Os candidatos a prefeito de Vitória que continuam na disputa no segundo turno, Delegado Pazolini (Republicanos) e João Coser (PT), se enfrentaram na segunda-feira (23) no debate promovido por A Gazeta e CBN Vitória. Durante mais de uma hora de confronto, eles apresentaram propostas, mas não deixaram de lado ironias e críticas. O Passando a Limpo, serviço de fact-checking de A Gazeta, analisou as declarações dos candidatos e checou as que trazem informações objetivas, baseadas em fatos e dados, que podem ser verificados com base em documentos e imagens. Opiniões não foram selecionadas.
Foram checadas três frases de cada candidato. As declarações são classificadas de acordo com o método já utilizado por A Gazeta nas eleições de 2018, que leva em conta os sete selos listados abaixo.
A checagem de discurso será feita com todos os candidatos da Grande Vitória neste segundo turno para que os eleitores tomem decisões com base em informações verificadas. Em cada checagem são disponibilizados links para que os leitores possam também checar as fontes dos dados.
Não se sustenta a declaração de Pazolini de que as três entidades citadas, o Conselho Regional de Enfermagem, o Conselho Regional de Medicina e a Associação dos Médicos, manifestaram apoio à ida, no dia 12 de junho, de um grupo de deputados estaduais ao Hospital Dório Silva em junho (incluindo o candidato). Nenhuma delas publicou algum documento ou emitiu publicamente comunicado defendendo os parlamentares, conforme o Passando a Limpo constatou após pesquisas e consultas aos órgãos citados. O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES), inclusive, nega enfaticamente ter apoiado o ato.
Nota publicada pelo Coren-ES nesta terça-feira (24) em seu site, assinada pela presidente do Conselho, Andressa Barcellos, afirma que a autarquia "não teve nenhuma participação e jamais se posicionou favorável ao ato dos parlamentares" e que considerou a ação "uma afronta aos profissionais de Enfermagem, aos doentes internados e à sociedade em geral".
O Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), na época do ato dos deputados, manifestou-se em nota cobrando respeito aos pacientes e aos profissionais de saúde. "O Brasil vive um momento grave demais para que as autoridades públicas e a sociedade em geral percam tempo ampliando a tensão política nacional", diz o comunicado do CRM-ES, que também afirma que representantes do Conselho se reuniriam com a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa e com os médicos que trabalham no Hospital Dório Silva para "discutir e refletir sobre a gravidade da situação naquela unidade e no Espírito Santo".
O Passando a Limpo procurou o CRM-ES novamente nesta terça-feira (24) para checar a afirmação do candidato. O Conselho informou que não estava presente na ida ao hospital, embora "não condene tal atitude por entender que trata-se de uma prerrogativa dos deputados". O CRM, no entanto, não defendeu publicamente o ato dos parlamentares. Em junho, cinco dias após a ida dos deputados ao Dório Silva, o CRM publicou em seu site que se reuniu com deputados para ouvir "denúncias" dos parlamentares e de médicos que atuam no local, mas no texto a entidade não citou a ida da comitiva ao hospital nem endossou a atitude.
A Associação dos Médicos do Espírito Santos (Ames) também foi questionada por A Gazeta ainda em junho sobre a ação dos deputados, mas a entidade não se manifestou. Ao longo desta terça-feira (24), a Ames foi procurada novamente pelo Passando a Limpo, mas não enviou nenhum posicionamento à reportagem.
O Passando a Limpo checou que é verdadeiro que Coser disse frase com esse teor em um debate, realizado pela Associação de Pastores Evangélicos de Vitória (Apev), ainda no primeiro turno, no dia 29/10, quando afirmou que todos os investimentos que depender de mim não virão mais para cá, vão pra lá (sic)" (isso pode ser conferido a partir do minuto 43 da transmissão). O "lá" a que Coser se referia era "às regiões mais vulneráveis da cidade". O "cá", onde ele estava no momento, era Jardim da Penha, bairro da Região Continental da cidade. Ou seja, naquela ocasião Coser disse que, no que dependesse dele, todos os investimentos iriam para as regiões mais vulneráveis de Vitória.
Mas... questionada pelo Passando a Limpo, a assessoria do candidato Pazolini não apresentou qual seria o outro debate em que uma declaração no mesmo sentido teria sido dita por Coser. No entanto, a reportagem pesquisou e localizou um outro debate em que o tema voltou a ser citado pelo petista. Mas, na ocasião, ele se expressou de outra maneira. No encontro realizado no dia 22 de novembro, em uma igreja de Jardim da Penha, também promovido pela Apev, Coser falou em "fazer maiores investimentos lá" (minuto 26 da transmissão), nas regiões vulneráveis, e não "todos", como havia dito no debate anterior. Afirmou também que seu "foco é da Leitão da Silva para lá".
