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Veja o que diz a PF sobre participação de major do ES em trama golpista

Veja o que diz a PF sobre participação de major do ES em trama golpista

Em relatório com quase 900 páginas, Angelo Martins Denicoli é citado 21 vezes e apontado como integrante do núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral

Publicado em 29 de novembro de 2024 às 15:25

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Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército, alvo de operação da Polícia Federal no Espírito Santo por tentativa de golpe de Estado
Angelo Martins Denicoli aparece entre indiciados pela PF por suspeita de tramar golpe de Estado. (Redes Sociais/Reprodução)
Veja o que diz a PF sobre participação de major do ES em trama golpista

Morador de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli aparece como um dos 37 indiciados pela Polícia Federal por suspeita de tramar um golpe de Estado para mudar os rumos das eleições presidenciais em 2022. O nome dele é citado 21 vezes em relatório de quase 900 páginas da PF.

Na última terça-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do inquérito sobre a tentativa de golpe. Um dos principais documentos é o relatório, em que são descritas as apurações sobre a trama golpista e a participação de cada um dos indiciados, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e figuras do alto escalão do seu governo.

O major foi procurado pela reportagem de A Gazeta na noite de quinta-feira (28) para comentar o relatório da PF, mas disse que não falaria sobre o assunto.

Conforme as investigações, o ex-presidente Jair Bolsonaro “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” nas ações da organização criminosa, para manter-se no poder, impedindo a posse do governo eleito. Os planos incluíam até matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em dezembro de 2022, como meio de viabilizar um golpe de Estado.

As investigações apontaram que os indiciados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos:

  • Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
  • Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado; 
  • Núcleo Jurídico; 
  • Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • Núcleo de Inteligência Paralela;
  • Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.

No relatório da PF, com exatas 884 páginas, o major da reserva Angelo Martins Denicoli é apontado como integrante do Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, do qual também fariam parte Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; e Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel e ex-integrante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República; além de cinco outros membros.

O grupo teria como função, de acordo com as investigações, produzir e difundir narrativas falsas, de forma contínua e repetitiva, sobre a existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do país. “Os investigados durante todo o processo se utilizaram do modus operandi da denominada milícia digital”, diz o relatório.

O Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral começou a atuar ainda em 2019, mas ganhou relevo em 2022. Segundo as investigações, após a derrota de Bolsonaro nas eleições daquele ano, o grupo trabalhou para reverberar a ideia de que a votação foi fraudada, “estimulando seus seguidores a ‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado”, conforme cita o relatório. 

Grupo técnico

Uma das citações à participação do major Angelo Martins Denicoli no relatório da PF é de 2020. O militar aparece em um documento no qual Alexandre Ramagem, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), relata a Bolsonaro a criação de um ‘‘grupo técnico, de confiança, para trabalho de aprofundamento da urna eletrônica’’. No texto, Ramagem revela: ‘‘Estou com ajuda do Denicoli nessa empreitada”. Veja imagem abaixo:

Major do Espírito Santo é citado como membro de grupo técnico articulado para tentativa de golpe de Estado
Major do Espírito Santo é citado em documento escrito em 2020 pelo diretor da Abin da época. (Reprodução)

Transmissão ao vivo

Denicoli também está envolvido, segundo as investigações, na difusão de fake news para desestabilizar o sistema eleitoral brasileiro em 2022. Segundo a PF, o major atuou como elo entre a organização criminosa e o consultor político argentino Fernando Cerimedo, informação que já havia sido dada pela colunista Letícia Gonçalves em fevereiro deste ano.

Dono do canal La Derecha Diário e apoiador da família Bolsonaro, Cerimedo foi o responsável por uma live, realizada em 4 de novembro de 2022, que disseminou informações falsas sobre supostas irregularidades em urnas eletrônicas antigas, fabricadas antes de 2020. O conteúdo, na época, foi amplamente divulgado entre grupos bolsonaristas.

As informações falsas divulgadas por Cerimedo e Denicoli embasaram um pedido do Partido Liberal (PL) para anular votos de cerca de 280 mil urnas eletrônicas usadas no segundo turno das eleições.

Fake news na nuvem

Denicoli também é citado no relatório da PF a respeito da divulgação de informações falsas sobre as urnas compartilhadas em dezembro de 2022 por Cerimedo.

Na ocasião, um perfil no X (antigo Twitter) divulgou arquivos publicados em uma pasta no serviço de nuvem Google Drive, criada pelo consultor político argentino. Entre os documentos, um deles era de autoria de Denicoli. Veja imagem abaixo:

Denicoli também é citado no relatório da PF a respeito da divulgação de informações falsas sobre as urnas compartilhadas em dezembro de 2022
Arquivos publicados em uma pasta de serviço de nuvem nos quais aparece documento de autoria de Denicoli. (Reprodução)

Para a PF, a pasta no Google Drive confirma a ação coordenada do grupo, no sentido de disseminar por múltiplos canais os dados falsos sobre o sistema eletrônico de votação. “Além disso, evidenciou-se a relação de Angelo Martins Denicoli com o argentino Fernando Cerimedo e suas atuações, dentro da divisão de tarefas estabelecida, para disseminar conteúdos falsos sobre o sistema eletrônico de votação”, diz o relatório.

Alvo de operação no início do ano

A primeira menção do envolvimento do major do Espírito Santo em supostas articulações visando a um golpe de Estado aconteceu no início deste ano, quando ele foi apontado como um dos alvos da PF, por meio da operação "Tempus Veritatis", deflagrada em fevereiro. Bolsonaro e seus aliados também faziam parte do rol de investigados.

À época, a PF asseverou que Denicoli estava supostamente ligado à tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito — configurados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. Ele também era citado por promover ataques e informações falsas contra a Covid-19 e as medidas sanitárias da pandemia. O major chegou a ocupar um cargo de direção no Ministério da Saúde, durante a gestão de Eduardo Pazuello.

Com a deflagração da operação, o major ficou proibido de manter contato com os demais investigados, até por meio de seus advogados, além de não poder deixar o Brasil, tendo que entregar seu passaporte às autoridades policiais.

Demissão do governo de São Paulo

Pouco mais de uma semana após ter sido alvo da operação da PF, o major teve sua exoneração informada pelo governo paulista, onde ocupava o cargo de assessor especial da Companhia de Processamento de Dados de São Paulo (Prodesp).

A exoneração ocorreu durante feriado de Carnaval, conforme informou a empresa de tecnologia do governo paulista na ocasião. Inicialmente, a Prodesp havia informado que o militar tinha sido apenas afastado do posto.

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