Recém nomeado como um dos vice-líderes do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, o deputado federal do Espírito Santo Evair de Melo (PP) não economizou críticas aos governadores e prefeitos do Brasil, que, em sua visão, demoraram muito para tomar medidas de combate ao coronavírus. O erro, segundo o parlamentar, teria levado Estados e municípios a adotar medidas muito enérgicas de isolamento social.
A nomeação de Evair como vice-líder e, portanto, representante do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso Nacional, foi publicada nesta quinta-feira (7) no Diário Oficial. O próprio presidente, no entanto, minimiza desde o início os riscos da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, comparada por ele a uma "gripezinha" ou "resfriadinho".
Nesta sexta-feira (8), em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, o deputado frisou que os governos devem reconhecer seus erros diante da pandemia e também afirmou que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) cometeu equívocos.
"Eu acho que nós entramos muito mal nessa questão em função de ter, na verdade, o mundo todo com muito pouca experiência em fazer uma quarentena, uma proteção dessa maneira. Portanto, eu divirjo da maioria dos governadores, que agora estão desesperados querendo tomar atitudes muito enérgicas. Portanto, eles entraram atrasados nessa questão. Eu estarei pronto para ter uma posição muito clara (no Congresso) e tecnicamente definida, porque há divergências nesse tema, para fazer o que for melhor para preservar a vida, os negócios e o futuro do Brasil", declarou.
O deputado apontou ainda, que governadores e prefeitos deveriam ter consultado especialistas de outros setores, como técnicos da agropecuária - setor sobre o qual o deputado tem forte atuação - para a implantação de barreiras sanitárias desde o início do mês de fevereiro.
"Se os governadores e prefeitos tivessem escutado profissionais de outras áreas, nós teríamos entrado melhor nessa questão. Quarentena não é cadeia. Nós devíamos ter investido desde o início de fevereiro na implantação de barreiras sanitárias e na conscientização da população", argumentou.
No mês passado, A Gazeta questionou integrantes da bancada capixaba em Brasília quanto ao posicionamento sobre isolamento social. Somente uma parlamentar se disse contrária à medida. Evair, na ocasião, não se manifestou.
O deputado é do PP, partido que integra o Centrão na Câmara, que agora se aproxima de Bolsonaro. Evair, entretanto, é bolsonarista há bem mais tempo, defende o presidente desde o início do mandato. O Centrão, famoso pela fome por cargos, tem negociado vagas no governo. Mas vice-líderes não recebem verba extra. O salário de deputado permanece o mesmo, R$ 33,7 mil brutos. Exercer a função. no entanto, é uma demonstração de prestígio. O governo Bolsonaro tem outros 13 líderes na Câmara.
Apesar de Evair de Melo não citar a quais governadores e prefeitos se refere ao falar do combate ao coronavírus, sua posição vai de encontro ao governador Renato Casagrande (PSB), que defende a manutenção do isolamento social para o controle da pandemia de Covid-19 no Espírito Santo, conforme defende grande parte dos especialistas e instituições da área da saúde, como a OMS.
O governador, inclusive, já se manifestou publicamente contrário ao posicionamento do presidente Jair Bolsonaro frente à crise, afirmando, por exemplo, que o presidente tenta transferir a responsabilidade do problema para os Estados.
Embora tenha pontuado que, em sua visão, os governos cometeram erros, Evair não deixou claro qual será seu posicionamento na Câmara dos Deputados em relação à pandemia, principalmente ao isolamento. Bolsonaro já defendeu publicamente a flexibilização da quarentena para que a economia não seja prejudicada.
Ainda assim, Evair admitiu a possibilidade de que, neste momento, medidas mais drásticas de isolamento tenham que ser tomadas.
"Em algum momento pode ser que tenhamos que ser um pouco mais enérgicos no sentido de fazer os fechamentos, o que é muito ruim na verdade", disse.
O governo estadual foi procurado pela reportagem para comentar as críticas feitas por Evair de Melo, mas ainda não respondeu aos questionamentos.
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