No debate desta segunda-feira promovido por A Gazeta e CBN Vitória, após a declaração de Pazolini citada nesta checagem (a de que Coser "não vai investir R$ 1 na região continental da cidade"), Coser voltou a dizer que pretende priorizar a periferia, mas também faria investimentos na parte continental.
A afirmação é verdadeira, de acordo com o último dado público disponível. Reportagem de A Gazeta do dia 18 de setembro mostrou que 79 agentes comunitários da Guarda Municipal estavam com o porte de arma vencido, o que os impedia de atuar nas ruas da Capital. A quantidade equivale a um terço do total de agentes que atuam armados em Vitória.
A Gazeta apurou, na ocasião, que os portes de arma estavam em processo de renovação pela prefeitura e que esse procedimento atrasou em função da pandemia de Covid-19.
Nesta terça-feira (24), o Passando a Limpo procurou a Prefeitura de Vitória para verificar a situação atual. Foi informado que o número de agentes que atualmente está sem o porte de arma é de 32. Porém, considerando que o dado citado pelo candidato Pazolini levou em conta a última informação pública disponível até então, a declaração dele no debate foi classificada como verdadeira.
A obra da Fábrica de Ideias foi iniciada por Coser em seu primeiro mandato na Prefeitura de Vitória, em 2005, quando foi comprada a antiga Fábrica 747, mas a obra só foi concluída nove anos depois, quando ele não era mais prefeito, conforme publicou A Gazeta em junho de 2014. Por isso a declaração do candidato foi classificada como exagerada, quando a informação segue uma linha coerente, mas é dotada de exagero.
A construção seguiu no segundo mandato de Coser, que se encerrou em 31 de dezembro de 2012, e só foi entregue e inaugurada em 1º de julho de 2014, ou seja, já no segundo ano da gestão de Luciano Rezende (Cidadania), conforme registrou a reportagem da Rádio CBN Vitória na época.
Nas duas administrações de Coser, a entrega da obra foi prometida seis vezes. No segundo semestre de 2014, quando ela foi entregue, o então secretário Municipal de Turismo, Trabalho e Renda, Leonardo Krohling, explicou, em entrevista para A Gazeta, que foi necessário aprovar as contas do que foi executado na gestão anterior para que o governo do Estado liberasse mais verba para a conclusão da obra.
Ficamos oito meses trabalhando na prestação das contas, disse o secretário, na ocasião. Com as contas aprovadas, o governo liberou mais R$ 5 milhões para a obra, que se somaram a outros R$ 5 milhões, repassados na gestão anterior. O projeto original não mudou durante esses nove anos.
É verdadeiro. De fato, em 2012, último ano da gestão de Coser, Vitória foi a Capital que obteve a melhor nota em índice criado pelo Ministério da Saúde para mensurar o desempenho da saúde pública, conforme mostrou A Gazeta na época.
A reportagem se baseou em dados apontados pelo Índice de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (IDSUS), pesquisa do Ministério da Saúde que considerava 24 indicadores.
No IDSUS, a Capital obteve nota 7,08, numa escala que variava de 0 a 10 para medir "o grau com que os serviços e ações de saúde estão atingindo os resultados esperados", segundo explicou o Ministério da Saúde à época.
Vitória foi o "único dos municípios de maior porte a ter nota acima de 7 no IDSUS", segundo noticiou o jornal O Globo. A cidade integrava um grupo com 21 outras capitais. Em 2012, a pesquisa era uma iniciativa inédita do ministério e levava em conta dados entre 2008 e 2010, ou seja, também da gestão de Coser na Prefeitura de Vitória.
É verdadeiro que a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Jucutuquara, foi roubada enquanto Pazolini era o titular em exercício da unidade em 2015. Mas... em um segundo roubo, em 2018, Pazolini estava licenciado da função de delegado para concorrer às eleições daquele ano.
Pazolini foi designado como titular da DPCA em janeiro de 2015, conforme o Passando a Limpo checou no Diário Oficial do Estado. O primeiro caso de roubo na delegacia foi em junho de 2015, quando a unidade foi invadida e teve uma metralhadora roubada, como registraram reportagens na ocasião.
Já em 2018, a DPCA foi arrombada e armas foram levadas, como mostrou o G1 ES no dia 09/07/2018, uma segunda-feira, quando a delegacia foi encontrada com sinais da invasão. A investigação da Polícia Civil identificou os suspeitos e apontou que o roubo aconteceu no fim de semana, entre os dias 7 e 8 de julho, como destacou A Gazeta. Porém, exatamente a partir do dia 07/07/2018 passou a valer o período de licença do delegado Pazolini para concorrer às eleições, afastamento que foi até 07/10/2018.
Colaboraram: Ana Clara Morais, Rafael Freitas e Iara Diniz.
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