A maioria da bancada capixaba em Brasília avalia que a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde causará prejuízos para o combate à pandemia do novo coronavírus. Parlamentares do Espírito Santo criticaram a postura de Jair Bolsonaro (sem partido), que reiteradamente manifesta a intenção de não seguir recomendações dos órgãos mundiais de saúde sobre o uso da cloroquina e o isolamento social, e afirmaram que o agora ex-ministro "defendeu a ciência". A opinião, no entanto, não é unânime, com declarações favoráveis ao presidente da República.
Teich, que tomou posse no cargo no dia 17 de abril, substituindo Luiz Henrique Mandetta, teve exoneração anunciada nesta sexta-feira (15). É a segunda mudança no ministério durante a pandemia. A saída dele ocorreu após a pressão de Bolsonaro para alteração dos protocolos para utilização da cloroquina. O presidente chegou a negar que Teich teria o mesmo futuro de Mandetta, demitido da pasta no mês passado.
O deputado federal Felipe Rigoni (PSB) avaliou que mais uma troca de ministro da Saúde, durante a pandemia do coronavírus, é "inacreditável". O parlamentar criticou o presidente, afirmando que Bolsonaro precisa "deixar os seus ministros trabalharem". "Uma irresponsabilidade total e que só piora o nosso cenário", escreveu Rigoni, no Twitter. "Menos ego e mais ciência", completou.
Médico, o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) agradeceu Teich por ter "defendido a vida e respeitado a ciência" dentro do governo Bolsonaro, e disse que a saída do ministro traz instabilidade e consequências negativas ao combate à pandemia. O parlamentar também afirmou que a saúde da população deve ser prioridade e, por isso, é preciso "deixar questões políticas de lado e colocar a vida em primeiro lugar".
O senador Fabiano Contarato (Rede) também apontou que Teich decidiu não abandonar a ciência, ao ser contrários às posições do presidente sobre a utilização da cloroquina desde os primeiros sintomas da doença e a flexibilização das medidas restritivas durante a pandemia.
"Ates de sair, [o ex-ministro] dizia a amigos que estava difícil conciliar os desejos do presidente (de uso da cloroquina e de flexibilização do isolamento). É mais um médico que não abandona a ciência e se insurge contra um presidente que, a cada dia, nos leva para uma situação insustentável. Estamos diante de grave uma crise de saúde, mas mais do que isso: de uma crise política que precisa de uma resposta (...). Não podemos nos calar diante de loteamento de cargos, de um militar submisso, ou de um político terraplanista e negacionista na pasta da Saúde", afirmou.
Para o deputado federal Helder Salomão (PT), o pedido de demissão do ministro da Saúde é reflexo do caos que o país vive durante a pandemia, com o comando do presidente Bolsonaro. "Que outro país tem um presidente tão irresponsável na condução do enfrentamento à crise sanitária? Que outro presidente vive provocando conflitos com Estados, municípios e com a sua própria equipe? Que outro país troca duas vezes o ministro da Saúde em plena pandemia?", questionou.
"A saída do ministro da saúde, hoje, é o reflexo do caos que o Brasil está vivendo, onde as vidas das pessoas e os empregos estão ameaçados. O presidente Bolsonaro não tem mais condições de governar o Brasil", completou. No Twitter, o parlamentar também defendeu o impeachment do presidente.
Em nota, Ted Conti (PSB) também criticou as interferências de Bolsonaro no Ministério da Saúde e disse que vê com preocupação a mudança na pasta. Apesar da crítica, o socialista diz torcer para que o próximo a conduzir a Saúde consiga desenvolver um bom trabalho.
"Lamento a saída de mais um Ministro da Saúde, em meio a esta pandemia. Nelson Teich é um profissional reconhecido na área da medicina e deixou o governo em menos de um mês. Vejo a mudança com preocupação. O Presidente precisa interferir menos para que o Ministro consiga implantar a forma de trabalho que julga mais importante para o Brasil. Mas vamos torcer para que o próximo a ocupar este cargo na Saúde consiga desenvolver um bom trabalho para o bem dos brasileiros."
Já o deputado federal Amaro Neto (Republicanos) evitou fazer críticas ao presidente Bolsonaro e pregou o diálogo e o equilíbrio para a elaboração de medidas de combate à Covid-19. "É inegável dizer que a saída do ministro da área mais sensível do governo, neste momento da pandemia, poderá causar algum prejuízo no combate efetivo ao coronavírus no país. Precisamos de diálogo, equilíbrio e união de forças para colocar de pé estratégias que assegurem a salvação de vidas e a manutenção das famílias brasileiras", afirmou.
O deputado federal Da Vitória (Cidadania) relembrou que é prerrogativa do presidente a escolha de quem vai ocupar cada pasta, mas ressaltou a importância da continuidade do trabalho na área da saúde. "É preocupante a segunda troca do ministro da Saúde em menos de um mês e durante a pandemia. Cabe ao presidente escolher e nomear seus ministros, mas é importante uma continuidade no trabalho para o enfrentamento ao novo coronavírus no país."
A deputada federal Lauriete (sem partido) também não fez uma análise sobre a postura do presidente, mas afirmou que não é o momento para o país ter obstáculos políticos. "O ministro da Saúde, Nelson Teich, deixou o cargo alegando discordâncias com o presidente. Infelizmente, é muito complicado no contexto de uma pandemia assustadora, o Brasil enfrentar obstáculos políticos. Não entro no mérito, mas em defesa da vida temos que focar na crise sanitária."
Norma Ayub (DEM) declarou, por nota, que se preocupa com as interrupções na gestão do Ministério de Saúde e que sente "muito a falta do excelente desempenho ex-ministro Mandetta" a quem elogiou pela postura firme a favor do isolamento social e proteção dos grupos de risco.
"Confesso que não tenho nem como avaliar o desempenho Ministro Nelson Teich. Acredito que ele tenha encontrado no Ministério da Saúde uma equipe já estruturada, e com um planejamento bem direcionado para o combate à Pandemia. Sinto ainda muito a falta do excelente desempenho do ex-ministro Mandetta, a quem rendo minhas homenagens pela postura firme e enérgica a favor do isolamento social, e a proteção especial aos idosos e demais grupos de risco de baixa imunidade. Me preocupa muito, que no meio desta guerra contra a Pandemia, tenhamos estas interrupções na gestão do Ministério da Saúde."
Na contramão das críticas da bancada, a deputada federal Soraya Manato (PSL), aliada do presidente, disse que a saída do ministro da Saúde se deve ao fato de que Teich "não estava de acordo com as questões relacionadas ao isolamento social e o uso da cloroquina no tratamento dos acometidos com Covid-19. Ele não estava de acordo com as ideias do governo Bolsonaro."
Vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, o deputado federal Evair de Melo (PP) afirmou que as decisões sobre isolamento social e uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19 não são decisões do ministro da Saúde declaração que vai de encontro com o que tem pregado o presidente, que esperava uma atitude mais enfática de Teich.
Frisando que o problema é de gestão, o parlamentar capixaba disse que Bolsonaro vai encontrar "um nome do tamanho do desafio". "Vida que segue", declarou no Twitter.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta