Na manhã desta quinta-feira (28), o deputado estadual Lucas Polese (PL) apagou o vídeo que havia publicado em sua página no Instagram no qual admite que se recusou a fazer teste do bafômetro, ao ser parado em uma blitz dirigindo um carro oficial da Assembleia Legislativa, por ter bebido vinho, horas antes, em um jantar com o embaixador do Azerbaijão, Rashad Novruz. No entanto, A Gazeta já havia baixado esse vídeo na noite de quarta-feira (27), logo após a transmissão ao vivo ter sido publicada na rede social do parlamentar. A íntegra pode ser conferida acima.
O episódio, que ocorreu na madrugada de 6 de maio deste ano, foi alvo de denúncia por quebra de decoro parlamentar feita pela ONG Transparência Capixaba na Corregedoria da Assembleia Legislativa, que arquivou a investigação, no último dia 15, por falta de provas.
No vídeo, a partir do 7º minuto, o deputado admite que brindou uma taça de vinho com o objetivo de agradar o embaixador do Azerbaijão em um jantar realizado em restaurante na Praia do Canto, em Vitória. "Em determinado momento do jantar, o embaixador quis porque quis brindar com a galera lá uma taça de vinho. E nisso aí eu brindei com ele. Eu cometi o erro de brindar essa taça de vinho com ele, trabalhando. Infelizmente, pessoal. Eu estava querendo agradar o cara, trazendo recursos aqui para o ES, trazer investimentos, fazer parcerias, ser agradável, ser um bom anfitrião e brindei essa taça de vinho", relata.
Mais adiante, aos 11 minutos e 45 segundos, Polese admite que se recusou a fazer o teste do bafômetro e reconhece ter errado. "Eu, como tinha brindado uma taça de vinho com o embaixador antes, às 22h30, num jantar, eu não quis fazer. Eu peço desculpas a vocês por isso. Deveria ter feito diferente? Aprendi com esse erro que não posso dar mole? Aprendi. Deveria ter feito diferente, mas estava trabalhando. Por ter bebido essa taça, por não saber se ia ser pego ou não em um bafômetro, preferi não fazer, galera. Mas estava trabalhando. Preferi não fazer", afirma.
Na parte final, aos 28 minutos, o deputado disse que manteria o vídeo publicado em sua página pessoal no Instagram. "Vou deixar essa live pública no meu feed para quem mais quiser ver. Se vocês puderem compartilhar, agradeço muito", disse. O vídeo, de fato, foi disponibilizado pouco depois, mas acabou sendo apagado horas depois.
Demandada pela reportagem a respeito do vídeo em que Polese admite que se recusou a fazer o teste do bafômetro, durante a blitz em maio, por ter bebido vinho em um jantar horas antes, a Assembleia Legislativa informou que não há, até o momento, nenhuma nova representação contra o deputado. "Se apresentada, receberá o devido processamento com respeito às garantias inerentes ao cidadão, à sociedade capixaba e também ao deputado", afirma a nota.
A Assembleia acrescenta que a representação anterior contra Polese, movida pela Transparência Capixaba, foi arquivada após manifestação da Procuradoria-Geral e da Corregedoria-Geral do Legislativo. "Visto que ambos os órgãos entenderam que não havia nos autos a 'justa causa' (materialidade e tipicidade) necessária para eventual configuração de 'quebra de decoro parlamentar', notadamente em razão de o deputado estar usando o veículo em missão oficial e que uma 'infração de trânsito' não configura, necessariamente, 'quebra de decoro parlamentar'", diz a nota.
A assessoria de Lucas Polese foi demandada para explicar o motivo de o vídeo ter sido apagado no Instagram do deputado, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
O deputado Lucas Polese (PL) foi multado em uma blitz da Lei Seca na madrugada de 6 de maio na Praia do Canto, em Vitória, com o carro oficial da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Ele se recusou a fazer o teste do bafômetro e teve que chamar outro condutor para levar o carro.
Segundo o auto de infração, ele foi abordado por volta de 1h30, na Avenida Saturnino de Brito, próximo ao Bob's. Polese conduzia um Toyota Corolla com placas de Minas Gerais. Segundo a Assembleia, o veículo faz parte do contrato de locação da frota que atende aos deputados. Especificamente o veículo de placas RTK8C32, que estava com Polese quando foi parado na blitz, foi designado ao gabinete dele na última sexta-feira (5).
Em nota divulgada à época, o deputado disse que estava concluindo agenda oficial quando foi parado. "Ao solicitar que fizesse o teste de bafômetro, optei por declinar, conforme fui orientado previamente pelo meu jurídico", explicou Polese na nota.
A ONG Transparência Capixaba acionou a Corregedoria da Assembleia Legislativa para apurar se o deputado infringiu o Código de Ética e Decoro Parlamentar ao supostamente dirigir o carro oficial sob efeito de álcool. De acordo com a Corregedoria, Polese apresentou documentos que comprovaram que ele utilizou o veículo, no dia em que foi parado na blitz, para cumprir agenda com o embaixador do Azerbaijão, Rashad Novruz.
A denúncia feita pela ONG foi arquivada pela Corregedoria da Assembleia, no último dia 15, por falta de provas. Segundo relatório do deputado Mazinho dos Anjos (PSDB), relator do caso na Corregedoria, não havia provas de que Polese tenha cometido alguma irregularidade naquela ocasião, já que o deputado e o setor de Transportes da Assembleia alegaram não ter recebido qualquer autuação ou notificação referente àquela blitz. O relator diz ainda que não há nos autos qualquer comprovação da realização de "teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal, mas somente a afirmação de que o agente policial teria descrito 'odor etílico' no momento da abordagem".
Demandada por A Gazeta, a Assembleia Legislativa informou, na última terça-feira (26), que, até aquela data, a Supervisão de Transportes, responsável pelo contrato de locação de veículos oficiais, ainda não havia sido notificada pela locadora acerca do auto de infração.
A multa chegou para a empresa Localiza, com quem a Casa tem contrato de prestação de serviço de fornecimento de automóveis oficiais. A empresa foi demandada por A Gazeta, mas não se manifestou até a publicação deste texto.
O Detran-ES, por sua vez, informou, por meio de nota, que a notificação do auto de infração de trânsito foi expedida pelo órgão no dia 6 de junho e entregue pelos Correios no dia seguinte, 7 de junho, ao proprietário do veículo – no caso, a Localiza. E acrescenta que a notificação de penalidade foi expedida por meio do Sistema de Notificação Eletrônica (SNE) no dia 24 de agosto, também direcionada à empresa, com a multa tendo sido paga no dia 30 de agosto.
Esta reportagem foi atualizada com nota enviada pela Assembleia Legislativa.
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