As eleições municipais entraram na reta final, provocando embates entre candidatos na Grande Vitória principalmente na Capital no horário eleitoral e nas redes sociais, mas muitos eleitores ainda desconhecem as alianças partidárias por trás de cada chapa. Só nas quatro maiores cidades do Espírito Santo Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica , são 48 candidatos a prefeito que dividem entre si o apoio de 30 dos 33 partidos registrados atualmente no país.
A Gazeta consultou as coligações formais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e identificou que, dos 48 candidatos, 25 estão na disputa nas chamadas chapas puro-sangue, que contam apenas com o seu próprio partido. Outros 23 fizeram alianças com outras siglas, formando coligações.
Apesar de haver coligações em que é possível notar o alinhamento ideológico entre os partidos, em muitos casos se identifica uma união de siglas de espectros políticos e ideologias bem diferentes quando comparados com os seus posicionamentos no âmbito nacional.
Em Vitória, por exemplo, o Cidadania (antigo PPS), partido historicamente de centro-esquerda, tem como candidato a prefeito o deputado estadual Fabrício Gandini e, como vice, o vereador Nathan Medeiros, que está no PSL, sigla que elegeu Jair Bolsonaro (hoje sem partido) em 2018 e que concentra políticos considerados de direita.
Na Serra, a Rede Sustentabilidade, também de centro-esquerda, tem como candidato a prefeito o atual vereador Fabio Duarte, que é apoiado pelo prefeito Audifax Barcelos (também da Rede), mas conta em sua coligação com o Patriota, sigla de direita que tem apoiado candidatos bolsonaristas pelo país.
Já em Vila Velha, o PDT, de centro-esquerda, está unido ao Patriota na coligação que tem como cabeça de chapa o ex-prefeito Neucimar Fraga (PSD).
Não entram nessa lista de alianças os apoios informais, que não foram registrados em convenção partidária e comunicados ao TSE, como é o caso do PT da Serra, que apoia informalmente a chapa de Sergio Vidigal (PDT), mas não está na coligação.
Para o cientista político Fernando Pignaton, essa mistura de espectros é uma consequência do pluripartidarismo do país e do "empreendedorismo político", com partidos que possuem "donos" tanto em âmbito federal como nos Estados e municípios e, assim, negociam apoios ou levam essas siglas para as coligações de seus aliados locais.
"O empreendedorismo político é um conceito do Luiz Werneck Vianna (sociólogo) que mostra que os partidos no Brasil viraram um tipo de empresa. É algo extremamente nefasto. Dessa forma, são feitas negociações com o dono do partido de acordo com os seus interesses eleitorais, na maioria das vezes não são alianças programáticas, em torno de um tema ou por ideologia, e sim pela conveniência", analisa.
Segundo Pignaton, esse cenário acaba tornando o voto uma difícil missão para o eleitor, uma vez que, na grande maioria dos casos, ele não tem uma identificação com um partido nem conhece o seu programa.
Nesse contexto, o cientista político defende uma ampla reforma política no país. "Em outros países há dois, três, ou no máximo cinco partidos. Fica muito mais fácil decidir. Nos Estados Unidos, por exemplo, é como se você tivesse um carro e pudesse optar por duas direções, direita ou esquerda. Já aqui no Brasil o sistema político é um Boeing de 33 botões que a gente não sabe ao certo para onde cada um leva. Ninguém sabe bem como escolher. Fica um localismo despolitizado na disputa dos municípios."
Já a quantidade de candidatos a prefeito em chapas puro-sangue está relacionada ao fim das coligações para eleições proporcionais (cargo de vereador) nesta eleição. "Sem as coligações, os partidos passaram a depender apenas de si para ter uma cota mínima dos votos e conseguir uma vaga. Então, mesmo que em muitos casos saibam que não terão chances de ganhar, eles acreditam que, lançando candidatos a prefeito, a legenda aparece mais e se cria um movimento político que ajuda (a eleger) os vereadores", pontua Pignaton.
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