou que matou o ex-governador. Mas sustentou que não planejou o crime. Ele disse, nesta terça, que queria apenas conversar com Camata, a respeito das denúncias ainda de 2009 e sobre o bloqueio na conta bancária. Mas, segundo ele, o ex-governador o tratou de forma ríspida, fez um gesto obsceno. Logo depois, Marquinhos efetuou o disparo de arma de fogo que acertou Camata.  "Tinha a esperança de conversar com ele e, lamentavelmente, causei uma tragédia", afirmou.

Quanto à arma, o réu alegou que ia levá-la à Polícia Federal, para regularização. Ele não possuía, no entanto, autorização para fazer o transporte da arma até lá.  

A tese da defesa é justamente a de que o homicídio não foi premeditado. E que tampouco foi motivado por "ganância", a briga pelo bloqueio do dinheiro, e sim por "relevante valor moral", devido a uma relação conflituosa que Marquinhos mantinha com Camata havia anos.

O que diz a acusação

Já para o Ministério Público e para os advogados assistentes da acusação, o crime, foi, sim, premeditado. Marquinhos já havia dito a amigos que pretendia matar Camata e, justamente naquele dia, estava armado, mesmo sem ter autorização para tal. E foi Marcos Venicio que abordou o ex-governador na rua, em uma calçada da Praia do Canto que ele costumava frequentar.

Além disso, pelo relato da testemunha, a discussão entre réu e vítima transcorreu em torno do bloqueio de bens de Marcos Venicio.

PRÓXIMOS PASSOS

De acordo com o promotor de Justiça Rodrigo Monteiro, nesta quarta-feira, a partir das 10h, começam os debates. A acusação vai poder falar por 1h30. O mesmo tempo vai ser destinado à defesa. E pode haver ainda 1 hora de réplica para cada uma das partes. 

O dia deve contar com um intervalo para almoço e a expectativa do promotor é que o julgamento chegue ao fim por volta das 17h. 

O CRIME

O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio, ex-assessor dele. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.

Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.

Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo, na época.

Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. 

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